Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Joseph Stiglitz e o Livre Comércio

8 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: discussão sobre os acordos regionais, outros problemas interligados, política global da Organização Mundial do Comércio, Prêmio Nobel com visão diferenciada

Joseph Stiglitz é um Prêmio Nobel de Economia que, apesar de origem norte-americana e professor na Universidade de Columbia, expressa opiniões independentes que nem sempre coincidem com as dos Estados Unidos. Num artigo distribuído pelo Project Syndicate, ele mostra preocupações sobre os acordos que os norte-americanos estão tentando com os europeus e com os países da Bacia do Pacífico, que se contrapõem aos globais que estão estagnados na OMC – Organização Mundial do Comércio, que deveriam visar à facilitação do comércio internacional. Desde a chamada Rodada do Doham não existem avanços, diante das posições como dos Estados Unidos que não aceitam liberar a importação de produtos agrícolas, mas desejam que seus produtos industriais possam ser colocados nos países que relativamente estão menos desenvolvidos.

Ainda que não existam garantias de sucesso, os Estados Unidos estão procurando um amplo acordo com os europeus, que no momento se mostram contrariados com a espionagem até dos seus cidadãos pelos serviços de informações dos norte-americanos. Seria o Transatlântico, mas que só envolve os países do hemisfério norte. O mesmo está sendo tentado no Transpacífico, que envolve muitos países da Bacia do Pacífico, que ainda depende de muitas e duras negociações, com a atuação ampla de lobbies que defendem interesses setoriais.

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Prêmio Nobel de Economia Joseph E. Stiglitz

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Mudanças Significativas na Siderurgia Mundial

6 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: notícia no Nikkei sobre o novo projeto da Kobe Steel, projeto da Voestalpine austríaca nos Estados Unidos, tecnologia associada com a Siemens, utilização do gás de xisto

Existem notícias que merecem a maior atenção, pois antecipam as mudanças que estão ocorrendo no mundo até em setores básicos como a siderurgia, mesmo no atual cenário complicado da economia mundial. No momento em que há uma redução do ritmo de desenvolvimento, fazendo com que haja uma grande capacidade ociosa na siderurgia mundial, inovações e expansões continuam ocorrendo com a intensa utilização de novas tecnologias. A substancial redução do custo do gás com o uso do xisto nos Estados Unidos, menos poluente que outras fontes de energia, viabiliza uma nova planta siderúrgica de grande porte. Como o uso da tecnologia desenvolvida pela Midrex, subsidiária da Kobe Steel, associada com a Siemens alemã. A nova planta da Voestalpine austríaca se localiza nos Estados Unidos, visando também a exportação para a Europa, especificamente à Áustria, utilizando a tecnologia da fusão direta do minério de ferro com o gás, sem o uso tradicional do carvão mineral ou a energia elétrica. Anuncia-se que sua capacidade inicial é de 2 milhões de toneladas ano e pode ser surpreendente para muitos.

Os especialistas sabem que estas tecnologias estão dominando a siderurgia mundial, enquanto no Brasil o projeto da Vale com os coreanos em Pecém, junto a Fortaleza no Ceará, numa zona especial de exportação ainda pretende utilizar uma tecnologia ultrapassada com carvão mineral na nova planta que está em construção. O fato insuperável é que o gás do xisto é de custo sensivelmente mais baixo, e se o Brasil não deixar de praticar preços elevados com o gás associado à extração do petróleo, para auxiliar na geração de recursos adicionais para os investimentos da Petrobras, continuará agravando a sua falta de competitividade industrial, mesmo com a implantação de zonas especiais de exportação.

