16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigos no Valor Econômico sobre os problemas de mobilidade dos recursos humanos, caso dos trabalhadores brasileiros no Japão, novas adaptações, voltas dos Estados Unidos e da Europa
Muitos brasileiros migraram para os Estados Unidos, Europa e Japão nos períodos em que as remunerações naqueles países apresentavam sensíveis vantagens sobre os pagas no Brasil. Nem todos estavam em condições regulares, sendo que no Japão foram concedidos vistos para trabalhos temporários. Eles tiveram dificuldades para se ajustar às condições no exterior, onde os idiomas utilizados, os hábitos de vida e do emprego e muitas outras condições eram diferentes das brasileiras. Nem sempre se prepararam adequadamente para enfrentar estas situações, concentrados que estavam nos seus trabalhos, visando remunerações que não conseguiam no Brasil. Mas, infelizmente, estes diferenciais foram reduzidos, ou os empregos se tornaram difíceis naquelas regiões, e muitos são obrigados a voltar, estando despreparados para novas adaptações, pois as condições no Brasil também se alteraram nestes longos períodos.
Dos cerca de 320 mil brasileiros que foram para o Japão restam somente cerca de 120 mil naquele país, segundo estatísticas oficiais
Estes dados não são totalmente seguros, pois entre eles existiam os que possuíam dupla nacionalidade ou passaportes japoneses, que também foram para o Japão para trabalhos temporários. Para os que dominam o idioma japonês ainda existem oportunidades, como ajudar a cuidados dos idosos e enfermos, mas a mão de obra nas indústrias ficou reduzida, restando ainda os trabalhos em condições duras como na manutenção das rodovias, onde ainda existem explorações de intermediários.
Não existem dados seguros dos Estados Unidos e da Europa, pois muitos eram trabalhadores ilegais, que para lá foram como se fossem turistas. Existem ainda os que foram para países vizinhos como o Paraguai, notadamente como agricultores.
Estes patrícios passam por períodos difíceis novamente, pois, na longa ausência do Brasil, as condições mudaram por aqui. Os salários locais chegam a ser considerados irrisórios com os que obtinham no exterior, ainda que não totalmente qualificados. Esforços estão sendo feitos para as suas adaptações, mas são limitados.
Os que mais acabam sofrendo são as crianças envolvidas nestes processos, pois muitas foram obrigadas a frequentar escolas no exterior, e hoje não possuem conhecimentos como os precários proporcionados no Brasil. Mas suas capacidades de adaptações acabam sendo mais rápidas que dos adultos.
Parece que todos os que optam por estes processos migratórios necessitam estar conscientes de todas as dificuldades, quer seja quando vão para o exterior como quando são obrigados a retornarem. Há que se admitir que estes recursos humanos, como de todos os migrantes, são de elevada coragem e capacidade para enfrentar situações novas, e mesmo com sacrifícios acabarão encontrando os seus caminhos, que podem ser mais fáceis se contarem com a ajuda de todos.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo da Bloomberg publicado no Valor Econômico, manipulações das cotações dos títulos dos EUA, sem instrumentos para coibir estas operações
Se já eram alarmantes as manipulações das taxas de juros como o Libor e as cotações cambiais em Londres, nas quais consagradas instituições financeiras internacionais estão efetuando acordos com multas pelas irregularidades constatadas pelas autoridades, a notícia divulgada por Matthew Leising, da Bloomberg, publicada no Valor Econômico é aterradora. Além da manipulação das cotações dos títulos do Tesouro Norte-Americano, cujo mercado supera uma dezena de trilhões de dólares por ano, está se identificando a falta de regulamentações sobre o assunto. Os operadores utilizam avanços tecnológicos de altíssima velocidade para produzir uma isca enganosa conhecida como “spoofing”, segundo o artigo, estimulando o mercado e cancelando posteriormente as mesmas. Os especialistas americanos que estão identificando estas operações alegam que não existem ainda instrumentos legais para coibir tais manobras.
