2 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: Coreia do Sul-2010, Lee Chang-dong, “Poesia”.
Uma idosa que se propõe a escrever poesia. Que tema mais prosaico para se fazer filme. Entretanto, o coreano Lee Chang-dong conta uma história instigante e imprevisível, de atualíssima realidade. Sem impor lição moral, num filme imbuído de muita sabedoria e moral, ele nos faz acompanhar com empatia uma delicada senhora de 66 anos, Yang Mija (atriz Yoon Jeong-hee), que luta para se manter decentemente, a ela e ao neto adolescente, Wook (Lee David). Não contando, aparentemente, com ajuda da mãe dele que vive e trabalha em outra cidade, Mija cuida de idoso incapacitado para complementar pensão que recebe do governo. Com pequenos lapsos de memória, ela é diagnosticada com mal de Alzheimer em estágio inicial; quase ao mesmo tempo, se conscientiza que seu neto poderia estar envolvido no caso de menina que se suicidara, atirando-se de ponte no rio da pequena cidade; ela vinha sofrendo contínuo e atroz bullying por parte de seis rapazes, colegas da mesma classe.
Yoon Jeong-hee em cenas do filme
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1 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: artigo de Mark Brazil, naturalista escreve sobre Meiji Jingu, uma reserva natural dentro de uma metrópole
O jornal The Japan Times recebe regularmente artigos do naturalista Mark Brazil que mora em Tóquio, mas viaja por todo o mundo, especialista em aves asiáticas, com muitos livros publicados. Ele já esteve diversas vezes no Brasil e escreveu neste fim de semana sobre a sua visita ao parque Meiji Jingu, construído no começo do século XX em homenagem ao Imperador Meiji, naquela época com 100.000 árvores de diversas partes do Japão. Hoje está com mais de 170.000 de 250 espécies, sendo um local muito frequentado pelos habitantes da metrópole. Na visita chamou-lhe a atenção um piar que ele notou, quando identificou um casal de falcão do norte fazendo a corte prematura, ainda que fossem somente meados de janeiro em Tóquio.
Este parque tem instalações que são utilizadas para casamentos, pois é frequentado pelos lindos patos conhecidos como Mandarin, que são o símbolo da fidelidade marital. Fica dentro da metrópole de Tóquio e impressiona os visitantes, sendo uma espécie de Mata Atlântica que pode ser acessada com facilidade. Os que têm a oportunidade de visitá-lo se impressionam com a exuberância de sua mata, que se assemelha a uma tropical, tanto pela diversidade de sua vegetação como pelos pássaros que a procuram, entre eles muitos migrantes anuais.
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23 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura | Tags: Escola Okura Kyogen, Família Shigeyama de Quioto, Família Yamamoto-Tora de Tóquio, Fundação Japão, The Japan Times | 2 Comentários »
Teatro cômico, o kyogen – pronuncia-se /kiyôguen/ – está intimamente associado ao teatro Nô: é representado entre os atos de um longo espetáculo Nô para relaxar a plateia. Inspirado diretamente no sarugaku (antiga dança camponesa originária da China), o kyogen poderia se equiparar às farsas satíricas da Europa, que por sua vez tem raízes nos mimos medievais, gênero cômico menos exigente que a alta comédia, e tinha por objetivo apenas divertir o público, sem se preocupar com mensagens morais: busca o humor pelo humor, geralmente pintando gente simples e ingênua da plebe ou do campo (Gil Vicente em Portugal, commedia dell’arte na Itália, farce / mime na França, como também os skits – falas satírico-cômicas à parte que Shakespeare introduzia no decorrer de suas peças dramáticas, justamente para “aliviar” a tensão).
O kyogen desenvolveu-se no Japão no século XIV quando trupes viajavam apresentando-se em templos, santuários e festivais, patrocinados pela nobreza. Contrastando com o distanciamento formal dos personagens do Nô, os artistas do kyogen dependem de exuberantes expressões faciais para produzir efeito cômico. Enquanto peças de Nô focam temas trágicos e retratam acontecimentos simbólicos ou mágicos através da música e da dança, com uso de máscaras em muitas cenas, as narrativas em kyogen se baseiam em assuntos mundanos da vida cotidiana por meio do diálogo e da mima. As máscaras são usadas para representar animais, os mais comuns sendo texugos e raposas. Assim, exige-se dos atores do kyogen um alto nível de controle e expressão vocal, facial e físico, conjugados à habilidade da fala e da comunicação. Designados como “Monumentos Culturais da Humanidade” pela Unesco, Nô e kyogen são tradições teatrais com mais de 600 anos de história.