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Reivindicações Sociais e a Constituição Cidadã de 1988

6 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo no Suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico, aspirações dos desejos, garantias constitucionais, incompreensão do Estado

 

Por: Paulo Yokota Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias, WebTown Tags:

Um interessante artigo foi escrito por Bárbara Pombo e Viana de Oliveira no suplemento Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico com o título “Promessa é dívida”, afirmando que o brasileiro está cobrando nas ruas o cumprimento das generosas garantias inscritas na Constituição de 1988, como o direito à saúde universal, a educação de qualidade para todos, bem como todas as assistências sociais. Este site vem refletindo sobre estes assuntos relacionados com as reivindicações justas manifestas nas ruas, e a possível falha no nosso sistema educacional que não permitiu sequer aos jornalistas, bem como a todos os juristas e estudiosos do mais alto nível que prestaram os seus depoimentos constantes da matéria, à adequada compreensão sequer do que é o Estado. Esta é a minha opinião que poderá ser contestada e estou disposto a revê-la se encontrar razões para tanto.

Um famoso estadista japonês afirmava que na constituição japonesa, como em muitas outras, constam princípios que manifestam desejos que nem sempre são atendidos, mas que se deve esforçar para os seus atendimentos. O professor Antonio Delfim Netto sempre ensinou que o Estado em si nada cria, somente pode transferir o que foi cobrado de alguém na forma de impostos para outros na forma de benefícios, havendo ainda um preço para o custeio desta intermediação. A afirmação que algo é direito do cidadão e dever do Estado revelaria uma inadequada compreensão das limitações dos recursos econômicos, como se fora possível o milagre da criação dos mesmos pelo Estado.

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Ulysses Guimarães apresentando o livro da Constituição de 1988

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Parte dos Complexos Problemas Econômicos Chineses

6 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: análises dos próprios chineses, as autoridades locais, dificuldades fiscais e creditícios, os bancos e as operações fora dos bancos, os problemas políticos

Muitos sabiam que o exuberante crescimento da economia chinesa nos últimos anos estava aumentando exageradamente muitas das distorções existentes naquela economia, que agora passa por críticas apontadas internamente, quando se discute as reformas que se tornaram indispensáveis. Zhang Monan é fellow da China Information Center, da China Foundation for International Studies e pesquisadora da China Macroeconomic Research Platform e vem escrevendo muito sobre assuntos econômico-financeiros daquele país, atuando em Beijing. A maioria das análises que apontam muitas dificuldades é elaborada no exterior ou em Hong Kong, e o artigo dela está sendo publicado no prestigioso site do Project Syndicate que costuma selecionar os seus autores entre os mais credenciados no mundo, com o título de Finanças Arriscadas da China.

Ela apresenta alguns problemas que estão sendo apontados por outros autores, informando que os esforços das autoridades chinesas podem descarrilar, exigindo que medidas prudenciais devam ser tomadas para evitar seus agravamentos. Ela aponta como um dos maiores problemas a médio e longo prazo o problema fiscal que recebe uma garantia implícita do governo central sobre os volumosos débitos das autoridades locais. É sabido que estes vieram executando muitos projetos de infraestrutura, bem como concorrendo com a implantação das indústrias, que eram utilizados para avaliar estas autoridades locais, que poderiam ser promovidas para posições mais relevantes. Eles tomaram na esteira da crise financeira recente cerca de US$ 1,7 trilhões dos bancos, segundo a autora, que dificilmente poderão ser honrados e terão que encontrar uma solução das autoridades centrais. Estes serviam como incentivos para a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional.

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Zhang Monan, do China Information Center

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As Lamentáveis Duras Lições dos Acontecimentos no Egito

4 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as dificuldades econômicas, o caso egípcio segundo o The Economist, os duros caminhos para a recuperação, os erros políticos de um eleito democraticamente

Cada país tem a sua história e as suas condições se diferenciam com as de outros. Mas este site procura estimular que os brasileiros vejam o que está ocorrendo em outros países, para evitar alguns dos problemas que aparentam ser comuns a muitos. As demonstrações populares se repetem em muitos países, ainda que as condições sempre sejam diferentes, e as reivindicações amplas. O que se pode observar que são comuns é que a velocidade dos processos políticos está acelerada, e mesmo países com regimes que aparentavam ser democráticos, com dirigentes eleitos como na Turquia e no Egito, são fortemente afetados pelos problemas econômicos. Seus novos dirigentes eleitos não conseguem corresponder às vontades do povo. As demonstrações populares no Egito superam em muito, em número de participantes, até os surpreendentes no Brasil. Muitos erros cometidos possuem características diversas, mas acabam servindo como advertências para os que ousam exagerar nas violências, que acabam exigindo arbitragens não desejadas. Parece ser necessário procurar aprofundar as características democráticas que aparentam absorver melhor as tensões decorrentes das aspirações que nem sempre podem ser atendidas imediatamente, sem nenhum custo.

