6 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: os locais dos jogos e horários, problema das temperaturas, umidades, ventilações
Depois de classificadas as seleções de futebol dos países que vão participar da próxima Copa do Mundo em 2014 no Brasil, feitos os sorteios dos grupos que acabam determinando os locais onde serão efetuados os jogos da primeira fase, suas datas e horários, bem como os comentários dos jornalistas brasileiros e estrangeiros, nota-se a dificuldade de todos conhecerem um país tão amplo como o Brasil, com suas acentuadas diferenças regionais. Muitos ressaltaram as distâncias a serem percorridas pelas diversas equipes bem como as temperaturas que deverão enfrentar num horário inconveniente para a prática de esportes como o futebol, num país continental como o nosso. Ainda que a Copa do Mundo seja realizada no inverno brasileiro, o fato concreto é que no Nordeste, no Norte e no Centro Oeste as condições estarão adversas.
Mas, além dos fatores apontados, as grandes dificuldades deverão ser a umidade e a baixa ventilação dos estádios projetados, que deverão proporcionar condições correspondentes a uma panela de pressão, que não poderão ser resolvidos simplesmente por intervalos adicionais durante os dois tempos dos jogos de futebol. Nos locais como o Nordeste, a ventilação ajuda mesmos as áreas de baixas altitudes, mas os estádios foram projetados com coberturas que dificultam esta contribuição. Locais como Manaus e Cuiabá ficam insuportáveis com a elevada temperatura, a que se acrescente um nível de umidade, diante da baixa altitude e presença de rios que contribuem para o seu aumento. A sensação de calor vai acabar sendo desgastante para muitas equipes.
Estádios de Fortaleza, Recife e Manaus: coberturas impedem a ventilação natural
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6 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dimensão de Mahatma Gandhi, lições de Nelson Mandela, não violência, o mundo ficou mais pobre
Existem poucas pessoas que merecem as homenagens de todos como Nelson Mandela. Um homem da estatura de Mahatma Gandhi e de Martin Luther King, deixou marcas profundas para toda a Humanidade. Lutou como ninguém pela igualdade dos seres humanos, partidário da não violência, acabou com o apartheid na África do Sul. Deu exemplos marcantes e pessoais para todo o mundo. Com sua força moral modificou o comportamento da Humanidade. Prêmio Nobel da Paz é pouco para ele. Tornou-se presidente do seu país eleito por todos.
AP photo/Simon Dawson
A África do Sul é hoje considerada um país desenvolvido. Muitos brasileiros vão para aquele país fazer turismo. Muitas de suas cidades possuem condições superiores às melhores brasileiras. Há poucas décadas, ainda éramos testemunhas das barbaridades que lá se praticava contra os negros.
A segregação era a regra. Havia bairros dos negros, eles não podiam frequentar onde os brancos ocupavam. Suas habitações eram degradantes.
Isto nos dá a possibilidade de imaginar também no Brasil que não haverá mais diferenças entre os seres humanos. Os hoje favelados poderão ter os mesmos padrões de vida e dignidade dos que moram nos Jardins.
Os que moram nos mocambos, nas palafitas, nos confins do Brasil devem ter os mesmos direitos dos demais brasileiros que gozam de padrões superiores de vida.
Somos todos iguais. Mandela conseguiu provar a cada um de nós que isto é possível de ser conseguido sem violência. Não há necessidade de séculos para estas melhorias. Em algumas décadas estas mudanças são possíveis, sem violências.
Todos nós temos que lutar para tanto, dando o mínimo para que isto se torne uma realidade, com democracia. Nelson Mandela nos deixou indicado o caminho.
Só temos que persistir, como ele, para obter o que está ao alcance das nossas mãos. Não é um sonho, uma realidade palpável. Os brasileiros, que se orgulham de não serem racistas, precisam provar isto com fatos.
Não se trata somente de discursos, mas de atos concretos. Nelson Mandela nos ensinou isto, precisamos incorporar estes pensamentos e os transformar em realidade.
