1 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a ética na economia, a lei anticorrupção, aumento das discussões, entrevista de Dalton Sardenberg para o Valor Econômico
Ainda que a entrevista concedida pelo professor Dalton Sardenbeg da Fundação Dom Cabral sobre a sua pesquisa com relação à operacionalidade da lei anticorrupção resvale em assuntos de grande importância, novamente uma simples entrevista não parece ter a capacidade de aprofundar o assunto, fornecendo um quadro que permita uma formação de opinião a respeito, ainda que ajude na sua discussão pública. Foi concedida a Marcos de Moura e Souza e publicada no Valor Econômico. O entrevistado é doutorado em governança corporativa na Universidade de Birmingham e leciona a mesma matéria nos cursos da Fundação, estando com uma pesquisa em andamento que recebeu 286 respostas de empresas brasileiras, o que é um avanço significativo nesta discussão e mostra a elevada qualificação deste pesquisador, podendo indicar algumas tendências dos novos empresários, ainda que não possa fornecer todos os dados desejáveis.
Este complexo assunto se mistura com a difícil realidade, onde na economia nem sempre se atua somente com o que é ético, infelizmente, pois as empresas procuram obter os melhores resultados possíveis, na crença de estar com isto contribuindo para a economia do país, o que nem sempre é verdade. A legislação procura, de forma limitada, fazer com que a concorrência seja a mais intensa possível, ainda que muitos fatores conspirem contra ela.
Onde leciona e pesquisa Dalton Sardenberg
Numa reunião de brasileiros com os japoneses, um experiente líder empresarial do Japão sussurrava aos meus ouvidos que os que lá estavam não eram verdadeiros empresários do Brasil. Estavam convidando os concorrentes do Japão a efetuarem investimentos no Brasil para disputarem os seus mercados, quando na realidade sempre existem mecanismos para a proteção do mercado para os grupos locais. Na legislação brasileira existe uma margem de no mínimo 20% mesmo para as concorrências efetuadas para projetos com financiamentos internacionais como o do Banco Mundial.
No mundo real, os empresários almejam o monopólio, se possível, e não apreciam a concorrência, e quando viável se organizam em cartéis para evitar a redução de suas margens de rentabilidade, até com a ajuda das autoridades. Pode parecer cínico, mas isto se aproxima mais da realidade, pois os empresários não são filantropos, ainda que evitem envolver-se no que é considerado criminoso, o que afeta a imagem de suas empresas.
Cada país possui uma legislação específica para tentar coibir as empresas de se envolver em atividades consideradas corruptas para conseguirem vantagens de autoridades estrangeiras. Em muitos casos, até o uso de recursos são admitidos se provados que sem estas operações se torna impossível a sua competitividade vis-à-vis com outros concorrentes.
Lamentavelmente, existem muitos paraísos fiscais historicamente onde estas operações são mais frequentes, notadamente quando envolvem aspectos financeiros. Alguns países são mais rigorosos com suas empresas que operam nestas localidades, visando a preservação de sua imagem.
No Brasil, depois da Constituição de 1988, parece que está se organizando um sistema onde estas operações tendem a ficar mais difíceis, com o desenvolvimento do Ministério Público que ainda está num processo de aperfeiçoamento, notadamente para evitar o vazamento de informações de processos que deveriam ser conduzidos em sigilo até a comprovação final das irregularidades cometidas e seus responsáveis. Muitas vezes, a vaidade pessoal de autoridades envolvidas preferem suas presenças nas mídias, ainda que isto seja inadequado.
Na entrevista, o professor Dalton Sardenberg mostra-se otimista com a evolução de uma cultura no Brasil contra a corrupção, notadamente entre os mais jovens. É uma esperança desejável, mas sem que mecanismos para tanto sejam explicitamente colocados numa discussão na sociedade brasileira, parece existir o risco de que isto acabe ficando no campo das meras aspirações, sem um respaldo mais amplo, que permita caminhar no sentido de legislações mais rigorosas de aplicação mais fácil.
O Brasil está em foco no mundo sobre estes aspectos, pois muitas das irregularidades acabaram ficando públicas. Mas há que se observar que muitos que estão condenando facilmente do exterior, principalmente, também continuam envolvidos em muitos escândalos financeiros que chegam a bilhões de dólares, que estão sendo encerrados com meros acordos judiciais implicando em multas.
Há que se concordar que o aumento da discussão ampla deste difícil problema pode trazer novas luzes para a redução das irregularidades.
1 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as dificuldades de compreensão dos acadêmicos, entrevista de um historiador sobre as relações das empreiteiras com o poder, mudanças que ocorrem
Uma das maiores dificuldades para as compreensões dos processos complexos dos relacionamentos das empreiteiras com o poder é que muitas análises feitas com a maior boa vontade por acadêmicos e expressos numa simples entrevista não permitem nem sempre abarcar seus aspectos mais relevantes, ainda que sejam sempre úteis pelos seus esforços. Uma entrevista concedida pelo historiador Pedro Henrique Pedreira Campos a Carol Prado, da Folha de S.Paulo, parece ser o caso. Ele leciona na Universidade Rural do Rio de Janeiro, é autor de livros como “Estranhas Catedrais”, “Nos Caminhos da Acumulação” e “Ensaios de História Social”, e ainda que ofereça algumas pistas interessantes pode conduzir a conclusões perigosas, como a sugerida pelo título atribuído à entrevista. Todos sabem que não é de hoje e nem somente do Brasil que estas relações existem, sendo famoso o chamado complexo militar industrial dos Estados Unidos, bem como estes relacionamentos duvidosos que sempre existiram em muitos países, como o Japão.