O The Economist tem uma experiência internacional mais ampla que a maioria dos veículos brasileiros e suas análises merecem ser consideradas, como as que estão sendo apontadas no seu artigo no número da próxima semana. Já postamos casos de muitos outros países que estão passando, em graus e intensidades diferentes, por problemas como os que se repetem no Brasil. Alguns que ainda não estão explicitados para o público em geral, como as fortes tensões que estão ocorrendo na China, que aparentam ser elevadas, deixando seus novos dirigentes com algumas justificadas perplexidades. Todos aspiram um desenvolvimento acelerado, mas existem limitações de recursos econômico-financeiros, recursos humanos capacitados para gestões eficientes, mecanismos administrativos funcionais, consensos razoáveis, amplas dificuldades políticas, incapacidade da adequada compreensão do que está acontecendo, bem como capacidade de construir saídas razoáveis para a superação dos problemas no prazo que está sendo exigido pela população de forma emotiva. Muitas situações acabam aparentando uma desorganização, que pode ser aprofundada pela arrogância e incapacidade de diálogos que possam reduzir as tensões.

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Manisfestação popular em Tahir Square Egypt, que reuniu entre 10 a 14 milhões de pessoas

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Técnicas de Demolição e Construção dos Japoneses

3 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo do The New York Times republicado em português na Folha de S.Paulo, demolições de edifícios no Japão, duas técnicas para menores inconvenientes

Um artigo de Henry Fountain originalmente publicado no The New York Times foi republicado em português no suplemento da Folha de S.Paulo. Refere-se à tecnologia japonesa para demolição de grandes edifícios, com os menores inconvenientes possíveis, e aproveitamento de muitos materiais para a reciclagem. Como é sabido, o Japão é um dos países que mais demolem edifícios ainda não tão velhos para dar espaço para novos conjuntos, dada as limitações de espaços naquele arquipélago. Muitas regiões, como o centro da cidade de Tóquio, foram totalmente remodeladas, sendo hoje ocupadas por novos e modernos edifícios em dezenas de quarteirões.

O artigo cita duas tecnologias que estão sendo utilizadas, uma da Taisei Corporation, que permitiu a demolição do famoso edifício que era ocupado pelo Akasaka Prince Hotel, onde morei um tempo. O projeto de 40 andares construído pelo premiado arquiteto Kenzo Tange era um símbolo de modernidade há algumas décadas, e apesar de bem conservado, foi demolido para dar espaço a um novo complexo. O artigo informa que a tecnologia utilizada foi a construção de uma cobertura nos últimos quatro andares, onde foram afixados painéis que davam a impressão do alto deste edifício. Outra tecnologia utilizada pela Kajima Corporation que, com o suporte de gigantescos macacos hidráulicos, vai desmontando andares inferiores fazendo com que o edifício acabe desaparecendo.

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Asakasa Prince Hotel: novas tecnologias para demolir e construir

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Um Mínimo de Planejamento Para o Brasil

2 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: reação às prioridades indicadas pelos movimentos populares, um mínimo de planejamento indispensável, uso dos recursos disponíveis | 2 Comentários »

Pelo simples acompanhamento dos noticiários sobre as reações das diversas autoridades brasileiras aos agudos problemas que estão sendo levantados pelas manifestações que continuam e parecem que tendem a se multiplicar pelas variadas insatisfações, fica-se com a impressão que se tenta somente minimizar os danos políticos sem reformulações mais profundas e consequentes. As autoridades aparentam não dispor de uma concepção ou plano mesmo que geral para retomada do comando da situação, procurando reagir somente nas formas possíveis e rudimentares às reivindicações que consideradas justas, sem uma visão global do quadro em que o Brasil está inserido, atingindo outras economias emergentes.