Os praticantes do “spoofing” fingem que estão interessados na compra ou venda a determinado preço no mercado, criando a ilusão de demanda para que outros operadores se mobilizem para atendê-la. Cancelam o interesse inicial e compram ou vendem com os novos preços para lucrarem. Estas operações são conhecidas também como “pull and hit” (ou seja, puxar e bater). Os registros existentes mostram que ocorreram em paralelo em Chicago e em Nova Jersey, entre outras plataformas, em negociações mais rápidas que a velocidade da luz, envolvendo estratégicas combinadas entre operadores.
Se os títulos do Tesouro Norte-Americano eram considerados os mais seguros no mundo, os seus volumes cresceram muito com a política monetária dos Estados Unidos chamada de “quantitative easing” que objetivava a desvalorização cambial do dólar e a ampliação dos créditos bancários, visando a recuperação da economia posterior à crise de 2007/2008.
Se suas cotações estão sendo manipuladas para proveito de alguns dos operadores mais importantes e que introduziram inovações tecnológicas sofisticadas em suas operações, são preocupantes indícios da falta de transparência no seu mercado. Demostram a total desconsideração moral nestes mercados financeiros, fugindo dos princípios como os que começaram a ser colocados por Adam Smith e outros pensadores que se seguiram, para o funcionamento adequado do capitalismo e dos mercados.
Todos hão de concordar que os títulos do Tesouro Norte-Americano estão entre os papéis mais importantes no mundo, notadamente quando se ampliou o seu uso. Se as autoridades daquele país não contam com meios para coibir eventuais comportamentos que manipulam o seu mercado, chega-se à preocupante situação que os que detêm poderosas tecnologias acabem se beneficiando, em prejuízo de todos.
10 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo sobre o assunto no The Japan Times, falta de creches num país desenvolvido, falta de responsabilidade dos pais, tratamento desigual para as mulheres
Apesar do primeiro-ministro Shinzo Abe informar que o governo está tentando proporcionar as melhores condições para o trabalho das mulheres, leitores, como do artigo publicado por Rin Ichino no The Japan Times, ficam surpresos com as notícias de que uma economia desenvolvida como a japonesa não consegue fazer com que as mães, hoje responsáveis pela família, consigam se manter de forma condigna apesar dos seus empenhos, sendo condenadas à pobreza. Como no Japão a maioria dos divórcios ocorre de comum acordo e não há decisão judicial que responsabilize os homens também pelos encargos com a educação dos filhos e das ex-esposas, elas são obrigadas a trabalhar em condições bastante desiguais dadas as diferenças dos salários decorrentes do sexo. E o número de creches para seus filhos é mínimo.
As mães japonesas, hoje separadas, não conseguem manter o seu padrão de vida, pelos seus salários mais baixos e falta de creches
O artigo menciona diversos casos destas mães que hoje estão separadas, cuidam dos seus filhos e precisam trabalhar intensamente, ainda que seus salários estejam abaixo da metade do salário nacional. Poucas recebem o suporte dos seus ex-maridos e contam com creches convenientes para atender suas crianças. Esta situação coloca o Japão no último lugar entre os 34 países da OCDE, fazendo com que a maior parte dos encargos fique com as mães.
Os estudos efetuados por especialistas no assunto informam que os salários destas mães acabam ficando bem abaixo do mercado, em média 35% dos empregos de tempo integral e permanentes, por serem temporários e não de carreira. Elas possuem poucas reservas para enfrentar uma eventual aposentadoria, cerca de 5% da média dos japoneses.
Além de terem todas as tarefas de casa, acabam sendo obrigadas a aceitar empregos provisórios de tempo parcial, não contando com o adequado suporte para cuidar dos seus filhos. Algumas aspiram contar com serviços próprios como ensinar outras mães a cuidarem dos seus filhos, aproveitando as duras experiências que possuem. Somente 39% destas mães possuem um trabalho regular, e muitas dependem das ajudas dos seus pais.
Havia um programa subsidiado do governo no Japão para treinamento destas mães para as habilitarem a empregos, mas acabou sendo extinto, pois a falta de qualificação não se tratava do foco do problema.
Apesar de Shinzo Abe ter prometido a criação de 200 mil vagas nas creches, ele só conseguiu 9 mil, esperando chegar à meta nos próximos quatro anos. Somente 20% dos ex-maridos japoneses pagam as pensões para suas ex-esposas, inclusive seus filhos comuns, não havendo mecanismos legais para assegurar estes pagamentos. Este percentual nos Estados Unidos chega a 74%.