No fundo, o custo dos processos democráticos é elevado e as empresas que fornecem materiais como serviços para o governo sempre arcaram com parte destes custos, das mais variadas formas, nem sempre de modo transparente para o público, para continuarem usufruindo das benesses dos que podem ser conduzidos ao poder. Deve-se ressaltar que isto não acontece somente no setor público, mas também nos grandes interesses privados. Limitar a análise para um determinado período no Brasil apresenta algumas dificuldades, como quando ele se refere à importância da empreiteira Metropolitana no financiamento da IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, pois ela é uma das que caracterizavam as empreiteiras de importância no período anterior, e que acabaram perdendo-a. Também havia outros interesses privados no regime do governo, que não se restringiam às empreiteiras.
A construção de Brasília determinou uma nova onda de novos empreiteiros
Parece possível identificar algumas fases, como quando a capital brasileira estava sediada no Rio de Janeiro, período em que alguns organismos tinham conseguido relacionamentos com os detentores do poder de então. Eles perderam importância no processo de construção de Brasília, quando novas empreiteiras se destacaram aproveitando as urgências bem como o trabalho intensivo nas regiões pioneiras como os cerrados do Centro-Oeste, cujos custos nem sempre foram devidamente avaliados. No período autoritário, outras que já estavam com capacidades técnicas com a construção de grandes obras complexas como as hidroelétricas no Centro-Sul tiveram uma ascensão e procuraram manter a sua posição. Para ser realístico, sempre o governo teve menos capacidade de formular programas e projetos em seus detalhes, salvo poucas exceções, e os oferecimentos de estudos feitos pelas consultorias de engenharia que pertenciam às empreiteiras sempre tiveram um papel relevante no convencimento das autoridades sobre suas prioridades, como temos apontado neste site. Isto independia dos partidos que estavam no poder.
Tudo indica que, com todos os escândalos que estão sendo divulgados, haverá uma tendência de algumas que já conquistaram dimensões apreciáveis evitarem riscos futuros nestes projetos no Brasil. Com a nova legislação que envolve a responsabilidade de membros do Conselho de Administração em crimes e utiliza as delações premiadas, muitos grupos tenderão a evitar envolvimentos, abrindo espaço para uma nova geração de empreiteiras, ainda sejam pequenas e médias, que contem com dirigentes ousados e tenham acesso às novas tecnologias que estão sendo empregadas nestas obras. Por mais que o governo se aparelhe para contar com organismos que preparem programas e projetos, o setor privado tende a ser mais flexível e dinâmico para detectar novas oportunidades tanto de projetos governamentais como público-privados.
Com as acentuadas flutuações que ocorrem no Brasil, muitos grandes grupos que já possuem apreciáveis experiências internacionais podem dar prioridade para a expansão no exterior de suas atividades, e isto não deve significar o uso de corrupções.
Seria um pouco acadêmico imaginar que haveria um processo de seleção dos empreiteiros onde todas as concorrências seriam transparentes. Parece quase inevitável que haja alguns arranjos semelhantes aos cartéis e nos projetos considerados urgentes ou de emergência sempre haverá necessidade das escolhas recaírem nas empresas que apresentam, aparentemente, as melhores propostas. Infelizmente, são segmentos de grandes projetos e que exigem tecnologias, capacidade financeira, equipes técnicas que não estejam suficientemente disseminadas pelo mundo para permitirem concorrências como as que seriam desejáveis.
O que se pode esperar é um processo que evite gritantes abusos com o avanço do processo democrático. Os grupos que estejam na oposição necessitam se aparelhar tecnicamente para apontar as tendências de distorções, por mais que estejam, aparentemente, sendo desenvolvidos sistemas de controle público. Também não parece conveniente que todas as empreiteiras sejam generalizadas, pois sempre existem alhos como bugalhos.
A primeira hipótese é que estas sociedades todas são de seres humanos e não de anjos, e por mais que se deseje que haja uma redução da ganância, parece mais produtivo que se desenvolvam sistemas que coíbam os abusos, na medida do possível.