Mesmo admitindo que o que vem acontecendo no país, também se observa em outros países emergentes e democráticos como a Turquia ou o Egito de formas explicita, mas também em muitos outros países de formas consideradas menos alarmantes, ainda que os indícios sejam de processos profundos que afetam a todos. No pano de fundo estão as sensíveis desacelerações dos seus crescimentos econômicos no passado recente. Com menos recursos disponíveis, os problemas políticos tendem a se agravar tanto em grandes países emergentes como na China e na Índia, inclusive em países já desenvolvidos como os da Europa. Nos Estados Unidos, parte da recuperação econômica vem sendo efetuado de forma duvidosa do ponto de vista da sustentabilidade, com sinais de agravamento dos danos ao meio ambiente, que acabam resultando em agudos problemas de acidentes climáticos como o que estão sendo sugeridos por pesquisadores qualificados, inclusive em revistas científicas como o Nature.

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A presidenbtre Dilma Roussef duranete reunião na Granja do Torto

Os princípios rudimentares de planejamento econômico sugerem que, para elevar a recuperação do crescimento brasileiro de forma equilibrada, indispensável para o atendimento das demandas atuais, deve-se tirar o melhor partido do que se dispõe no país, com expansão dos setores que mais os utilizam, dando menos prioridade para os segmentos que equerem muitos dos fatores que são mais escassos. A administração pública já conta com quadros qualificados para a elaboração de um plano simples, dando a ideia do conjunto das ações que estão sendo perseguidas.

Salta aos olhos as disponibilidades dos recursos naturais e a grande biodiversidade brasileira, quando o Brasil é comparado com outros países. As atividades voltadas ao largo uso destes fatores devem ser considerados prioritários, até porque também criam empregos e exigem modestas qualificações dos recursos humanos indispensáveis, mesmo que necessitem de novas tecnologias. No seu conjunto, ajudam a minimizar os problemas da balança de pagamentos, principalmente se alterada a política externa para ampliação dos acordos para redução das restrições alfandegárias para as exportações brasileiras, mediante acordos bilaterais ou regionais, mesmo considerando as dificuldades do Mercosul. Ainda que mantida a tese de apoio aos entendimentos globais no âmbito da Organização Mundial do Comércio.

Do ponto de vista de aproveitamento das energias geradas pelas recentes manifestações, existem melhorias como os que podem ser obtidas pelas reformas políticas, mas parece indispensável que se tenha uma clara ideia das formas pelas quais deverão ser efetuadas, nada indicando que o plebiscito seja o mecanismo mais adequado. Além de ele ser controvertido e demorado, parece que existem espaços para aperfeiçoamentos que podem melhorar o controle dos eleitos pelos seus eleitores, que parece o ponto fundamental da dissonância dos políticos com a população.

Definidos os objetivos prioritários, sempre parece conveniente esboçar-se a estratégia para atingi-los, com os usos dos recursos e instrumentos disponíveis. Sem a apresentação de um esboço global crível, as adesões políticas e populares parecem sempre mais difíceis de serem obtidos para a execução dos planos. A gestão para os diversos projetos vem sendo considerada deficientes, havendo que se admitir que os gestores para tanto devam ser considerados fatores escassos, necessitando serem economizados com fusões.

Ainda que haja resistências políticas, parece evidente que nenhuma administração pode funcionar com eficiência e economia com 39 ministérios, a que se somam agências independentes e outras autarquias, empresas estatais e todos os aparatos da administração pública que compõe o Executivo. Os princípios mais rudimentares da administração pública indicam a necessidade de fusões de muitos organismos, até por que de fato muitos não existem, nem seus titulares contam com despachos com a Chefe do Governo. A atual pressão sobre a classe política facilita a transformação de muitos ministros em secretários.

Ainda que com muito trabalho, sem muitos custos adicionais, poderia se retomar o processo de desburocratização da administração pública, que elevaria a eficiência de toda a economia brasileira, reduzindo a insatisfação popular, gerando algumas economias, notadamente no setor privado.

