Médica Brasileira que Ficou Isolada Duas Vezes
24 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: contraiu coronavírus trabalhando no Hospital das Clinicas da USP, doutora Ho Yeh Li (47) foi buscar a primeira leva de brasileiros em Wuhan na China, entrevista para Natália Cancian da Folha de S.Paulo, formada na USP em infectologia | 2 Comentários »
Ho Yen Li nasceu em Taiwan, veio criança para o Brasil, naturalizou-se brasileira e é a coordenadora da UTI de infectologia do Hospital das Clínicas da USP. Fez parte da equipe de médicos que foram transferir os brasileiros que estavam em Wuhan, na China, e ficou isolada em Anápolis, Goiás, pela primeira vez. Trabalhando, contraiu o coronavírus, mas conseguiu se recuperar na segunda vez. Com a sua autoridade, afirma que os brasileiros ainda não entenderam a gravidade desta pandemia, que certamente não é um resfriadinho.
A médica Ho Yeh Li, coordenadora da UTI de infectologia do Hospital das Clínicas da USP, em foto constante do artigo na Folha de S.Paulo, que vale a pena ser lido na íntegra
Na entrevista resumida por este site, ela afirma: “Eu mesma que fiquei internada precisando de tanto tempo para me recuperar mostra que realmente essa não é uma gripezinha”. Para ela, as pessoas ainda não entenderam a gravidade desta doença. “Estamos toda semana aumentando os leitos de UTI. Mas isso tem limite”, fazendo um apelo pela adoção de medidas de prevenção da população.
Ela afirma que quando em Wuhan tinham dúvidas sobre a futura evolução da doença, o que se confirmou quando a pandemia chegou à Itália. Sabiam que os profissionais corriam riscos, pois não existiam vacinas nem medicamentos comprovados, havendo uma grande preocupação na segurança dos médicos e enfermeiras.
No começo, muitos ficaram contaminados, pois não se sabia da necessidade de máscaras e outros cuidados e os profissionais se movimentavam pelas dependências dos hospitais. Ela ficou doente em 2 de abril, ficando acamada por sete ou oito dias, com febre, dor de cabeça, dor no corpo. Tomava antitérmico, mas a febre voltava. Também teve perda de paladar e olfato, que só voltou no 15º dia. A maioria dos pacientes sente falta de ar e, com as dores, havia dificuldade de sedar os pacientes na UTI. Eles recebiam ventilação mecânica.
Depois de recuperada, ela voltou a trabalhar, mas cansava-se mais rapidamente. Apesar de saber que a doença chegaria a outras regiões do país, não havia estrutura preparada para o seu atendimento, tanto em materiais indispensáveis como recursos humanos. Isto já aconteceu em Manaus como em Fortaleza.
A população em Wuhan colabora e em 50 dias de isolamento conseguiram resultados expressivos, mas aqui há uma subestimação dos riscos, sem as medidas preventivas adequadas, tanto na rua como ficando isolados em casa. Com somente 50% de isolamento, a capacidade de atendimento vai se esgotar, segundo ela. Os médicos estão enxugando gelo.
Há, segundo ela, necessidade de maior conhecimento científico, não podendo se tomar medidas que não sejam comprovadas. Dois jornais científicos, o British Medical Journal e o Lancet, estão informando sobre a cloroquina e suas limitações. Os familiares dos pacientes acreditam nas redes sociais que não falam dos malefícios. A população necessita acreditar nos médicos, segundo ela.
Esta entrevista é importante, pois se trata de uma profissional qualificada que sofreu na própria carne os problemas do coronavírus, valendo a pena ler a sua íntegra, para se conhecer um pouco do coronavírus.
Bom dia sr. Paulo
Compartilhei este blog no Face. Muito boa entrevista, sucinta e direto no assunto.
Na “subestimação dos risco” que ela cita, e os resultados obtidos até hoje no país, é o que me apavora neste momento.
Pertencendo ao grupo de alto risco, me pergunto até quando deveremos ficar entocado e até quanto vamos aguentar.
Abraços
E se cuide.
Caro Ernesto Nozomo Fujiki,
Obrigado pelo comentário. Infelizmente, pelas notícias que chegam da China, este virus também apareceu no Oeste daquele pais, com características um pouco diferente. Também na periferia de Wuhan surgiu modificado, mantendo-se assintomático por mais tempo, e com recuperação mais lenta. Estas mudanças dificultam o seu combate, devendo exigir mais tempo. Mas, avanços como os obtidos pelo Hospital Albert Einstein podem proporcionar diagnósticos um dia depois da contaminação, ainda assintomático, mas permitindo o isolamento dos afetados, que podem reduzir a propagação, desde que se conte com meio adequado para tanto.
Paulo Yokota