30 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as mudanças provocadas pela internet, efeitos das economias com baixos crescimentos, o papel da consolidação da democracia, observações no Brasil e no mundo, tendências monopolísticas
Todos reconhecem a importância da imprensa independente e livre para a consolidação e preservação da democracia, mesmo que ela, por ser uma atividade humana, também esteja sujeita a erros, que muitos veículos reconhecem quando detectados. Há indícios de uma difícil transição por que ela está passando, tanto pelo baixo crescimento econômico mundial como pelas mudanças de alguns comportamentos dos seus usuários em decorrência da internet. O que aparenta estar acontecendo, na grande maioria dos veículos e grupos da imprensa, é a queda de suas receitas, indispensável para a manutenção de sua qualidade, com um corpo de jornalistas competentes. Ao mesmo tempo, parece que parte de muitos que utilizam seus serviços tem hoje uma preferência pela velocidade na sua obtenção, ainda que haja alguma superficialidade nas matérias veiculadas. Este quadro acaba provocando também uma tendência a maior concentração econômica dos grupos envolvidos com as comunicações, gerando situações monopolísticas indesejáveis que aproveitam variados veículos para usar as vantagens da aglomeração, funcionando como uma central de informações.
Isto não parece uma tendência que se observa somente em determinados países, mas por todo o mundo que está cada vez mais globalizado. Vivemos numa aldeia cada vez mais global, onde o que acontece em determinado lugar acaba tendo repercussões em outros, quer seja do ponto de vista econômico, político ou social. Todos passam a depender dos outros, queiramos ou não. Isto fica evidente como no caso da preservação do meio ambiente, onde o aquecimento global torna mais agudo os fenômenos climáticos, afetando a todos. Ao mesmo tempo, não temos ainda a capacidade de um razoável consenso das medidas e metas que precisamos perseguir de forma coletiva. Os meios de comunicação social são vitais nestes complexos processos de decisão coletiva, ainda que a ganância humana não facilitem as tomadas de medidas razoáveis para todos.
Medidas vieram sendo tomadas por alguns veículos para aumentar as suas receitas preservando a qualidade das matérias publicadas. Muitos passaram a promover eventos patrocinados por setores ou empresas interessados na discussão e divulgação de determinados assuntos, que gerariam o material de qualidade com palestras de especialistas para a edição de suplementos ou sua veiculação normal. No entanto, a concorrência por este mercado tornou-se acirrada, e nem sempre se conta com anúncios e patrocínios que permitam a rentabilidade destes pacotes nos períodos recessivos.
A grande maioria dos grupos está ampliando o número dos seus veículos, que, além dos jornais impressos, envolvem revistas, rádios e televisões, inclusive para os mais ágeis e rápidos como os que utilizam a internet, alguns com assinaturas. Ainda que o mercado de publicidade para estes meios estejam se ampliando, eles exigem volumes que necessitam concorrer com outras organizações especializadas nestas áreas.
Todos os profissionais especializados em comunicações sabem que precisam atender as preferências dos seus usuários como dos patrocinadores. A maioria dos seres humanos parece tender a apreciar fatos mais positivos que existem na realidade que os deixam otimistas, do que a intensidade de destaque dos aspectos negativos que tendem a criar um clima depressivo. Mas também sabem que um dos papéis da imprensa é ser crítica. Um razoável equilíbrio difícil de ser definido parece o mais recomendável, ainda que muitos veículos mantenham posições ideológicas contrárias aos que se encontram no poder, confundindo as divulgações com campanhas políticas.
Alguns analistas entendem que existem muitos aspectos nos países emergentes, como o Brasil, que podem ser enfocados com um prisma mais construtivo, mesmo quando se referem às dificuldades existentes. Muitos estão lutando para superar as limitações, ou podem ser oferecidas sugestões para as possibilidades de superá-las, informando sobre o que tem sido feito em outras localidades neste sentido.
De outro lado, existem situações em que o poder político acaba relevante no mercado publicitário, mesmo que muitos órgãos de imprensa evitem ser identificados como “chapas brancas”. Há que se reconhecer também que em muitos países existem entidades públicas atuando na imprensa, muitas concentradas em assuntos de interesses culturais, educacionais ou interesse público. Parte dos seus recursos é originário dos orçamentos públicos.
Nas entidades totalmente privadas, em setores que no Brasil funciona sob o sistema de concessão, alguns horários podem ser requisitados pelo poder público. Como elas vivem das audiências, também existem programas que são consideradas mais populares, inclusive tipo novelas, que apresentam elevados níveis de interesse popular.
Em alguns países, como no Brasil, parece haver um exagero de interesse religioso nos órgãos de comunicação social que são utilizados para finalidades de ampliação do número dos seus adeptos. Como entidades religiosas costumam estar isentas de tributações, acaba se criando, em alguns casos, uma situação esdrúxula, principalmente quando existe uma separação entre o Estado e a Igreja na legislação. Como também existem programas não religiosos nestes veículos, suas receitas publicitárias acabam concorrendo com os demais meios de comunicação social, privados ou públicos.
No Brasil, parece que a maioria das entidades envolvidas com as comunicações está procurando caminhos para se adaptar a estas novas situações, tentando combinar os veículos que utilizam a internet com os mais tradicionais, utilizando as economias de aglomeração. Para que não ocorra um exagero de concentração, existem agências reguladoras, mas estas sofrem pressões daqueles que já são poderosos. São transições difíceis, mas as criatividades vêm permitindo encontrar caminhos razoáveis. É preciso manter o otimismo.