5 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias | Tags: CEO francês, exemplo de Carlos Ghosn, experiências internacionais, metade da receita fora do Japão, presença no Brasil com a Nycomed
A maior empresa farmacêutica japonesa, a Takeda Pharmaceutical, quebrou sua tradição de mais de 230 anos nomeando um não japonês para o seu cargo de CEO, contratando o francês Christophe Weber, de 47 anos. Metade da atual receita da Takeda é gerada fora do Japão, tornando-a uma das empresas multinacionais de grande importância mundial. Parece que é o caminho tomado por algumas empresas que estão ampliando suas atividades em escala internacional. Christophe Weber nunca tinha trabalhado para a Takeda, mas conta com um rico currículo de 20 anos de trabalho para a farmacêutica GlaxoSmithKline na França, Reino Unido, Bélgica e Cingapura. Segue caminhos como o aberto por Carlos Ghosn que foi da Renault para soerguer a Nissan, conseguindo um grande prestígio no Japão que acreditava que executivos estrangeiros teriam dificuldades com a cultura empresarial japonesa.
Mas o novo CEO terá que provar, como Carlos Ghosn, que tem capacidade para entender o que o setor empresarial japonês também tem de bom, acrescentando sua experiência internacional. Mas a Takeda também incorporou outros diretores estrangeiros para suas áreas de finanças, recursos humanos, bem levou para seu Conselho Tachi Yamada, médico da Universidade de Michigan e líder o programa global de saúde da Bill & Melinda Gates Foundation. Mostra com tudo isto uma forte intenção de se consolidar como uma forte organização internacional. O assunto está sendo divulgado num artigo elaborado pela Kanoko Matsuyama para a Bloomberg.
Christophe Weber e edifício sede da Takeda
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3 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no Valor Econômico, Clube do Choro em Brasília, divulgação internacional, persistência do Reco do Bandolim
Num brilhante artigo escrito por Robinson Borges, no Eu & Cultura do Valor Econômico, informa-se sobre a ativa divulgação do Clube do Choro existente em Brasília, tendo como um persistente trabalho do Reco do Bandolim. Ele, que começou a carreira com o rock em Brasília, acabou sendo conquistado pelo estilo da mais autêntica música brasileira, o chorinho, que conta com ícones como Nelson do Cavaquinho, Jacob do Bandolim e Altamiro Carrilho, lembrados na rádio Jovem Pan de São Paulo pelos dois diretores veteranos Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, e Nilton Travesso para deleite dos saudosistas das boas coisas brasileiras. O interessante foi que Reco do Bandolim acabou se convertendo ao chorinho na Bahia, pelas leituras de Moraes Moreira e Armandinho Macedo sobre os trabalhos de Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim.
Brasília é certamente a Capital que reúne brasileiros de todo o país, muitos que foram por circunstâncias políticas dos seus Estados e acabaram se arraigando na cidade, num das mais formidáveis integrações do país. O chorinho é originário do Rio de Janeiro, a antiga Capital, que contribuiu com um importante contingente de migrantes, com suas bagagens culturais. Em Brasília, informa-se que democraticamente ministros, altas autoridades e diplomatas estrangeiros participam dos eventos para usufruir um dos estilos musicais mais marcantes do Brasil.
Grupo Choro Liivre, do Clube do Choro de Brasília. Foto: Renata Samarco
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29 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dificuldades das projeções, efeitos da mudança da política demográfica, o caso da China
Um artigo da professora Jin Keyu, da respeitável London School of Economics, que se refere às possíveis consequências econômicas da mudança da política de filho único na China foi publicado pelo Project Syndicate. Ainda que a demografia seja importante nas mudanças de longo prazo que ocorrem numa economia, parece difícil poder afirmar-se que esta nova política chinesa tenha possibilidades de mudanças significativas. De um lado, a permissão só tem efeito entre a maioria da etnia han e nos centros urbanos, somente beneficiando os pais que são filhos únicos.
De outro lado, é necessário considerar que a tendência de redução da taxa de natalidade da população está ocorrendo em todo o mundo, mesmo que não haja restrições como a da China recente. As mulheres aumentaram o ingresso no mercado de trabalho, e elas estão atrasando a idade com que têm filhos, que estão diminuindo sensivelmente em quantidade, para um ou dois por casal. Em muitos países, como o Japão, o governo vem estimulando para que elas tenham mais filhos, proporcionando incentivo cujos resultados continuam sendo duvidosos, provocando o declínio sensível da população nos últimos anos, tendência que parece se agravar.