Mesmo um exame superficial poderá indicar outras áreas onde as economias poderiam ser sensíveis, visando os acréscimos dos dispêndios nas áreas agora consideradas prioritárias, não havendo necessidades de planos detalhados, mas somente de grandes diretrizes que seriam perseguidas pelo governo e que fossem de conhecimento da população.


Subsídios Livres Para Aperfeiçoamentos no Executivo

1 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: aperfeiçoamentos indispensáveis, indicações de algumas experiências anteriores, reuniões da Presidente Dilma Rousseff com seus ministros

No calor das pressões de rua, o governo federal no seu ramo executivo, expresso pela presidente Dilma Rousseff, manifesta a disposição no sentido da tomada de medidas que acelerem as providências para o atendimento urgente das principais reivindicações populares, como consta de diversos jornais. No entanto, parece haver uma dificuldade fundamental mais grave na estruturação atual da própria Presidência da República e do governo para se conseguir uma maior eficiência no seu funcionamento, de forma adequada para a particular condição brasileira. Inicialmente, parece indispensável reconhecer que no sistema presidencial brasileiro confunde-se a Presidência com o papel do Chefe de Estado, que precisa ser preservado a qualquer custo, pois representa o Brasil como país organizado. Ao mesmo tempo, sendo também o Chefe de Governo neste regime, há mudanças indispensáveis na sua orientação e funcionamento, em respostas às vozes da rua e as mudanças que estão ocorrendo no país e no mundo.

Pela sua característica pessoal, Dilma Rousseff, que ocupa atualmente o cargo, aparenta ser uma personalidade forte, bastante autoritária que procura se imiscuir nos detalhes de todos os aspectos que envolvem o Estado como o Governo. Acaba por sofrer desgastes que afetam ambos, sem contar com uma profunda experiência política pessoal. Mas com qualificações de pragmática diante de problemas que não apresentam soluções que sejam mesmo de sua preferência. Ainda que já tenha ocupado cargos importantes como de ministra, inclusive da Casa Civil, ela tem características de uma tecnocrata, que conseguiu a fama de uma boa gestora, agora questionada. No sistema presidencial brasileiro, a experiência tem demonstrado ao longo de sua história que o ideal seria a preservação da figura da presidente da República, distinguindo-se com alguém que coordene o Governo, ainda que a decisão final seja da chefe de Governo. Pela natureza do cargo, este papel tende a ser do chefe da Casa Civil que despacha diariamente com a presidente. Os ministros necessitam ficar com os desgastes de quaisquer inadequações, como anteparado da presidente da República. Ainda que muitos acreditem erroneamente que esta figura seria o comandante formal ou informal da área econômica que é relevante por controlar os recursos. Mas também existem assuntos militares, externos, políticos, sociais que acabam passando por uma preparação para a decisão presidencial em qualquer governo, que é transmitida para os principais auxiliares pela Casa Civil, ocupada por alguém que seria desejável que tivesse uma formação para uma visão global, o que é sempre difícil. E mesmo que não seja do agrado pessoal da presidente da República atual.

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Presidente Dilma Rousseff

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Uma Visão Mais Ampla dos Protestos Populares

1 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: análise do The Economist, o caso brasileiro, protestos proliferam em todo o mundo

Temos postado artigos sobre as manifestações populares no Brasil afirmando que não se trata de uma jabuticaba, um fenômeno que só ocorre entre os brasileiros. Uma série de artigos publicados pelo The Economist procura explicitar todos os movimentos recentes e os que estão acontecendo em muitos países, com reivindicações das mais variadas, mas tendo como algo em comum a utilização das redes sociais. Os casos mais notórios são da Turquia e do Egito, mas a revista vai procurar suas raízes desde a Revolução Francesa, as explosões que ocorreram na Europa e se espalharam pelo mundo em 1968 e 1989, bem como os atuais. Não se trata, portanto, de um fenômeno restrito ao Brasil, como muitos analistas e manifestantes ainda pensam.