28 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a difícil compreensão do Brasil, artigo no The Economist, mesmo para os brasileiros
Uma das grandes dificuldades de compreensão para quem nunca teve a responsabilidade de governar é de que um país como o Brasil é mais complexo do que parece, onde nem sempre a lógica dos que possuem boas formações acadêmicas consegue compreender todas as restrições existentes, pois não se trata de algo científico, mas que exige muita arte. Entre os muitos princípios que costumam orientar os políticos que chegam ao poder, costuma existir um que seria continuar nele mesmo que indiretamente, que quase sempre não agrada aos opositores ou os que têm a responsabilidade de analisar esta dura realidade. Outro é que sempre se tenta fazer o melhor o que se pode, que nem sempre é o que se quer.
O Brasil é uma federação em que a quase totalidade dos eleitos na sua incipiente democracia o são pelos Estados, de cujos eleitores eles dependem e desejam recursos e só o presidente da República e o seu vice são eleitos para defender os interesses da União, com seus auxiliares nomeados. Mesmo na Constituição Brasileira de 1988, que a rege, existem incongruências que estão consagradas, não sendo fácil os seus aperfeiçoamentos políticos para se chegar a algo razoável para o país.
Dilma Rousseff reeleita num quadro de duras limitações
Se admitida esta dura realidade, já seria um passo importante para se entender algo sobre o Brasil, mas pouco se discute a respeito internamente, tanto mais no exterior. Se os brasileiros contam com dificuldade para entender as limitações deste país, parece compreensível que mesmo os mais qualificados estrangeiros tenham a capacidade de entender muitas de suas complexidades, como os competentes jornalistas do The Economist, que possuem as suas claras preferências ideológicas. Os problemas brasileiros acabam sendo tratados com as compreensíveis superficialidades de suas aparências, inclusive por alguns que tenham experiências do poder, pensando que suas vontades sejam suficientes para superar os obstáculos existentes para atingir muitos dos objetivos que todos gostariam que fossem alcançados.
Lamentavelmente, o artigo desta semana daquela revista que entende que Dilma Rousseff está mudando o rumo de sua política e parece contar com muitas limitações. Mesmo que se admita que ela mesma, com toda a experiência que acumulou até com seus erros, ainda deixe transparecer algumas de suas características pessoais. Tudo indica que Antonio Palocci, mencionado no artigo, que foi o ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva, deixou o governo, não pela divergência com a então ministra Dilma Rousseff que viria a suceder Lula, mas diante das atrapalhadas em que ele acabou se envolvendo. Talvez Dilma até tivesse preferência em contar com Palocci para comandar o seu setor de economia no novo mandato, mas ele, conhecendo as características pessoais da presidente reeleita, evitaria a possibilidade de potenciais atritos.
Os que entendem que os escolhidos Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini seriam mais flexíveis no relacionamento com Dilma podem estar enganados. Estes e outros auxiliares que estão cogitados para posições chaves do governo, como a Secretaria do Tesouro, além de melhores aparelhados nas suas formações, parece que estão sendo designados porque não resta ao novo governo senão efetuar as duras correções, que diferem das cogitadas pelo candidato oposicionista à Presidência de República. O que parece evidente é que não restam alternativas e todos terão entender esta dura realidade.
Os relacionamentos internos da Presidência da República com os principais componentes do governo nem sempre ficam claros, principalmente num gigantesco grupamento com diferentes tendências entre seus componentes. As informações mais estapafúrdias são veiculadas pela imprensa, semeadas por diferentes interessados, que quase sempre não correspondem à realidade que apresenta facetas variadas para os diversos ângulos de onde são observados.
Que as dificuldades objetivas aumentaram não se pode duvidar, o que não se restringe somente ao Brasil, ainda que possam ser mais graves para o atual cenário brasileiro. Qualquer que fossem os eleitos, muitos deles existiriam, o que está sendo considerado como o novo normal. O que parece que deve ser considerado é que as variações nas margens são relevantes, devendo se distinguir os multiplicadores dos aceleradores, o que costuma ser difícil até para os especialistas.
As ineficiências existentes, por incrível que pareça, acabam gerando espaços para melhoras, mesmo que muitas gestões estejam lamentáveis. O que parece evidente é que as escolhas das linhas mestres das ações prioritárias acabam sendo relevantes, mesmo num quadro onde as incompreensões continuarão se multiplicando. Há que se admitir, na primeira impressão, é que o quadro de auxiliares com que Dilma Rousseff contará apresenta qualificações superiores quando comparados com que estão sendo substituídos, sendo que sua responsabilidade é maior do que ela gostaria de admitir. Ela será forçada a engolir mais sapos do que deseja, se não deseja perder bons auxiliares, que são aqueles que dizem a ela o que ela não gostaria de ouvir, como acontece em qualquer governo decente.
Existem todas as condições para o restabelecimento da credibilidade do governo, que é um fator subjetivo que pode sofrer rápidas mudanças. Há que se admitir que a situação brasileira não seja ímpar no mundo, ainda que por aqui ela esteja mais dramática.