Ainda que estes problemas existam em muitos países, tudo indica que não são tão graves como os do Japão.
9 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as limitações, lições importantes, longas experiências no Executivo e no Legislativo
Francisco Dornelles, que está deixando o Senado, é uma das personalidades brasileiras que acumularam longas e profundas experiências também pelo exercício de variadas funções no Executivo. Depois de todos estes anos de vida pública, suas experiências, inclusive frustrações como apresentado na entrevista aos jornalistas Raquel Uchôa e Ribamar Oliveira do Valor Econômico, mostram as dificuldades existentes para a administração de um país tão complexo como o Brasil. Além de não conseguir soluções para seus problemas fundamentais, ainda continua acrescentando outros que acabam ampliando mais as responsabilidade de todos, dos eleitores, dos parlamentares, dos que estão no comando do Executivo, como até dos burocratas que não conseguem proporcionar uma operacionalidade para a gigantesca máquina da administração pública.
O conhecimento dos problemas aposentados, do seu ponto de vista de um experiente ator neste cenário brasileiro por muitas e muitas décadas, mostra como eles são difíceis de serem equacionados, mas, se não se desejar condenar o Brasil a uma estagnação, os mais graves terão que ser enfrentados. Não se trata de quem está no governo ou na oposição, pois ele esteve em ambos os lados, lutou para sanar muitos, mas os que se multiplicam hoje mostram que poucos avanços foram obtidos. Se suas observações forem aproveitadas, de alguma forma pode haver um ponto de inflexão, onde as soluções superem o surgimento de outros obstáculos.
Francisco Dornelles atuou no Executivo e no Legislativo
Ele lamenta não ter conseguido a reforma do setor financeiro, reconhecendo que o Conselho Monetário Nacional, hoje só constituido pelo ministro da Fazenda, ministro secretário do Planejamento e presidente do Banco Central, é que fixa a meta inflacionária a ser perseguida pelo Banco Central, que, em sua opinião, deve ter a plena autonomia para tanto. Todos, que possuem alguma experiência na administração pública, sabem que somente estas três autoridades não formam um verdadeiro Conselho que tenha liberdade para discutir alternativas.
Também lamenta não ter conseguido a reforma do sistema orçamentário, que entende deva ter a sua anualidade modificada, pois, ao seguir o ano civil, fica com a sua decisão concentrada no período mais difícil que é o final de ano. Em muitos países, reconhece-se que a função do Legislativo mais importante é a discussão deste orçamento, o que não acontece no Brasil.
Ele é também a favor do voto distrital como uma forma de ligar mais diretamente os eleitores aos eleitos, pois, no atual sistema proporcional, a responsabilidade fica diluida por uma bancada que é eleita por Estado, impossibilitando esta fiscalização mais próxima.
Entende que o problema crucial da economia brasileira é recuperar a sua capacidade de investimentos, que hoje está concentrada em algumas estatais como a Petrobras que está profundamente atingida pelas críticas. Ele entende que as pessoas responsáveis pelas irregularidades devam ser punidas e não as empresas, estatais ou privadas, que concentram os investimentos.
Como não existe uma preocupação com a eficiência da administração pública, a tendência que se observa é do continuo crescimento da máquina pública, até para o atendimento das necessidades sociais, que de alguma forma já vêm sendo contempladas, não havendo recursos tributários suficientes para a sua expansão.
Francisco Dornelles entende que deva haver uma forte desburocratização, uma privatização de muitas estatais, e que o erro cometido na Petrobras, onde ela ficou com a responsabilidade de 30% das concessões, precisa ser corrigido. Para que possa se contar com o setor privado, inclusive empresas estrangeiras para arcar de fato com os pesados investimentos indispensáveis.
A íntegra da entrevista pode ser acessado no http://www.valor.com.br/politica/3809092/temos-que-separar-empresas-das-pessoas .
