Será que Milagres Existem?
7 de novembro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as reformas propostas pelo governo, oposição desarticulada no Congresso, reverter uma situação precária de articulação do governo
O atual governo brasileiro, que até o momento se mostrou no mínimo confuso, enviou ao Senado Federal três medidas de reformas constitucionais e deverá mandar mudanças adicionais à Câmara dos Deputados. Existe um ditado popular afirmando que quem tudo quer nada tem. Apesar de muitas reformas serem indispensáveis, seria desejável uma maior unidade dentro do próprio Executivo e uma articulação adequada com o Congresso para que estas reformas sejam aprovadas de forma razoável, não exigindo grandes barganhas que vieram sendo observadas recentemente, desfigurando projetos originais. O mínimo que se pode esperar é uma demorada discussão no Congresso, sendo difícil que seja aprovada ainda neste ano, como pretendido pelo governo.
Presidente Jair Bolsonaro entrega pessoalmente ao presidente do Senado Federal os projetos com reformas constitucionais
Existem entre as crianças aquelas que acreditam que se gritando “Shazam” as pessoas se transformam em super-homens. Os mais experientes, diante do desempenho que o governo revelou até agora, as medidas como da reforma da Previdência exigiram uma substancial barganha política, que somente em parte seria cumprido pelo governo. Para que o gigantesco desequilíbrio fiscal existente, há que se promover fortes cortes, até nos recursos voltados para as atividades essenciais como a saúde, educação e pesquisas, ao mesmo tempo em que receitas tributárias adicionais necessitariam ser providenciadas. Em economia, existem restrições físicas e, se efetivadas estas medidas, a tendência seria de queda da atividade econômica, com a redução da demanda interna, que só pode ser neutralizada pelo aumento das exportações.
O governo conta com grandes ágios nas licitações de novos lotes no pré-sal que seriam utilizados para diversos dispêndios, mas as empresas petrolíferas tradicionais e multinacionais não se sentem entusiasmadas com as condições impostas, exigindo que a Petrobras compareça de forma expressiva. Os problemas de derramamento de petróleo nas proximidades do litoral brasileiro, que demora demasiadamente para se identificar claramente o que aconteceu, acabam demonstrando as fragilidades brasileiras na defesa das plataformas em alto-mar.
Mas muitos acreditam que Deus é brasileiro e até o ministro Paulo Guedes utilizou uma pulseira com citações bíblicas. A exagerada mistura da religião com o governo não parece ser a medida mais conveniente. As medidas cogitadas destinam-se a resultados de longo prazo e os empresários internacionais concordam que o Brasil tem possibilidades no futuro, mesmo com resultados imediatos dependendo de muitos fatores, inclusive a melhora na economia mundial.
Há que se concordar sempre que em economia o otimismo acaba ajudando muito mais que o pessimismo ou realismo. Os brasileiros, que contam com privilegiados recursos naturais, costumam ser movidos pela emoção e mesmo, com muitos vizinhos latino-americanos estarem passando por crises de graves manifestações populares de insatisfação, aqui no Brasil, até agora, não foi contagiado mesmo pelas disseminações das informações rápidas dos meios eletrônicos de comunicação.
No balanço geral do que vem acontecendo, parece possível contar com um otimismo cauteloso, que se mostra estar ocorrendo no varejo visando o final do ano, mas devendo-se não exagerar.