27 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: efeitos da política monetária, melhoria no humor europeu e japonês, notícias como os do site da Bloomberg
Ainda que possam considerados duvidosos os efeitos da política monetária chamada de quantitative easing inundando os mercados com créditos, que começaram nos Estados Unidos, está sendo aplicada no Japão e deve ser utilizada também na Europa. A dúvida decorre da guerra cambial que acaba prejudicando as economias menos fortes, mas não se pode negar que as bolsas sejam as primeiras e mais ágeis para antecipar os inícios das recuperações nestas economias, que acabam impactando de forma positiva no resto do mundo. Notícias como as divulgadas pelo site da Bloomberg informam que estas maciças injeções de recursos, ainda que demorem até que a melhora chegue ao lado real da economia. As cotações das bolsas começam a melhorar, até porque suas operações são virtuais, antecipando o que se espera no futuro, não exigindo providências que demandam tempo, como as ampliações dos empreendimentos que podem provocar um aumento da oferta de produtos físicos.
Informa-se que na Europa começa a haver alguns indícios de otimismo, diante da possível ampliação de compras de ativos por parte do Banco Central Europeu. No Japão, alguns resultados de empresas cotadas nas bolsas começam a melhorar, até porque estavam com seus preços deteriorados, e as desvalorizações cambiais do yen acabam beneficiando algumas empresas nas suas exportações, ainda que não seja um fenômeno generalizado. Os que são a favor de medidas que provoquem a retomada do consumo das famílias, bem como propiciem condições de ampliação das instalações fabris para empregarem mais recursos humanos e gerarem produções adicionais, precisam esperar um pouco mais, reconhecendo que os segmentos financeiros tendem a antecipar com maior facilidade as mudanças do quadro.
Este tipo de comportamento da economia sempre envolve alguns riscos, ainda que as medidas de política econômica visem atualmente a melhoria das diversas economias que se espera ocorra no futuro próximo. No entanto, para que isto ocorra, existem muitos outros fatores que estão interferindo no mercado, como questões políticas, questões climáticas e de sustentabilidade e vários outros que nem sempre são controláveis pelas autoridades.
Os Estados Unidos passam por um período de grande divisão interna, com o presidente Barack Obama já no período final do seu mandato, um aumento do poder dos republicanos no Congresso, e disseminação dos conflitos raciais, ainda que todos procurem se conter dentro dos limites das manifestações pacíficas e democráticas.
Na Europa, o longo período de dificuldades econômicas tende a radicalizar posições políticas, com o fortalecimento de posições de extrema direita. A aceitação das imigrações provenientes da África, por exemplo, dificultam as convivências de grupos que pensam de formas diferentes.
Outros problemas se multiplicam pelo Oriente Médio, pelo norte da Ásia e as disputas como as que vêm ocorrendo com a ascenção da China nem sempre são tranquilas. As dificuldades, como a de preservação do meio ambiente, são complexas para que se chegue a um consenso mundial das metas a serem perseguidas. Tudo ocorre num cenário onde alguns países acusam decréscimos de população e os encargos de assistência dos idosos começam a pesar de forma expressiva.
Certamente, alguma recuperação a um ritmo menor do que desejável deverá ocorrer, mas não existe uma garantia do prazo em que deve acontecer, atendendo todas as limitações existentes que lamentavelmente não são poucas. As esperanças continuam sendo depositadas sobre os países emergentes, mesmo com todas as suas dificuldades.
27 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: noções vagas dos encargos para o futuro, opinião de muitos jovens sobre as medidas do Abeconomics, um artigo da Associated Press sobre o Japão
Um artigo publicado no The Japan Today, elaborado por Elaine Kurtenbach da Associated Press, parece ser uma mostra da falta de clareza do que o Japão necessita fazer para superar os seus problemas econômicos. Como todos sabem, o primeiro-ministro Shinzo Abe dissolveu a Dieta e convocou eleições gerais para o próximo mês de dezembro, para ter respaldo à sua decisão de postergar o aumento do imposto de vendas do atual 8 para 10%. Quando ele promoveu o aumento de 5 para 8%, houve uma retração da demanda, e ainda que o Bank of Japan esteja injetando volumes absurdos de crédito no mercado, somente pequenos efeitos, como a desvalorização do câmbio e elevação dos índices da Bolsa, estão sendo conseguidos, não havendo indicações de recuperação de sua economia chegando à inflação, superando a atual deflação. Os bancos temem emprestar para as empresas, que relutam em contrair financiamentos sem garantia de retornos para o pagamento de encargos e os consumidores não se sentem animados a aumentar os seus gastos.
Todos sentem que tanto os encargos dos empréstimos públicos como as tributações indispensáveis acabarão caindo sobre as gerações futuras. Alguns entrevistados pensam que o aumento imediato dos impostos seria melhor, todos reconhecendo que a população japonesa está diminuindo e envelhecendo. Também sabem que com vizinhos como a China, a competitividade japonesa não é fácil de ser recuperada. Mas as mulheres não se animam a gerar mais filhos, e nem o Japão se dispõe a aumentar a imigração. Sem o aumento de população jovem mais propenso ao aumento do consumo, não parece possível conseguir uma solução adequada para a recuperação de sua economia.
