Estudos Secundários e Trabalhos Paralelos de um Nikkei
7 de março de 2021
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: Comercial Básico e Técnico de Contabilidade, Cursos Secundários, empregos de menores, experiências de um Nikkei
Na educação secundária no Brasil, no passado, além do tradicional ginásio, havia cursos alternativos, entre eles o chamado comercial básico que era precário, mas ensinava o indispensável para que se pudesse trabalhar num escritório. A legislação da época previa uma Carteira de Trabalho de Menor, que permitia trabalhar desde os 14 anos. Com a conclusão do primário, sem um orientador educacional, localizei em São Paulo um curso, pois tinha facilidade para a matemática que eu pensava ser útil no comércio.
Isto facilitava empregos simples em estabelecimentos comerciais e agências bancárias, além de permitir prosseguir em cursos posteriores. Depois de alguns empregos de curta duração, acabei ingressando num banco de origem nikkei, pensando que o seu meio período de trabalho da época facilitaria cursos posteriores. Ledo engano, pois havia necessidade de muitas horas extras e eu tinha disposição para trabalhos intensos e longos.
Álvares Penteado, no Largo São Francisco, onde fiz o curso de Técnico de Contabilidade
Lotado num setor de ordens de pagamentos, os cheques de clientes do interior precisavam ser conferidos desde a madrugada para serem encaminhados diariamente para a Câmara de Compensações com os outros bancos naquela época. Mesmo assim, foi possível ingressar num curso noturno de Técnico de Contabilidade na Álvares Penteado, conhecida por ter sido fundada em 1902, que ficava logo em frente ao banco, ao lado da famosa Faculdade de Direito. Os almoços eram simples na redondeza e voltava-se para casa usando um ônibus à noite.
A Álvares Penteado tinha uma tradição em Contabilidade e muitos dos professores da instituição eram conhecidos, tendo ajudado na formação da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo. Muitos livros foram publicados por seus professores e atualmente conta com diversas unidades espalhadas por São Paulo.
Nos pequenos bancos, os funcionários acabavam trabalhando em diversas tarefas, mas isto permitia conhecer tudo que era feito neles. Acabei tendo como veteranos alguns estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, que me forneceram condições para prestar lá o exame vestibular.
Na época, o número de acadêmicos nikkeis ainda era modesto, mas estes cursos técnicos permitiam trabalhar para o seu sustento e ajudar a sua família e, relativamente, o número de contadores de origem japonesa era elevado.
Além da história não muito longa da imigração japonesa, eram raras as famílias que contavam com patrimônios apreciáveis. Isto parece explicar parte da ascensão dos jovens nikkeis, que foi ocorrendo ao longo do tempo com muito trabalho, intermediado por uma guerra mundial neste caminho.