Uma Análise Limitada das Eleições Brasileiras
18 de outubro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: artigo publicado no The Economist, o artigo não conseguiu captar os aspectos relevantes da atual eleição brasileira, possível perda de importância mundial do Brasil
Tudo indica que The Economist, no seu artigo na edição do próximo fim de semana, não conseguiu captar os aspectos relevantes do que está acontecendo no Brasil, com as atuais eleições. No primeiro turno, houve uma forte mudança dos congressistas eleitos fazendo com que antigos líderes não conseguissem se reeleger, num percentual surpreendente, revelando a insatisfação do eleitorado com eles. Jair Bolsonaro, sem nenhuma campanha de expressão, por ter sido atingido por uma facada conseguiu encarnar esta contrariedade popular e participa do segundo turno com uma grande diferença em relação a Fernando Haddad, segundo as pesquisas de opinião recentes. Mesmo que o discurso do favorito seja radical de direita. Não se trata simplesmente do antipetismo, ainda que isto também esteja colaborando, como dá a entender aquela revista internacional.
Jair Bolsonaro e Fernando Haddad disputam o segundo turno das eleições para presidente da Republica, com as pesquisas eleitorais dando uma larga vantagem para o primeiro
A insatisfação do eleitorado não se restringe às últimas administrações dos petistas, mas envolve muito da classe política que vem usufruindo vantagens ainda que a economia brasileira esteja numa situação complicada. É evidente que Fernando Haddad não possui o carisma desejado, sendo considerado somente um boneco do ventríloquo que seria o Lula da Silva. Até que a bancada petista conseguiu se manter ainda como a maior no Congresso, mesmo que tenda a um esvaziamento futuro, notadamente com a cláusula de barreira atualmente vigente, que deve atrair os que pertencem a legendas que não encontram condições para a sua sobrevivência.
Não se pode antecipar por ora qual vai ser o resultado do novo governo que assume no início do próximo ano. Os programas não estão suficientemente claros e as equipes disponíveis pelo possível governo de Jair Bolsonaro terá que enfrentar dificuldades objetivas imensas, com uma população que abusou do uso de recursos que não foram produzidos. Num cenário internacional adverso, para qualquer governo o desgaste seria inevitável, mas não existe ainda uma comprovação do que pode acontecer com um grupo que não possui uma longa experiência no Executivo.
Também existem muitas limitações no Judiciário que não permite total liberdade mesmo para um novo governo eleito com votação expressiva. Os funcionários públicos que consumem recursos substanciais com suas vantagens contam com meios para preservar seus privilégios. Mesmo com um presidente da República determinado, as reformas indispensáveis serão muitas e de implementação difícil por um longo período. Certamente, um candidato petista que não conseguiu formular uma aliança nacional também teria dificuldades semelhantes, até maiores, pois seus componentes contam com resistências das demais forças políticas, inclusive do empresariado.
Como as principais revistas e jornais internacionais, também o The Economist parece estar restringindo seus gastos com jornalistas, fazendo com que se socorram de outros locais que também possuem uma capacidade limitada de compreensão de muitos problemas brasileiros, atingidos pela crise que afeta a todos.