8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: entrevista concedida em Tóquio ao The Economist
Shinzo Abe certamente será eleito nas próximas eleições japonesas de 14 de dezembro, restando saber se terá um apoio decisivo do eleitorado para o seu partido, o LDP – Liberal Democratic Party ou uma simples vitória pela falta de uma oposição mais articulada. Ele concedeu uma longa entrevista para o editor da Ásia do The Economist, Dominic Ziegler, e o chefe do escritório da revista em Tóquio, Tamzin Booth, sobre os assuntos relacionados com o papel do Japão na economia asiática e mundial, bem como assuntos internos do país, mesmo para questões que poderiam ser consideradas embaraçosas. As perguntas formuladas poderiam ser mais agudas sobre os problemas enfrentados pelo Japão.
Shinzo Abe em campanha eleitoral para conseguir respaldo mais amplo para o prosseguimento de sua política denominada Abeconomics
Diante da intensa atividade internacional de Shinzo Abe, a revista perguntou a ele se sentia com pressa, como um homem com uma missão. Ele respondeu que acha que não tem muito tempo, pois a China continua crescendo e os demais países procuram manter a sua competitividade. O Japão está com a população reduzindo e envelhecendo, carregando uma dívida pública enorme. O país teria que recuperar a sua força econômica, de forma democrática e pacífica. Para tanto, necessitaria promover reformas.
A revista entende que todos procuram ter vertentes diferentes para problemas internos e externos, o que no caso do Japão aparecem juntos. A resposta é que, na sua juventude, o Japão crescia muito e passou agora por 20 anos de estagnação. Não haveria como separar as duas políticas.
A revista perguntou sobre as diferenças atuais com o seu primeiro mandato como primeiro-ministro em 2007. A resposta foi a emergência da China e a estagnação japonesa. Ele entende que a melhoria econômica dos chineses está aumentando o seu turismo ao Japão, que foi recorde neste ano, perto de 10 milhões, devendo continuar crescendo para 13 milhões no próximo ano.
A pergunta seguinte foi como ele vê a China, e a resposta envolveu considerações históricas de sua província de Yamaguchi, sempre com a visão para o exterior. Destacou a flexibilização monetária que introduziu e recebia restrições de muitos.
A pergunta foi como segue a Abeconomics depois da eleição. Ele afirma que pretende reformas como o da agricultura, da assistência médica, como do mercado de trabalho. À pergunta de como seria isto, ele se referiu à utilização da mão de obra feminina e a melhoria na redução dos desperdícios na medicina.
Outra pergunta foi feita sobre o TPP – Parceria Trans-Pacifica. Abe se considera o líder mais forte que pode avançar no TPP. A pergunta voltou para a China, quando Xi Jinping mostrou na foto de ambos que havia uma contrariedade. Abe informou que entendeu a posição dele, como se fora para consumo interno. A pergunta agora foi sobre Senkaku, Abe entende que todos terão que se entender sobre o Mar da China.
A pergunta seguinte foi sobre os 70 anos do término da Guerra, começando com o problema das “mulheres de conforto”. Ele respondeu sobre o seu lamento, mas, quando o Japão é difamado, precisa defender a sua honra. Acha que no século XXI o direito das mulheres precisa ser protegido. Abe acha que alguns erros foram cometidos, mas entende que as relações com a Coreia do Sul não pode se restringir somente a este item.
À pergunta sobre os fantasmas existentes nas relações asiáticas, Abe respondeu que fantasmas não existem, e que o Japão adota uma política proativa na região.
Numa avaliação geral, a entrevista só poderia ser interessante se as perguntas formuladas fossem relevantes. Não foi perguntado como o Japão vai enfrentar o problema de sua redução da população e seu envelhecimento, e se isto pode provocar uma flexibilização às restrições a imigração. Também quanto ao grande problema da dívida pública, como vai se realizar o aumento da tributação indispensável.
Sem que se caminhe para as questões fundamentais do Japão, ainda que de difícil solução, parece que mesmo a prorrogação da permanência de Shinzo Abe no comando do país não vai resolver os problemas cruciais dos japoneses.