Okura Yataro Torahisa XXV (centro) se prepara para o palco, assistido por seus filhos Sentaro e Motonari
Performance da Família Shigueyama, do Kyoto okura kyogen theater
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21 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: artigo do The New York Times, fora das tendências mundiais, quando as empresas japonesas estão contratando recursos humanos com experiência no exterior, redução dos estudantes japoneses no exterior | 2 Comentários »
A jornalista Miki Tanikawa, do The New York Times, escreveu um artigo estranhando a redução de estudantes japoneses que estão procurando universidades no exterior. Isto contraria a tendência que está se observando em todo o mundo. Ela informa que, de acordo com as últimas estatísticas disponíveis do Ministério de Educação e Ciências do Japão, em 2008 este número declinou 11%, para 67.000, quando comparado com 2007. Houve uma redução de 20% comparado com o pico superior de 2004.
Segundo Tatsu Hoshino, uma conselheira independente de estudantes estrangeiros em Tóquio, nos últimos três a quatro anos sente-se que há um declínio firme nestes números. Ele vai contra a direção dos principais empregadores japoneses que procuram expandir a procura de recursos em novos mercados, dentro da estratégia de contratar novos talentos. Também Hitomi Okazaki, editor chefe da web site líder na localização de empregos no Japão, informa que há uma defasagem com a procura dos empregadores.
Presidente da Universidade de Harvard, Drew Faust, durante conversa com grupo de estudantes femininas de Keio Senior High School
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21 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: características próprias, esforços para preservação de sua cultura, Macau na China | 2 Comentários »
Como é do conhecimento geral, Macau era uma pequena colônia portuguesa próxima de Hong Kong e hoje integra a China, mas continua mantendo algumas de suas características. Chama atenção recentemente pelo seu gigantesco cassino utilizado por uma multidão de chineses que trabalham em regiões próximas. Um interessante artigo de Andrew Jacobs, do The New York Times, publicado hoje no suplemento da Folha de S.Paulo, traz algumas informações interessantes sobre ela.
O artigo informa que Macau, antes do multiculturalismo e a “cozinha fusion” se tornar conhecida no mundo, os antepassados de Ainda de Jesus, uma chef de 95 anos, já misturava comida, língua e DNA de diversos cantos do globo, como sempre foi da tradição portuguesa. Eles levaram contribuições de outras colônias portuguesas na Ásia, como Goa ou Timor Leste, que preservaram igualmente a mesma língua.
Centro de compras e a moderna arquitetura de Macau. Ruínas da igreja de São Paulo
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21 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: de Tahahisa Zêze-2010, NHK-News, Revistas Eiga Geijutsu e Kinema Junpô, “Heaven’s Story”
Pelo terceiro ano consecutivo, um filme japonês recebe o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, no 61º Festival de Cinema de Berlim. Os anteriores foram Parade, de Isao Yukisada (2008), e Love Exposure, de Shion Sono (2009). Heaven’s Story, do diretor e ex-produtor porno-soft Takahisa Zêze, é um drama épico de quatro horas e meia, que retrata vida de uma dezena de personagens cuja tragédia comum é a violência traumática a que são submetidas pessoas que tiveram entes queridos assassinados.
Dizendo-se profundamente comovido com a apreciação que o filme recebeu da audiência internacional, Takahisa Zêze acrescentou que se baseou em ocorrências reais acontecidas no Japão nesta última década. Enquanto filmava, ponderou sobre como as pessoas deveriam encarar a vida, apesar da crueza a que possam ser jogadas. O filme tenta refletir sobre o abismo a que estamos todos caminhando. Zêze almejaria que pudéssemos evitá-lo, “antes que o mundo seja destruído pelo ódio”.
Cenas do filme Heaven’s Story, de Takahisa Zêze
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18 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: ajuda privada para melhorar a educação pública, o exemplo de Azim H. Premji
A Índia é um país com consciência de que conta com uma população jovem que é crucial para o seu desenvolvimento futuro, onde a educação era tradicional. Um milionário indiano, Azim H. Premji, de 65 anos, resolveu contribuir com sua Fundação Premji para o desafio de melhorar o seu sistema de educação pública, deixando de repetir o que era efetuado no passado. Os estudantes estão escrevendo as suas próprias histórias, organizando festivais religiosos e apresentando oralmente o que eles elaboraram, o que é usual no Ocidente, mas era raro na Índia.
Azim Premji, que resolveu colaborar com a educação pública na Índia
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11 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura, Depoimentos | Tags: arte em papel, Hina Aoyama (França), Mari Kanegae (Brasil), Tomomi Inoda (Japão) | 2 Comentários »
A arte em papel veio da China, entre elas kiriê, kirigami e origami. Técnica sutil e delicada, o kiriê requer muita paciência e concentração: corta-se o papel com estilete, seguindo desenhos de flores, animais, paisagens. Origami é dobradura em papel, bastante conhecido no Brasil pelos “mil tsurus (grous)” da saúde e da prosperidade. Kirigami é um misto de dobradura e recorte, com tesoura (em japonês, kiri=cortar; e=desenho; gami=papel; ori=dobrar).