Muitas das entrevistas deste artigo foram feitos no cruzamento de Shibuya, que é dos mais movimentados do mundo
O assunto é bastante complexo, não havendo um razoável consenso no Japão, como também a jornalista parece não ter claro o foco da questão para as perguntas formuladas aos entrevistados. As respostas de senhoras com filhos, dos jovens empregados como de estudantes também não deixam claro que todos estejam esclarecidos sobre as questões, e tenham uma posição comum.
Há muitos analistas que também não entenderam como uma dissolução da Dieta e a convocação de eleições gerais possam proporcionar uma orientação dos eleitores para o governo. O que parece possível é que Shinzo Abe consiga um novo mandato, até porque a oposição não tem consolidado uma bandeira para estas eleições.
Num situação tão mal definida como esta, dificilmente o Japão encontrará um caminho adequado para a sua recuperação. Neste site temos adotado a posição que é preciso atacar, com coragem e determinação, os fundamentos do que está provocando esta situação, ou seja, a redução da população japonesa e seu envelhecimento. Como parece difícil conseguir um aumento da natalidade no Japão, tudo indica que entre as soluções duras mais necessárias parece ser o aumento da imigração, como já vem sendo tentando nos Estados Unidos com a regularização do imigrantes ilegais mesmo com a oposição dos republicanos, e vem sendo sugerido pelo Papa Francisco.
Outras medidas que possam ser tomadas dependem da melhoria da economia mundial que parece estar ocorrendo de forma lenta, podendo demandar muito tempo. Portanto, parece que a situação japonesa, ainda que de um país já desenvolvido, não é das mais simples. Os países emergentes como o Brasil, ainda que tenham outros problemas, contam com um aumento de sua população que, comparada com a japonesa, ainda é de jovens. Mas, como também estamos envelhecendo e reduzindo o crescimento populacional, precisamos nos preparar para situações como as que estão sendo enfrentadas pelo Japão e alguns países europeus.
26 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: agricultores nipo-americanos em San Diego, inovações em todo o mundo, pequena escala com elevada qualidade
Um agrônomo japonês formado em Tóquio chamado Araki, que faz sucesso no Brasil com sua família e inovações na floricultura, foi o primeiro a me falar de sua experiência de recém-formado no Japão com agricultores nipo-americanos em San Diego, Califórnia. Ele estagiou com um deles que criou o pimentão amarelo, patenteado em todo o mundo, tendo enriquecido com a sua criatividade. Um artigo publicado no The Japan Times, com base numa notícia distribuída pela agência Reuters, informa sobre um agricultor da mesma San Diego de nome Tom Chino que se tornou uma legenda por cultivar no seu Rancho Santa Fé, e vender diretamente no “Vegetable Shop”, a sua produção diferenciada que atrai famosos chefs. Ele não depende dos atacadistas como dos supermercados, fixando os seus preços para uma produção qualificada e diversificada de culturas.
Tom Chino produz numa horta familiar e vende diretamente no seu Vegetable Shop, conforme artigo no The Japan Times. Foto: Reuters
Este tipo de agricultura diferenciada parece uma tendência que vem se manifestando em variadas partes do mundo. No Japão, existem muitos que produzem exclusivamente para alguns restaurantes vegetais que não são os usuais encontrados nos supermercados e outros estabelecimentos que trabalham com estes produtos.
Todos estes produtos são trabalhados com grande amor, tanto no seu plantio como nas colheitas, o que resulta numa produção diferenciada que é apreciada de forma especial.
Na Europa, também se noticia que muitos produtores trabalham exclusivamente para alguns restaurantes mais famosos com chefs de renome até internacional. Como as produções comerciais normais apresentam o uso de muitos fertilizantes e defensivos químicos, os chefs mais exigentes procuram contar com ingredientes diferenciados, que também são apreciados pelas famílias que preferem produtos orgânicos.
Mas também as variedades dos produtos são diferenciadas, havendo os que trabalham com brotos que também são apresentados de forma mais atraente, junto com flores comestíveis em muitos casos. O que vem se verificando é que hoje existem muitos legumes com dimensões medianas, as mais convenientes para serem utilizadas como saladas ou apreciadas cruas, que certamente são mais saudáveis.
Hoje existem tecnologias para a produção de novos vegetais, que não se restringem as antigas técnicas de cruzamento de diferentes variedades. Existe possibilidade de uso de DNAs de algumas que apresentam qualidades diferenciadas, sem cair nos chamados transgênicos. Muitos são produzidos em vinil house não exigindo nem solos, mas fertilizantes e água para a sua produção em ambientes controlados.
Na realidade, a alimentação está sendo reenfocada de forma mais pessoal e artesanal, não se tratando de uma simples commodity, que não se diferencia de outras.
25 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: dois exemplos de artigos do The Wall Street Journal sobre a China, formas indevidas de apresentação de informações, induzindo a erros de interpretação
É lamentável que jornalistas experientes de importantes jornais como o The Wall Street Journal escrevam artigos que induzem seus leitores a erros de interpretação. No jornal brasileiro Valor Econômico foi reproduzido em português um artigo escrito por Leslie P. Norton falando de pequenos países asiáticos que estariam colocando em risco exportações da China. Ora, a exportação chinesa na média do triênio 2011/2013 foi de US$ 2.052 bilhões enquanto os quatro países asiáticos citados no artigo, Vietnã, Camboja, Laos e Miamar, só chegaram a 6,5% desta cifra na média do mesmo triênio, ainda que estejam crescendo, enquanto a China perde algumas poucas exportações, pois os seus salários ficaram mais elevados do que de alguns seus vizinhos.