7 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: estudos na CIBPU, Lucas Nogueira Garcez e Eduardo Yassuda, sugestão dos anos 1960, uso do Vale do Ribeira para abastecimento de água de São Paulo
Lamentavelmente, nem sempre os administradores públicos seguem as sugestões de especialistas de alto nível como no caso do abastecimento de água, que agora se tornou crítico. Já nos primeiros anos da década dos anos sessenta, o professor Lucas Nogueira Garcez, que foi governador do Estado de São Paulo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma das maiores autoridades em hidráulica no Brasil, apresentava na CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai a sugestão que o Vale do Ribeira fosse utilizado para abastecer de água à região metropolitana de São Paulo, que carecia de outras fontes alternativas importantes. Ele e o seu assistente, professor Eduardo Yassuda, posteriormente secretário de Obras do Estado de São Paulo, já apresentavam estas sugestões, apesar das diferenças de altitudes das águas daquele Vale do Ribeira e São Paulo. Muitas gerações de administradores públicos passaram pelo Estado de São Paulo e só agora surge novamente a lembrança dos estudos efetuados.
O artigo publicado no site do Estadão, por José Maria Tomazela, informa com muitos detalhes esta atual necessidade, ainda que os custos do seu bombeamento possam ser importantes. Informa que o volume pode ser correspondente a duas Cantareiras que hoje é o reservatório mais crítico e fundamental para o atendimento da metrópole paulistana, que além da Capital abrange diversos municípios ao seu redor. Não se trata somente do abastecimento para as residências, que certamente é prioritário, mas todas as atividades econômicas da mais importante região da economia brasileira. Informa-se que se trata de um conjunto de oito represas capazes de fornecer 60 mil litros por segundo.
Todos os que estão familiarizados com os mapas da região sabem que o Vale do Ribeira fica no extremo sul do Estado de São Paulo, contando também com uma parte no Estado do Paraná, tendo como sua principal cidade Registro. Trata-se de uma área que conta relativamente com muitas matas do Atlântico mantidas como reservas, com atividade econômica menos intensa do que o resto do Estado, onde existe uma represa importante que fornece energia para a produção de alumínio de um grupo privado. A sua altitude, praticamente ao nível do mar, diferencia-se bastante do planalto da região metropolitana de São Paulo.
Mapa dos municípios da região do Vale do Ribeira, parte no Estado de São Paulo e parte no Estado do Paraná
Bacia do Rio Ribeira do Iguape
Segundo o artigo publicado no Estadão, a região foi a menos afetada pela estiagem que atingiu São Paulo neste ano. O uso dessas águas para suprir a demanda da região metropolitana está no Plano de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, do governo estadual, que prevê alternativas para o abastecimento urbano até 2035. E esclarece que a concessão de uso das barragens feita pelo governo federal à empresa de alumínio vence em 2016. De acordo com o secretário executivo do Comitê de Bacia Hidrográfica Ribeira de Iguape e Litoral Sul, Ney Ikeda, a renovação terá de ser negociada tendo como foco o uso múltiplo das águas.
O artigo esclarece que a primeira obra de transposição da água do Vale do Ribeira para a Grande São Paulo deve ficar pronta em 2017. O Sistema Produtor São Lourenço, resultado de uma parceria público-privada entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Consórcio São Lourenço, prevê a captação de 4,7 mil litros por segundo na Represa Cachoeira do França, no Rio Juquiá, no limite entre Ibiúna e Juquitiba. A água será transportada por 83 km de adutoras até uma estação de tratamento em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana, para ser distribuída.
O estudo, continua o artigo, concluído em 2013, antes da estiagem que afetou o Estado, estima que a demanda de água na Grande São Paulo em 2035 chegará a 283 mil litros por segundo – 60 mil litros a mais do que a disponibilidade atual em períodos normais. Segundo o plano, o Vale do Ribeira é a área mais próxima com água disponível. E o artigo esclarece que, para Ikeda, o uso de um volume maior de água do Rio Juquiá requer novos estudos. Na opinião do técnico, o Vale do Ribeira tem abundância de água com qualidade porque as condições físico-geográficas do ambiente que abriga os recursos hídricos foram preservadas.
Não se trata de um projeto fácil de ser executado, mas, a esta altura da crise, o abastecimento de água exige soluções heroicas, ainda que custosas.