Jin Keyu London School of Economics
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28 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo de Andrew Delbanco da Universidade de Columbia para o Project Syndicate, convergências das preocupações de diversas Universidades, necessidade de preparo dos estudantes para uma formação mais humanitária
Um importante artigo do diretor de Estudos Americanos Andrew Delbanco, da Universidade de Columbia, divulgado pelo Project Syndicate informa sobre as convergências das preocupações de muitas universidades espalhadas pelo mundo com relação à necessidade de proporcionar uma formação humanística mais ampla a todos os estudantes, inclusive aos que se interessam pelas ciências exatas, tecnologias, engenharias ou matemática. Na Universidade de São Paulo, originalmente criada com a colaboração missão francesa, todos tinham uma preocupação humanística mais ampla como a europeia, nas depois da Segunda Guerra Mundial, com o aumento da influência dos Estados Unidos no mundo, caminhou-se para o excesso de especialização que resultou na departamentalização do conhecimento.
Hoje, diante dos desafios que o século XXI apresenta, observa-se que a exagerada preocupação com a eficiência produtiva deixou evidente a falta de uma visão mais ampla fornecida pela filosofia, história, política, antropologia, sociologia e outros campos do conhecimento voltados para a adequada convivência social de povos de formação cultural diferentes no mundo globalizado, incluindo seus valores que costumam ser variados. O artigo menciona que em determinados países da Ásia notam-se que os jovens carecem da experiência suficiente para “pensar fora da caixa”, fazendo a educação incluir o cultivo do sentimento e da imaginação. As artes e as preocupações ecológicas ganham novas dimensões, pois os seres humanos são movidos por reações emocionais, além das pretensamente racionais.
Andrew Delbanco Universidade de Columbia
O autor reconhece que as universidades norte-americanas ficaram distorcidas com as preocupações dos custos de seus cursos universitários, proporcionando bolsas e descontos nas taxas, e mesmo perdoando dívidas de financiamentos que foram feitos para os estudantes. Reduziram os créditos necessários de disciplinas para o bacharelado, eliminando exigências como o de literatura, filosofia e artes, de forma que fosse possível completar o curso em três anos quando antes era de quatro anos.
Ele informa que em Hong Kong, em Cingapura e na China os programas das universidades já permitem uma concepção mais liberal da educação, para obter conhecimentos mais amplos, que são adquiridos em quatro anos. Uma visão muito restrita da educação, do ponto de vista econômico, não permite enfrentar os problemas atuais, que vão do comércio às comunicações, da saúde para as ciências ambientais, que dependem da tecnologia e das inovações, que exigem habilidades que possam ser adquiridas com longos treinamentos.
É também necessário que se dominem os fundamentos que exigem considerações mais abstratas como os valores, com profundidades adequadas, abordando questões que exigem uma orientação política mundial e os processos da tomadas das decisões que afetam a todos.
São questões como os dilemas sobre o desenvolvimento econômico conciliado com a preservação do meio ambiente, relativização das soberanias nacionais quando existem problemas que extravasam as fronteiras, considerações dos direitos humanos que conflitam com tradições culturais e autárquicas, os direitos das oportunidades dos jovens diante do respeito aos idosos, responsabilidades com os refugiados que fogem da pobreza, os equilíbrios das liberdades individuais com as seguranças coletivas, entre outros aspectos.
Para responder estas e outras questões, os avanços das ciências e tecnologias desempenham papéis importantes, envolvendo os métodos de produção de energia, vigilância e aprendizado online, segundo o autor. As questões morais e éticas nunca devem ceder às soluções técnicas, exigindo o respeito e compreensão dos patrimônios sociais e culturais. As futuras gerações necessitam de aprendizados científicos e humanísticos, mais do que nunca.
Felizmente, segundo o autor, já existem modelos que estão sendo desenvolvidos em conjunto, como da Universidade de Yale com a Nacional de Cingapura, quebrando as barreiras interdisciplinares. Isto também acontece na Quest University do Canadá. Nos Estados Unidos, o programa Benjamin Franklin, da Universidade da Carolina do Norte, une a colaboração da Escola de Engenharia com a de Humanidades e Ciências Sociais, que visa formar profissionais que possam resolver problemas analíticos, com decisões feitas com ética e efetiva comunicação.
Não se pode colocar mais as ciências contra as humanidades como já se tem indicado há mais de meio século. Segundo o autor, deve se adaptar o sistema educacional com vistas ao futuro, sem perder a visão da missão básica, articulada com o passado. Benjamin Franklin, um homem de letras e inovador científico, definiu educação como uma busca do verdadeiro mérito, que consiste na inclinação para servir a humanidade, um país, amigos e a família.