Num outro artigo, Bob Davis, do mesmo The Wall Street Journal, que trabalhou na China entre 2011 até o presente, escreveu outro artigo com o título: “O milagre econômico da China acabou?”. Todos sabem que aquela economia chegou a crescer mais de 10% ao ano, tendo sido reduzido a um patamar de 7% ao ano atual, que é ainda uma cifra impressionante, principalmente quando os Estados Unidos crescem em torno de 2% ao ano. Como muitos dos chineses ainda são pobres, vivendo no meio rural, tudo indica que o seu crescimento vai continuar dos mais elevados no mundo, mesmo reduzindo o seu ritmo, com o aumento de sua urbanização, pois o meio rural veio elevando a sua produtividade, não necessitando tanto de recursos humanos. Mas chegar a induzir que seu processo de crescimento esgotou-se parece que não seria o mais adequado.
Que construções chinesas que não estão sendo aproveitadas adequadamente todos sabem, pois a performance dos líderes daquele país eram medidos pelo crescimento de suas economias, ainda que grandes danos tenham sido causados no seu meio ambiente. Que algumas produções estrangeiras na China passaram para outros países asiáticos que apresentam recursos humanos abundantes, também parece notório. Ajustamentos estão sendo efetuados, e a China vai continuar arcando com muitos erros cometidos.
Algumas construções chinesas não encontram demandas
Algumas empresas de confecções da China estão se transferindo para países do Sudeste Asiático devido ao aumento dos salários chineses
O que parece é que mesmo jornalistas experientes de grandes jornais acabam confundindo problemas decorrentes do fator multiplicador daqueles que os economistas chamam de aceleradores. Ainda que mantendo um ritmo razoável de crescimento, a China passa por uma redução do seu ritmo de crescimento, o que provoca problemas complexos de ajustamento.
Os pobres países do Sudeste Asiático, muitos deles com salários mais baixos do que os da China, lutam para aproveitar a transferência de algumas empresas intensivas em mão de obra, conseguindo resultados interessantes. Mas, quando comparado com as dimensões chinesas, estas transferências acabam sendo insignificantes.
Estas situações são dinâmicas, e muitas atividades industriais que se encontravam nos países desenvolvidos foram transferidos para a China e agora passam para países mais pobres, justificando o que alguns chamam de fenômeno dos “gansos voadores”.
Mesmo os Estados Unidos que ainda são a maior economia do mundo, perseguida de perto pela China, muitos segmentos de tecnologia de ponta necessitam de recursos humanos de elevada qualificação, além de iniciativas nos quais os norte-americanos são reconhecidos.
O que parece mais complicado é com as economias que apresentam decréscimos populacionais com o envelhecimento de sua estrutura da população, que enfrentam dificuldades para se tornarem mais dinâmicas. Parece relevante que preferências ideológicas não interfiram nas informações a serem ofericidas aos leitores.
24 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no The Japan Today, despacho da AFP, exemplo de Barack Obama, mudanças indispensáveis no Japão, tratamento dos trabalhadores estrangeiros | 2 Comentários »
Na mesma linha da nossa proposição para resolver alguns problemas graves do Japão, ainda que os japoneses sejam os melhores conhecedores do assunto, um artigo publicado pelo The Japan Times, com base num despacho da agência AFP, sugere a necessidade de uma rápida mudança do tratamento que os japoneses continuam dando aos trabalhadores estrangeiros. Todos reconhecem que a população japonesa está diminuindo e se tornando mais idosa, necessitando da ajuda de trabalhadores estrangeiros para execução dos trabalhos considerados mais duros, onde os japoneses não estão mais dispostos a atuar. São os relacionados aos cuidados dos idosos dependentes, bem como os relacionados com a manutenção de muitas de suas rodovias, para citar os casos mais frequentes. O governo de Shinzo Abe vem ampliando o chamado TTIP – Industrial Trainee and Technical Internship Program, passando de três anos de permanência no Japão para cinco anos, mas não vem combatendo os abusos que ocorrem, fazendo com que muitas pessoas sejam exploradas nas tarefas mais duras. Informa-se que cerca de 50 mil chineses estão neste programa, havendo também outros estrangeiros.
Todos sabem que no Japão sempre existiram os chamados “empreiteiros de mão de obra”, que no passado exploravam os próprios japoneses pouco qualificados. Há um tradicional sistema de subcontratações dos recursos humanos para trabalhos temporários naquele país, que sempre geraram abusos que não conseguem ser coibidos, pois algumas das organizações que atuam neste segmento aproximam-se das chamadas mafiosas, como todos sabem, mas continuam sendo lamentavelmente toleradas. Em 1985, quando eu era responsável pelo Pavilhão do Brasil na EXPO TSUKUBA 85, pensava que estava pagando condignamente aos funcionários japoneses que permitiam a sua operação. Vim a saber que, mesmo utilizando uma grande empresa japonesa de primeira linha, eles haviam subcontratado os serviços e os trabalhadores japoneses recebiam uma pequena parcela do que estávamos pagando.