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5 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no The Wall Street Journal, efeitos da política monetária americana, reações do resto do mundo
Um artigo recente publicado por Nicole Friedman no The Wall Street Journal informa que a política monetária aplicada nos Estados Unidos, inundando o mundo com dólares e crédito, está melhorando as perspectivas do seu crescimento econômico, ao mesmo tempo em que os preços das principais commodities estão desabando. Provocam reações como da Europa e do Japão, que tendem a adotar políticas semelhantes, promovendo a desvalorização dos seus câmbios. Parece até irônico que a jornalista e aquele jornal não se deem conta de que os Estados Unidos não podem estar isolados neste mundo globalizado, e que as reações que ocorrem em outras economias representa algo como uma guerra cambial, para suas sobrevivências.
Gráfico adaptado do publicado no The Wall Street Journal, incluindo o real brasileiro
No gráfico, fica claro que, depois da crise provocada pelos bancos norte-americanos em 2007, diversos países sofreram valorizações das suas moedas, e procuram minimizar os efeitos da recessão mundial que se aprofundou em 2009. Houve uma tendência das demais moedas se valorizarem com relação ao dólar, havendo nos últimos anos uma tendência para suas desvalorizações agressivas, como defesa.
O caso brasileiro mostra que as reações das exportações como das importações não são imediatas a estes movimentos cambiais, havendo defasagens que costumam variar de 18 a 24 meses, notadamente nas exportações, dependendo ainda de outros fatores de política econômica, como a prioridade dada aos relacionamentos externos.
Ao mesmo tempo, depois de 2009, os preços dos produtos de exportação do Brasil, como os minérios e os produtos agrícolas, melhoram sensivelmente com a demanda, principalmente dos chineses. Os das importações brasileiras não tiveram estes comportamentos, fazendo com que a chamada relação de troca pelos economistas ajudassem a gerar superávits na balança comercial. Esta tendência já se encontra agora em queda, acentuando-se em 2014.
Como consequência, os déficits comerciais se tornaram inevitáveis, obrigando que o governo permitisse a aceleração recente da desvalorização cambial, para que os problemas não se agravassem.
Além destes problemas para os outros países no mundo, os Estados Unidos temem agora que o fluxo de turismo para aquele país tenda a reduzir-se com o dólar mais caro, deixando de contribuir para a melhoria da sua economia.
No Japão, a chamada Abeconomics não está proporcionando os resultados esperados, mesmo com a brutal expansão dos seus créditos. Os europeus também, mais cautelosamente, procuram ativar a sua economia. Parece necessário que os países economicamente poderosos se deem conta que não estão isolados no atual mundo globalizado, havendo que compatibilizar a sua recuperação também com a conveniência dos seus parceiros externos, notadamente os que não possuem moedas de circulação internacional.
5 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a fonte original na revista Nature, artigo em português sobre o gás do xisto na Folha de S.Paulo, os problemas existentes, possibilidade de superestimação das reservas
Disseminou-se um exagerado otimismo com o gás do xisto nos Estados Unidos a ponto de influenciar fortemente na atual queda de preços dos combustíveis no mundo, pois se acreditava que seria uma tendência de longo prazo. No entanto, estudos mais acurados, como os mencionados na revista científica Nature, que costuma ser cuidadosa, com matérias elaboradas por Mason Inman, informam que especialistas da Universidade de Texas discordam dos organismos oficiais como a US Energy Information Administration – EIA, mostrando que pode ter ocorrido um exagero nas projeções. Os estudos mais detalhados estão mostrando as diferenças nas características de muitas reservas nos Estados Unidos, o que ocorre também em outros países como a China, tida como a que detém a maior reserva mundial, mas não se empenhou na sua exploração, também devido limitações de sua disponibilidade de águas.
Produção de gás de xisto na reserva de Marcellus nos Estados Unidos
O otimismo foi provocado pela formação da reserva chamada de Marcellus, que se estende da West Virgínia, Pensilvânia e Nova Iorque, onde já funcionam 8 mil poços, que continuam aumentando. Cada poço chega até a 2 quilômetros de profundidade, e serpenteia por mais um quilômetro através da reserva que não é uniforme. Somente ela abastece a metade do consumo de gás dos Estados Unidos. As outras grandes reservas são o Barnett, no Texas, o Fauetteville, no Arkansas, e Haynesville, que fica na fronteira de Louisiana e Texas. Todos somam 30 mil poços, produzindo dois terços da produção do gás de xisto dos Estados Unidos. Evidentemente, os produtores se concentraram nas localidades que apresentam maiores disponibilidades de gás, devendo encaminhar para outras menos produtivas.