Fenômenos semelhantes, todos com suas nuances diferenciadas, estão ocorrendo na Indonésia, na Bulgária, aconteceu nos Estados Unidos, em toda a Europa e até na Suécia, onde existem manifestações de insatisfação que não são lideradas por algumas organizações tradicionais, como os sindicatos ou partidos políticos. Encontram um caldo de cultura como no Brasil, onde mesmo com a atual melhoria da distribuição de renda, ela continua ainda precária. Ninguém sabe como vai se ampliando estas manifestações por diversos países, mas há indícios até na Bélgica ou na China, ou na Arábia Saudita.

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Evolução dos Acontecimentos Recentes no Brasil

1 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: aspirações legítimas a serem ordenadas, Brasil atual, existência de limites, pesquisas de opinião

A Datafolha, considerada uma entidade de pesquisa de opinião confiável, divulgou um recente levantamento indicando que em três semanas a aprovação da presidente Dilma Rousseff pela população caiu de 57% para 30%, uma das maiores quedas desde a época Collor, de forma generalizada por regiões e idades. Mas, somando os que consideram ótimo/bom com os que consideram regular, 43%, ainda está com 73% que não a desaprovam, ou seja, os que consideram o seu governo ruim e péssimo está em 25%. É um retrato do momento, que ainda não indica uma tendência definida, mas dá sinais importantes.

Esta queda não se observa somente com as manifestações populares, mas um sentimento que o emprego vai cair e a inflação vai subir, segundo dirigentes da Datafolha. Oito das dez pessoas pesquisadas, numa amostra devidamente estratificada, ouvindo 4.717 habitantes do Brasil, aprovam as manifestações recentes, ainda que uma pequena parte esteja descontrolada, não se evitando violências e depredações, em que pese o policiamento. Não há sinais de que elas diminuirão, pois todos os insatisfeitos com alguma coisa estão se manifestando, sem que haja possibilidade de controle. Estes assuntos acabam dominando as preocupações de todos que se consideram responsáveis, sobrepujando até o futebol que era um dos símbolos do país. Espera-se que a vitória brilhante na Copa das Confederações ajude a elevar a autoestima dos brasileiros.

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Presidente Dilma Rousseff

Esta é uma situação difícil para o governo, não somente federal, mas estaduais e municipais, assustando os empresários brasileiros e estrangeiros, que ficam conservadores nos seus investimentos. A redução de muitas tarifas atendendo algumas das reivindicações populares assustam os que pretendiam participar das licitações diversas de concessões públicas, o que pode indicar uma queda dos investimentos no futuro próximo, contribuindo para a redução do emprego e agravamento da situação, que se desejaria evitar.

A educação, no seu sentido mais amplo, fracassou no Brasil por todas as indicações. O despreparo vai das autoridades dos Executivos, Legislativo, Judiciário, acadêmicos como da população em geral, inclusive dos que pretendem efetuar as análises. Informa-se que estão programando uma greve geral, com o uso das centrais dos trabalhadores que só pode contribuir para piorar o emprego e os salários, que vinham sustentando o mercado interno, pois as exportações já estão fracas. Muitas análises que estão sendo divulgadas se restringem às questões internas, sem ver que o mundo enfrenta dificuldades como na Turquia, na China e até nos Estados Unidos, bem como em todo o resto do mundo.

A Dilma Rousseff que foi eleita por indicação do Lula é considerada muito teimosa e não conseguiu montar uma equipe de auxiliares capacitados, cedendo às pressões de políticos tradicionais. Ministros que são considerados fracos parecem ouvidos pela presidente dando opiniões sobre o que não entendem como a complexa reforma política e o processo de incorporar as forças geradas pelas manifestações públicas.

Se a presidente não se conscientizar que tem grandes dificuldades de diálogos, principalmente políticos e não é considerada boa para escolher auxiliares e seus gestores que não conseguem tocar os projetos necessários, provocando algumas mudanças de vulto na atual situação, sua reeleição está comprometida. Ela continua dependendo da base governista, composta pelos que parecem só aspirar ao atendimento dos seus interesses pessoais ou grupais.

Há pessoas sugerindo que ela anuncie o cancelamento do projeto de trem rápido no Brasil, promova fusões dos ministérios, escolha um chefe da Casa Civil que conheça a administração pública, tenha trânsito no Congresso e conte com credibilidade no setor privado. Sem decisões de grande impacto, somente com discursos e mesmo tentando ouvir agora muitos setores, não vai conseguir deter a continuidade de muitos manifestantes.