Observa-se no Brasil, como em muitas partes do mundo, que a sofisticação no domínio de algumas ciências nem sempre leva em consideração os devidos respeitos aos que pensam de formas diferentes, que são portadores de culturas diferenciadas. Os valores e considerações emocionais são relevados, com muitos incapazes de uma visão mais global ou sistêmica, onde muitos fatores se interagem e não podem ser isolados para uso de determinados instrumentos. As arrogâncias de pretensos cientistas acabam usando seus parcos conhecimentos como instrumentos de luta política, subestimando os sentimentos dos seus oponentes. Mas existem clamores por uma formação humanística mais ampla.
26 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: 24 livros tipo cordel escrito em híndi, descrito no The New York Times, escritor que vive vendendo chá
O jornal The New York Times é universal, tendo a capacidade de destacar num artigo de Zach Marks até um escritor modesto de nome Laxman Rao que escreveu 24 livros escritos no idioma híndi tratando de romances, peças de teatro e análises da sociedade indiana e política. Mora hoje em Nova Delhi, mas vive o cotidiano vendendo chá, o suficiente para lucrar o correspondente a 10 dólares diários, com o que vive. Mas conta com leitores fiéis como a falecida primeira-ministra Indira Gandhi e o ex-presidente Pratibha Patil. Com uma educação formal que só foi até o 10º do primário, nasceu no Estado de Maharashtra, passou por outras localidades até chegar à Nova Delhi, na localidade de Hindi Bhavan, um centro cultural.
Estes vendedores de chá são conhecidos como wallahs chai e são pulares na Índia. Laxman Rao publicou seu primeiro livro em 1979, “Uma Nova História de um Novo Mundo”. Seu best-seller é “Ramdas”, publicado em 1992, que conta a história de um estudante que morreu afogado na aldeia onde nasceu o escritor. Ele já vendeu mais de 10 mil cópias dos seus livros que auto publica. O repórter Bhanu Pande, do The Economic Times, escreveu que seus livros exalam um raro sentido de honestidade e humildade. Outro jornalista, Nalini Ranjan, do The Tribune, disse que os escritos dele são tecidos em torno das realidades básicas da vida.
Laxman Rao em seu ofício de vendedor de chás
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24 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: diferenças culturais, dificuldades de alimentação, interpretações complicadas, problemas de sexo | 2 Comentários »
Duas matérias publicadas neste sábado na forma de colunas na Folha de S.Paulo mostram como mesmo os brasileiros bem informados contam com dificuldades para entender os japoneses em alguns dos seus comportamentos, no que é básico para todos os seres humanos, a preservação da espécie e a alimentação. O primeiro elaborado por Alexandre Vidal Porto, escritor e diplomata, que leva o título “A economia do sexo” tratando do assunto entre os japoneses, e o segundo de Álvaro Pereira Junior, com o título ¨Churrasco de aorta”, quando procurou um lugar para se alimentar nos meandros de Osaka.
No primeiro, o colunista se confessa que nunca compreendeu como um casal japonês chega do primeiro contato à intimidade física e cita outros meios de comunicação como o The Guardian e a BBC que teriam dificuldades semelhantes com relação ao sexo no Japão. Eles, que são ingleses, informam que cerca de 45% das mulheres e 25% dos homens japoneses da idade entre 16 a 24 anos se declaram desinteressados em sexo, o que não parece refletir a realidade, mas a formalidade. O autor constata que a indústria de pornográfica japonesa movimenta bilhões de dólares, e a arte erótica no país é conhecida desde o século XIV. Para ele, o sexo dos japoneses parece momentâneo, não se relacionando com um relacionamento amoroso mais profundo, o que parece extremamente injusto, ainda que sua interpretação possa ser diferente.
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21 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: simplicidade da origem japonesa, suas qualidades humanas
Tomie Ohtake, considerada a Primeira Dama das artes plásticas brasileiras completa o seu 100º aniversário. Muito se vai falar e escrever sobre ela, suas qualidades artísticas e humanas. Mas eu desejava registrar o meu modesto depoimento sobre o nosso longo relacionamento com Tomie, gente, simples, com a qual tenho privilégio de convívio por um bom tempo, menos frequentemente do que desejaria, até por limitações minhas. Respeito sua intensa atividade, inclusive tempo para pensar sobre suas obras, que requer mais elaboração intelectual do que muitos imaginam, exigindo dela uma atitude de reserva.
Conheci-a ainda no tempo do saudoso Seibi, grupo de artistas plásticos de origem japonesa no Brasil, quando no início de sua brilhante carreira, que começou tardiamente, depois de já ter criado seus filhos Ruy e Ricardo sozinha, e ela não era tão reconhecida e merecidamente consagrada.
