Antes Tarde do que Nunca
22 de fevereiro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias
Ainda que Jair Bolsonaro, como capitão reformado, não tenha feito o curso de Estado Maior, ele já devia saber com os seus colegas que chegaram a generais que o sistema exige um responsável pelas informações, para um funcionamento adequado. Governar é mais complexo que uma guerra e todas as informações com as quais se pode contar para serem utilizadas, como também os adversários que devem ser enfrentados, precisam ser adequadamente conhecidas, sem nenhuma subestimação, como já ensinavam os chineses há mais de um milênio.
Presidente Jair Bolsonaro, na reunião com os parlamentares, anuncia a formação do “banco de talentos” para preencher o segundo escalão do governo. Foto do artigo no Estadão que vale a pena ser lido na íntegra
Este banco de talentos deveria ter sido instalado logo após a sua decisão de disputar eleitoralmente a Presidência, antes mesmo da formação da equipe de transição, pois conhecer o passado dos membros a serem escolhidos necessita de informações sobre o seu currículo, também útil para a escolha de ministros, para não ser apanhado posteriormente por uma surpresa. Este sistema ficou desmoralizado com o longo período autoritário no Brasil, onde os abusos eram exagerados.
Nunca as informações acumuladas serão perfeitas, mas os problemas mais graves devem ser de conhecimento dos que decidem pelas escolhas, pois posteriores demissões implicam em desgastes consideráveis. Não existe nenhum governo que não tenha um serviço de informação, acontecendo que muitos dos dados não sejam usados adequadamente pelos eleitos, mesmo nas mais tradicionais democracias.
Mesmo nas questões cruciais como a da Previdência Social, há que se dispor do máximo de informação, tanto com o que o governo dispõe para a negociação, como os muitos obstáculos que deverão ser transpostos. Subestimar o poder dos funcionários públicos pode provocar um desastre, piorando mesmo um plano que seja bom.
Parece desejável que os objetivos possíveis sejam devidamente estabelecidos, pois o que decorreu das campanhas eleitorais, ainda que importantes, são indicações de diretrizes. Os objetivos devem ser paulatinamente detalhados, bem como as estratégias que serão utilizadas para se chegar a elas, utilizando-se os instrumentos do qual o governo dispõe. Contar com uma equipe de ex-militares pode contribuir muito, pois eles foram treinados para obedecer à hierarquia, com muita disciplina, ainda que possam ter suas opiniões individuais. Depois de decidido pelo presidente, após uma discussão dos seus principais auxiliares, há que se fazer todo o possível para superar os obstáculos que são muitos.
Muitos atribuem que o governo já sofreu alguns tropeços no seu inicio de funcionamento, até porque o presidente se recuperava de um grave problema provocado pela tentativa de seu assassinato. Mas agora a bola já está em jogo, com um projeto ousado de reformulação da Previdência Social que muitos especialistas consideram de boa qualidade, mas de extrema dificuldade para ser aprovado pelo Congresso Nacional.
O Brasil encontra-se numa situação precária, necessitando de um governo que obtenha sucesso na maioria de suas empreitadas. Entre os componentes de sua equipe de ministro, existem personalidades discutíveis que, com o transcorrer do tempo, podem ser substituídos por outros mais convenientes. A sociedade brasileira, por mais transparência que deseje, deve estar consciente que o governo dispõe de mais informações e instrumentos, notadamente no seu período inicial do seu mandato, e os desgastes são naturais na medida em que sempre terão os que serão atingidos nos seus privilégios.