A agência EIA, no seu relatório anual de 2014, estimava que com a expectativa de aumento gradativo dos preços do gás natural haveria um aumento da produção até 2040, quando poderia deixar de crescer. Nas últimas previsões, o aumento chega somente até 2020 e deve se manter no mesmo patamar até 2040. Muitos efetuam previsões diferentes, usando dados que não são os mesmos, mas o que se sabe é que as reservas são irregulares em conteúdo de gás explorável do ponto de vista econômico, tanto na mesma área que é gigantesca como nas outras regiões.
No mínimo, os estudos mais detalhados estão resultando na possibilidade de riscos mais elevados, principalmente se o preço do gás não continuar subindo, como já vem acontecendo com o petróleo. Também se observam que nem todos contam com água em volume que possam ser poluídos. O caso da Polônia, a mais promissora na Europa, parece estar sugerindo maior cautela.
Existem problemas metodológicos sobre as estimativas, e o entusiasmo geral parece ter induzido a um otimismo exagerado, mas também existem opiniões divergentes. Os detalhamentos acabam melhorando as estimativas que estavam sendo feitos de forma geral, quando não se comprovam as uniformidades desejadas.
O artigo publicado levanta a hipótese de ocorrer um fiasco com o exagerado otimismo que acabou prevalecendo nos Estados Unidos.
3 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a mesma perplexidade nossa, a possível continuidade de Shinzo Abe, pesquisas de opinião eleitoral da Kyodo no Japão, redução de sua bancada | 2 Comentários »
Quando o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe dissolveu a Dieta convocando novas eleições gerais, com a alegação que desejava um respaldo para uma nova elevação inevitável do imposto sobre as vendas dos atuais 8% para 10%, quando a anterior elevação de 5% para 8% aprofundou as dificuldades japonesas, confessamos que ficamos perplexos. Apesar de admitir que ele deva entender mais da política no Japão do que analistas do exterior, nós revelamos até neste site a nossa dificuldade de sua compreensão. Na falta de uma oposição adequadamente estruturada, todos esperam que ele seja reeleito, mesmo não contando com o desejável respaldo à sua Abeconomics.
Uma pesquisa realizada pela agência Kyodo, segundo artigo publicado por Reiji Yoshida no The Japan Times, informa que o premiê conta agora com maior reprovação que chega a 47,3%, superior à aprovação estimada em 43,6%. A estimativa é que sua bancada do LDP – Liberal Democratic Party deverá reduzir de tamanho, enquanto o seu aliado na coligação Komeito deve ter um ligeiro crescimento, perdendo a maioria que permitia a ele a nomeação de todos os presidentes de comissões.
Foto The Japan Times para mostrar os eleitores ouvindo as explicações
Informa-se que os discursos da campanha estão confusos, havendo os que são efetuados nas regiões afetadas pelas radiações, como próximas a Fukushima, onde o próprio governo afirma que esforços devem ser feitos para a sua recuperação, que até agora se mostrou insuficiente. Nos grandes centros urbanos, afirma-se que com o Abeconomics a economia deve entrar numa fase de recuperação com a injeção de surpreendentes montantes de recursos.
No entanto, o que está se verificando é que os bancos temem os riscos de aumentarem seus empréstimos, ao mesmo tempo em que as empresas como os consumidores não se sentem seguros para assumir responsabilidades. A oposição afirma que somente uma pequena elite se beneficiou da melhoria das bolsas, bem como a desvalorização do yen, que deve beneficiar o aumento das exportações, enquanto os assalariados tiveram comprimidos os seus poderes de compra, principalmente com a elevação dos impostos e dos preços dos produtos importados.
Acaba-se suspeitando que a eleição foi convocada para que Shinzo Abe tenha o seu governo prorrogado, ainda que sofra uma redução de sua bancada, aproveitando somente um momento em que a oposição não conta com uma organização de sua equipe para vencer o pleito. Mas o respaldo desejado pelo premiê parece difícil de ser conseguido, podendo aprofundar a crise japonesa.
