Morreu Lázaro de Mello Brandão do Bradesco
18 de outubro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: braço direito do fundador Amador Aguiar, figura importante na história dos bancos brasileiros, só superado pelo Itaú-Unibanco pela sua fusão, trabalho árduo e minucioso por muitas décadas
Há muitos observadores que acham que o Bradesco sempre foi um banco dos bancários e não de banqueiros. Fundado por Amador Aguiar, Lázaro de Mello Brandão, com quem convivi por muitos anos, tinha começado sua carreira como mero escriturário. Chegou à Presidência do Bradesco e à Presidência do seu Conselho Deliberativo, tendo contribuído decisivamente para a formação de um banco que sempre se voltou aos pequenos clientes, correntistas ou empresários. Sempre foi modesto não aparentando ser o principal executivo do maior banco privado brasileiro. Para chegar a operar no exterior, demorou muito. Vai deixar muitas saudades.
Faleceu Lázaro de Mello Brandão, um sinônimo do Bradesco, com 93 anos
Quando cheguei a diretor do Banco Central do Brasil, o Bradesco era o principal banco privado que operava com crédito rural. Discutimos muito e sempre havia um grupo de bancários que, a meu pedido, analisavam o que o Brasil deveria fazer e suas experiências eram importantes para que não fossem impostas medidas geradas somente nos gabinetes refrigerados. Havia que se conhecer realmente o que acontecia no interior brasileiro e eles sabiam profundamente todas as necessidades e seus detalhes.
Mesmo quando Brandão chegou à Presidência do Banco, continuou o mesmo modesto bancário, ouvindo atentamente o que o governo imaginava fazer para ajudar a agricultura brasileira. Nunca senti um gesto de arrogância e sempre que ia à Cidade de Deus, onde ficava a sede do Bradesco, as secretárias providenciavam imediatamente os nossos contatos que eram frequentes, mesmo quando já estava fora do governo. Aprendi muito com ele e seus auxiliares o que deveria continuar a ser feito pelas chamadas “autoridades monetárias”, que poucas vezes percorrem pelo interior, mantendo contactos com os pequenos agricultores.
Há no Brasil também banqueiros, muitos descendentes de famílias privilegiadas que, por terem sido formados em ambientes refinados, tinham dificuldades para descer até o rés do chão, onde atuam os seres humanos comuns. Estes contatos próximos, entre pessoas que se confiam, são muito relevantes, não se restringindo às formalidades.
Os muitos bancários que se formaram no Bradesco aprenderam com bom senso as lições que lhes foram ensinados pelas práticas. Os hábitos que existem entre estes funcionários foram herdados dos exemplos dados por bancários veteranos como o Brandão. Trabalhar intensamente desde cedo, independentemente dos horários formais é um dos muitos deles. Ainda que os salários sejam legítimos e importantes, a satisfação proporcionado pelo trabalho bem executado tem uma grande qualidade adicional. Eles não podem ser executados por computadores ou até robôs, pois incluem também as marcas humanas que são relevantes. Brandão nos deixou muitas preciosas lições que esperamos que continuem sendo transmitidos pelos veteranos para os mais jovens.