Exageradas Reações Emocionais no Aumento dos Incêndios
27 de agosto de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: exageros nas reações bombásticas, necessidade de redução das colocações emocionais, necessidade premente de recursos e uma política de horizonte mais longo, problemas difíceis de serem resolvidos com o aumento das secas
Todos que acompanham o noticiário internacional com algum cuidado estão constatando que as colocações emocionais sobre os incêndios estão exageradas, havendo necessidade de baixar o tom das discussões para não se agravar uma situação que já é de extrema complexidade. A atual ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina, está entre as mais sensatas nestas discussões demasiadamente polarizadas, que viraram moda no mundo.
Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, uma das mais sensatas na discussão sobre as queimadas atuais
Os dados históricos disponíveis, como do INPE, mostram que os incêndios na Amazônia ocorrem no Brasil em todos os períodos de seca, sendo que, depois de uma tendência para a sua redução ao longo de anos, está havendo novamente uma propensão de sua substancial elevação. Muitos atribuem parte deste fato aos discursos do atual governo do presidente Jair Bolsonaro que dão maior importância à exploração extensiva, muitos ilegais, quer seja da mineração, da extração da madeira como ampliação inicial da pecuária precária, para depois serem transformados em produtores de cereais de forma não sustentável ao longo do tempo.
Foto recente da NASA sobre as fumaças decorrentes dos incêndios na Amazônia
O atual governo de Jair Bolsonaro atribui parte destes incêndios que aumentaram à ação de ONGs e até de autoridades estaduais que estariam interessados em recursos adicionais para o seu combate, ou no exterior para evitar produções que se voltariam contra seus mercados, o que soa como um exagero. Outros entendem que o Fundo da Amazônia vem sendo bem administrado pelo BNDES, sendo difícil ser conduzido dadas as dificuldades naturais de uma extensa floresta.
O fato concreto é que as medidas de identificação rápidas dos focos de incêndio vinham provando avanços. Tudo indica que houve um ponto de inflexão com os novos discursos do governo atual, ainda que possa se atribuir parte do problema a uma seca mais acentuada neste ano.
Com as limitações de toda ordem, as tendências naturais acabam sendo a de se atribuir as dificuldades aos outros. Sem uma política consistente no longo tempo, parece que a sua redução será sempre um problema difícil, contribuindo, lamentavelmente, ao lançamento de CO² na atmosfera e afetando todo o mundo. A tendência atual do governo brasileiro é enfatizar que se trata de um território brasileiro, não havendo que se contar sequer com recursos externos para a sua redução, mesmo que afete a saúde de toda a humanidade.
As medidas anunciadas até o momento, como a mobilização de alguns milhares de militares, com a ajuda de equipamentos vindos até do exterior, parecem ser de efeito limitado. Além da consciência da população local, as medidas legais de punição dos criminosos necessitam ser consistente ao longo de muito tempo, o que não vem ocorrendo e nem aparenta ser um objetivo relevante. A pressão internacional, além da alocação de recursos, pode ajudar momentaneamente, havendo que se criar uma cultura para tanto, o que parece difícil no momento, quando as autoridades estão premidas pelos problemas que consideram mais cruciais. Há que se entender que não se trata de um problema militar.
A Amazônia é importante para o mundo. A imagem atual do governo no tratamento do problema não é das melhores. Uma campanha diplomática desviando o foco do problema não parece ser a melhor solução. A opinião pública brasileira e no exterior mostrou que o problema é sensível a todos, podendo mobilizar forças e recursos importantes que podem ajudar, no mínimo, numa nova mudança de tendência, pois os criminosos são uma pequena minoria, e principalmente os bons agricultores e pecuaristas brasileiros estão interessados no aumento da eficiência dos seus trabalhos, com o uso de novas tecnologias que permitam o desenvolvimento sustentável de suas atividades.