O mundo globalizado está necessitando da economia japonesa mais ativa, capaz de contribuir na melhoria de todos os seus parceiros. Já afirmamos que as bases das dificuldades japonesas estão na redução de sua população e no seu relativo envelhecimento, e se estes problemas não podem ser resolvidos, as suas dificuldades tendem a persistir, o que seria extremamente lamentável.
Ainda que o tempo da campanha eleitoral seja muito curto, estas discussões devem ser intensificadas, até porque não há uma aparência que as atuais sejam capazes de proporcionar condições para a estabilidade do governo por um longo período.
2 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: inovações que estão sendo introduzidas, necessidades brasileiras, suplemento setorial sobre embalagem do Valor Econômico
Em que pesem as informações bastante otimistas de representantes do setor de embalagem neste suplemento do Valor Econômico, notadamente na introdução de inovações para atender as necessidades da economia brasileira para os consumidores brasileiros, as deficiências práticas das embalagens brasileiras comparadas com as encontradas no exterior acabam surpreendendo, ficando-se com a impressão que existem dificuldades que necessitam ser superadas. Muitos especialistas informam que, apesar das tecnologias disponíveis no Brasil, os produtores que utilizam estas embalagens resistem em arcar com os seus custos, ainda que isto seja um comportamento compreensível. As exigências de qualidade de produtos alimentícios, principalmente quando voltadas às exportações, exigem a aceleração das adoções de tecnologias já disponíveis no mundo, para preservar a competitividade dos produtos brasileiros, notadamente do ponto de vista da qualidade.
Um artigo da jornalista Simone Goldberg e outros do setor de embalagens do Valor Econômico mostram a consciência que existe da necessidade de aperfeiçoamentos, apesar de muitas inovações estarem sendo introduzidas para atender as necessidades deste mercado. A presidente da ABRE – Associação Brasileira de Embalagem informa que levantamentos estão sendo feitos com parceria com a Fundação Getúlio Vargas, informando que o setor necessita pensar como ser criativo e inovador. Seria uma ideia de agregar valor aos produtos visando tanto o mercado interno como o externo para a ampla diversidade de produtos disponíveis no Brasil, onde se destacam os alimentos e as bebidas. Um especialista do setor informa que a reciclagem e o reúso estão cada vez mais em pauta, com a consciência da necessidade de sustentabilidade, ainda que os consumidores não estejam dispostos a pagar por estas inovações, o que ele pensa poder ser superado pelo design.
Produção em 2013, segundo estudo da Abre/FGV
Os artigos constantes do suplemento demonstram que existe uma consciência do setor que há um exagero nas importações, e que precisam se qualificar para poderem ajudar os exportadores, notadamente quando os produtos embalados pretendem remeter à brasilidade, com sabores ainda pouco conhecidos no exterior.
Acompanham as inovações que continuam aceleradas no exterior, e nem sempre o seu ritmo no Brasil é suficiente para as inovações desejáveis. As exigências com relação à qualidade dos alimentos devem permitir o seu rastreamento com rapidez. Ainda que o Brasil ocupe a sétima posição mundial na área das embalagens, podendo superar ainda alguns outros países, tudo indica que os seus custos não facilitam a competitividade.
Como as exportações tradicionais do Brasil, como os minérios e as produções agropecuárias, encontram atualmente limitações, haverá necessidade de diversificação das mesmas, principalmente com o aproveitamento da biodiversidade brasileira, o que vai exigir embalagens de elevada qualidade para a preservação dos produtos que atendam as exigências das agências de vigilância de outros países importadores.
Muitos dos problemas do setor de embalagem já são conhecidos, mas as indicações é que alguns componentes ainda não estão disponíveis com produções internas competitivas, exigindo que continuem sendo importados até se atingir a escala que permitam viabilizar economicamente as produções internas.
As autoridades terão que estar atentas a estes problemas. Como o mercado interno de produtos alimentícios preparados também se encontra em expansão, uma parte destes produtos serão voltados para o atendimento de suas especificidades.