Na China, o kiriê era praticado pelo menos desde o VI século D.C. Eram feitos para se dar de presente almejando bons votos, ou para fins decorativos. Geralmente, usava-se papel de cor vermelha, com ênfase em motivos simbolizando animais do zodíaco chinês. No Japão, introduzido por monges budistas, desenvolveu-se um estilo peculiar e único, surgiram muitos artistas que inovaram as artes em papel. Geralmente, vaza-se o desenho em papel branco ou preto, e o recorte é montado em folha de papel cartão; pode-se colocar papel de diferentes cores, de entremeio – o resultado é surpreendente.
Kiriê de Hina Aoyama, que mora na França
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6 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: notícias de Raul Juste Lores, outras informações, produção artística contemporânea, produção cinematográfica da Bollywood | 2 Comentários »
É sempre interessante receber informações atualizadas como as do competente jornalista Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo. No seu Diário de Nova Déli, na Ilustríssima, ele que já provou a sua capacidade na China. Neste Mapa da Cultura, ele reporta a gigantesca produção cinematográfica indiana, pouco conhecida no Brasil, mas amplamente utilizada na Ásia, que geram astros regionais. É considerada a segunda do mundo, ainda que de qualidade modesta e é possível que em quantidade supere até a dos norte-americanos ou de Hong Kong. O fato concreto é que atende uma demanda gigantesca de populações bilionárias em número de países asiáticos.
Algumas vezes, o Ocidente tem oportunidade de conhecer estas produções, que retratam uma realidade de pobreza e desigualdades como dos países emergentes, mas são acontecimentos raros. Raul Juste Lores relata que algo está mudando neste setor da Índia, como em demais áreas que expressam evoluções culturais que devem estar acompanhando as mudanças econômicas e políticas. Seria interessante que fossem acompanhadas também pelos brasileiros, e o jornalista cita produções cinematográficas recentes que podem merecer alguma atenção.
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6 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Gastronomia | Tags: atraindo novas iniciativas, características próprias, constantes aperfeiçoamentos, Pinheiros, surpresas agradáveis, Vila Madalena
Todas as grandes metrópoles do mundo acabam concentrando em algumas de suas áreas as atividades gastronômicas mais criativas, pois existe uma sinergia entre os estabelecimentos, facilitando a procura por parte dos seus clientes, como aconteceu no Soho, em Nova Iorque. Em São Paulo, a região que era conhecida como bairro de Pinheiros acabou sendo ultrapassada pela fama da Vila Madalena, que se tornou mais consagrada como uma griffe, cujos limites hoje se ampliaram pelo marketing das novas atividades que a procuram. Voltada para os clientes mais descontraídos, não somente de jovens, tiraram partido dos antes mais baratos e modestos imóveis da região.
Começou como um reduto de artistas pobres que não podiam pagar muito aluguel ou por estudantes que viviam de uma pequena mesada, formando repúblicas. Hoje, muitos estabelecimentos já conhecidos de outras localidades estão se transferindo também para a nova Vila Madalena, muito à semelhança do Soho, aproveitando todos os cantos disponíveis, até dos fundos de algumas antigas residências.
Sempre existem novidades que acabam sendo consolidadas pela qualidade de seus serviços, que valem a pena serem pesquisadas pelas suas características próprias. Somam-se aos muitos e já consagrados estabelecimentos frequentados pelos tradicionais clientes. Outros abrem e encerram as suas atividades em pouco tempo, pois imaginam podere se sustentar somente pela badalação ou a fama da região, sem que tenham algo diferenciado a apresentar para os seus fregueses, que estão conscientes dos serviços que procuram, não se deslocando somente pela fama conquistada pelo bairro. Os jovens que desejam gastar menos, mas usufruir do ambiente do bairro, ficam pelas ruas conversando com seus amigos, sem necessidade de utilizarem os serviços dos muitos estabelecimentos instalados na região.
Loja da grife Antes de Paris: moda descolada. Beco do Batman, com seus grafites
Mas não é somente pela gastronomia que Vila Madalena é conhecida e é frequentada. Originária de artistas e artesãos, conta com uma ampla variedade de lojas e ateliês que apresentam um design diferenciado, das mais variadas origens, nacionais ou estrangeiras. Roupas e seus complementos são encontrados com facilidade, com um toque sempre original, que atraem uma clientela ávida por algo que foge dos padrões massacrantes.
Muitas das antigas e pequenas residências acabaram atraindo uma população de criadores, como os voltados para as atividades de publicidade, que atuam prestando serviços para as grandes agências. Tudo ajuda criar um clima descontraído, com uma sinergia que autoalimenta variadas atividades.
Ainda assim, tudo exige uma cuidadosa pesquisa, para separar o joio do trigo, pois neste burburinho dinâmico convivem coisas que realmente se diferenciam de outros que são meras cópias baratas. Das inspirações regionais do Brasil e do que foi trazido pelos imigrantes, houve uma decantação do que realmente é bom e acessível, para atender clientes que desejam algo mais, como cuidar da ecologia e da saúde, evitando ser envenenado pelos fertilizantes e agrotóxicos.
Hoje, Vila Madalena pode ser apresentada para os visitantes estrangeiros como algo que expressa o próprio Brasil, com todas as suas diversidades, complexidades e originalidades.