Desde a minha infância, portanto, antes dela iniciar a sua carreira artística, conheci muitos dos membros deste grupo Seibi e frequentei muitas das suas exposições coletivas. Entre os primeiros, Tomoo Handa, Yoshiya Takaoka, Shigeto Tanaka, Yuji Tamaki, depois Manabu Mabe, Tikashi Fukushima, Kazuo Wakabayashi entre muitos outros. Tomie era uma das poucas mulheres que participavam ativamente do grupo, já no tempo do pós-guerra.
Uma das características mais importantes é que, mesmo depois de sua consagradora fama, continuou a mesma, modesta, humana, zen, prestigiando os relacionamentos com seus amigos. Não procurava o destaque, mas apreciava os vernissages, as novidades, incentivando outros artistas. E mesmo tarde da noite, quando tudo já estava terminado, ainda perguntava: aonde vamos agora?
Todos a admiravam pela sua fina bagagem que trouxe de sua vida em Quioto, antes de vir ao Brasil, onde se naturalizou brasileira. Para todos que tinham origens mais modestas, tendo passado como imigrantes no meio rural, ela já era motivo de admiração, pelo seu diferenciado nível cultural dos demais artistas.
Permitam-me partilhar de alguns poucos episódios comuns. Ela aprecia um bom missogiru, e quando eu dispunha de um missô de produção caseira levava um pouco para ela. A produtora deste produto faleceu e já não contamos com este missô diferenciado do que se encontra no mercado. Ela sempre me pergunta ainda sobre o missô.
Quando estávamos em Tóquio, depois de uma exposição que ela fez, fomos jantar de forma íntima num restaurante que eu conhecia, também na companhia de Ruy e de Ricardo. Tinha escolhido este restaurante, pois ele tinha boa culinária e uma vista privilegiada para o Palácio Imperial, em frente ao parque Hibiya. O cozinheiro preparou uma escultura de tempura, usando macarrão japonês, o que era usual. Tomie encantou-se com a criatividade da peça que ficou enfeitando a nossa mesa.
Nunca ouvi de Tomie uma queixa, ela se mostrava e transmitia o seu alto astral, mesmo quando acometido de limitações que a obrigava a usar uma cadeira de rodas. Acredito que ela era assim com todos os seus amigos.
Mesmo consagrada, ela continuou a mesma, orgulhosa do seu trabalho que a deixava realizada. Mostrava as maquetes dos muitos monumentos que estava preparando para o centenário da imigração japonesa, peças que pareciam simples, mas elaboradas, e imaginávamos como ficariam nas suas dimensões projetadas.
Poucas pessoas são tão humanas como ela, ainda que a fama de sua imagem tenha corrido o mundo. Simples, é das que facilitam a conversa, mesmo que sejam de assuntos corriqueiros dos seres humanos. Quisera que o tempo não nos limitasse, mas de forma zen, temos que aceitar a natureza das coisas.
20 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil, as considerações discutidas no Japão, experiências internacionais
Estamos insistindo neste site sobre a necessidade de estabelecer alvos mais amplos, intangíveis, para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, como já postamos num artigo discutindo o assunto. Já informamos como as Olimpíadas de 1964 influíram nas importantes mudanças culturais observadas no Japão, como a melhoria no atendimento dos turistas estrangeiros nos transportes e nas lojas. Agora um interessante artigo publicado por Wakako Yuki do Yomiuri Shimbun, distribuído pelo AJISS – Associação dos Institutos Japoneses de Estudos Estratégicos, baseado na sua experiência de cobertura de 10 Olimpíadas e 5 Jogos Paraolímpicos, com sugestões destes tipos de considerações visando a Olimpíada de Tóquio de 20202. Isto gera uma rara oportunidade de reflexão sobre considerações mais amplas no Brasil do que as vitórias em algumas modalidades, ou mesmo as dificuldades para avanços significativos na infraestrutura do país, que também são importantes.
O Japão está incluindo as Olimpíadas de 2020 entre os projetos da quarta flecha do Abeconomics já desencadeado naquele país, como já foi expresso pelo ex-ministro japonês Reizo Takenaka na palestra proferida na FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e confirmado no artigo que estamos discutindo. Wakako Yuki menciona que antes das Olimpíadas de Londres de 2012, Jacques Rogge, ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional, destacou a importância dos legados dos Jogos, mencionando a importância dos intangíveis, que duram mais tempo que os tangíveis. O que está sendo discutido no Brasil sobre a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 a respeito deste assunto?
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