Ainda existe tempo até as eleições para corrigir o andamento do seu governo, mesmo porque os possíveis candidatos que podem lhe fazer oposição também não estão sendo capazes de capitalizar estas manifestações a seu favor. Todos os políticos estão sendo condenados e está havendo um esforço desesperado para acelerar algumas decisões no Legislativo, que nem sempre estão consideradas com o devido cuidado. E a experiência mundial indica que os segundos mandatos costumam apresentar performances não muito positivas.

Até no Judiciário estão decidindo alguns casos à toque de caixa, como a prisão de um deputado federal condenado por corrupção, sem que seu mandato fosse cassado, ainda que seja um clamor popular, mas muda a orientação até hoje adotada pelo Legislativo. Existe outros aspectos importantes, parecendo ser relevante estabelecer as prioridades.

Muitos manifestantes não possuem uma ideia clara da democracia não respeitando os eleitos, pensando que suas opiniões são mais poderosas que os votos dos modestos que se não apoiam o governo, também não estão contra e que bem ou mal elegeram os que estão com seus mandatos. Muitos pensam que a democracia direta das ruas pode conduzir um país complexo como o Brasil, o que pode ser perigoso, e não se revelou adequado em lugar nenhum e nem em qualquer época.

Muitas aprovações recentes até da presidente e de outras autoridades atendendo algumas reivindicações populares por mais legítimas que sejam acabam estimulando novas demandas. Não há sinais ainda de cansaço com tantas manifestações, ainda que se condenem as violências que continuam se repetindo.

Lamentavelmente, banalizou-se a vida humana ou os danos físicos às pessoas no Brasil. Crimes bárbaros, como o assassinado de uma criança boliviana de uma família que entregou todo o seu dinheiro que conseguiram trabalhando nas costuras de roupas porque estava chorando durante o assalto a uma modesta residência desta família, são sinais mais gritantes, das muitas violências que proliferam no país. Muitos são assassinados ainda que entreguem seus celulares, automóveis ou outros recursos ou propriedades, por jovens que nada mais respeitam. Adolescentes são violentadas sexualmente e mortas.

É preocupante, pois muitos criminosos são menores que não podem ser condenados adequadamente no Brasil, havendo necessidade de reduzir a idade para a responsabilidade criminal, ainda que eles tenham direito ao voto aos 16 anos. Ninguém parece ter paciência para os aperfeiçoamentos que são necessários nos mais variados aspectos de uma sociedade que pretende ser democrática e desenvolvida.

As redes sociais introduziram uma nova realidade no mundo, começando pela Primavera Árabe, chegando à Turquia que apresenta semelhanças nas suas características de um país emergente e democrático como o Brasil. Há tendências que estes fenômenos se estendam para outros países, pela intensidade com que estão ocorrendo entre os brasileiros.

A esperança é que com um pouco de tempo haja divisões fortes entre os manifestantes, principalmente entre os que os desejam manifestações pacíficas e ordenadas, sem violência, como em muitos grandes movimentos. Contra as minorias radicais que promovem violências. Pode-se esperar certo cansaço com todos estes acontecimentos, e um pouco de ações racionais por parte das autoridades, pois é preciso preservar o império da Lei. Que precisamos de aperfeiçoamentos na nossa democracia, a maioria deve concordar e não com situações semelhantes aos anárquicos.

É preciso acreditar que a grande maioria dos brasileiros aspira uma melhoria e não destruir o que foi construído com muito trabalho de todos ao longo de alguns séculos, o que certamente vai acabar acontecendo, apesar das muitas dificuldades que continuarão persistindo. Não há milagres, mas de tudo pode se tirar lições, e espera-se que as prioridades levantadas pelas manifestações acabem prevalecendo. Só com a redução da corrupção, muitos recursos poderão ser economizados, sendo destinados para o atendimento de parte das aspirações de toda a população, mas com respeito à democracia e ao império da Lei.