O Japão tem mais de um milhão de helpers mas necessita da ajuda de estrangeiros para cuidar dos seus idosos
Apesar das boas intenções deste programa TTIP, que visaria que estrangeiros se acostumassem ao idioma local bem como aprendessem algumas habilidades profissionais, o fato concreto é que tem sido usado para suplementar o fornecimento de recursos humanos de baixa qualificação. A ponto de existir uma organização chamada Rede de Solidariedade com Migrantes no Japão, um grupo não governamental para apoiar estes estrangeiros. Alguns japoneses chegam a admitir que existe uma espécie de trabalho escravo de estrangeiros, muitos que contraíram empréstimos para ir ao Japão.
Alguns países como os Estados Unidos, sob iniciativa do presidente Barack Obama, procuram legalizar a presença de trabalhadores estrangeiros, dentro de determinadas condições, ainda que recebam restrições dos republicanos que alegam que o executivo estaria tomando estas medidas sem consultar a maioria parlamentar.
Os principais imigrantes no Japão são oriundos da China, do Vietnã e da Indonésia, admitindo-se também vistos temporários para descendentes de japoneses até a terceira geração, que se cogita estender para outras. Diante dos problemas que estão sendo enfrentados pelo Japão, seria recomendável, para maior agressividade nestas políticas, aumentar a população e o seu rejuvenescimento. Isto ajudaria a ampliar a demanda local, pois os jovens sempre estão entre os que estão aumentando suas demandas de variados produtos, notadamente quando estão melhorando o seu padrão de vida.
Algumas autoridades alegam que não conseguem controlar os comportamentos dos intermediários, pois temem o seu poder, inclusive junto aos parlamentares. Os japoneses precisam enfrentar estas dificuldades, para sanar problemas mais graves de seu país.
Alguns japoneses entendem que estes estrangeiros necessitam se sentirem bem acolhidos ao Japão, o que parece ainda muito longe da realidade. Portanto, estes pontos de vista não são somente de observadores do exterior, mas também de alguns segmentos do Japão que precisam ser apoiados para acelerar as mudanças nas bases fundamentais daquele país.
23 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: exagero na importância do Prêmio Nobel, ironias da Bloomberg, o papel de Paul Krugman na postergação do aumento tributário
Mesmo que se possa concordar que o momento não era adequado para mais um aumento do imposto de vendas de 8 para 10% no Japão, como acabou decidindo o governo Shinzo Abe, que optou também pela dissolução da Dieta e convocação das eleições gerais, é difícil entender, para quem observa do exterior, como se pretende resolver os problemas de ativação da economia japonesa e passar da deflação para uma inflação. Um incrível artigo publicado por Toru Fujioka e Simon Kennedy no site da Bloomberg mostra o ridículo a que o Japão está sendo submetido por hábitos que já deveriam ter abandonado, como o exagero na importância da participação de um Prêmio Nobel como Paul Krugman nesta decisão, que vem ganhando com suas palestras mal preparadas pelas quais cobra fortunas que são jogadas fora pelos seus patrocinadores. A história, que inclui a jocosa expressão “limo ride” (passeio de limusine), dá uma ideia da dimensão da trapalhada em que se encontram as autoridades japonesas. Já abusaram ao copiar o easing monetary policy norte-americano, que até agora não surtiu os efeitos que esperavam no Japão. O que conseguiram foi uma desvalorização do yen, bem como o aumento das cotações das bolsas, proporcionando ganhos para alguns operadores financeiros. Sem um aumento da demanda, que proporcionaria oportunidade para aumentos das produções locais.
Primeiro-ministro Shinzo Abe do Japão parece carecer de uma estratégia para recuperação da economia japonesa, saindo da deflação
O Japão vem abusando historicamente da utilização de personalidades que conseguiram notoriedade como se eles fossem mágicos que poderiam resolver os seus problemas. Um país que surpreendeu o mundo com o chamado milagre econômico no pós-guerra, com o eficiente funcionamento do mecanismo que ficou conhecido como o Japan Inc., e proporcionou um elevado padrão de vida para a sua população não necessitaria usar de tais artifícios. Sofreu depois os efeitos dos choques petrolíferos e algumas bolhas como as provocadas por especulações imobiliárias baseadas nas carências de espaços no país e passa agora por duas décadas de estagnação e deflação. Sofre com a redução de sua população e seu envelhecimento, como todos reconhecem e que são fatos objetivos.
O que parece relevante a ser atacado são estes problemas, ainda que seja duro para um povo que se acostumou a uma longa história dentro de uma pequena península, gerando o que eles mesmos denominam com a “Cultura de Galápagos”, que precisa ser superada. Não parece que artifícios de política econômica copiados de outras realidades sejam as adequadas para o Japão, que tem claras características próprias.
Se muitos jovens japoneses, principalmente as mulheres, não desejam se casar e gerar filhos suficientes para a manutenção da sua população, há que se socorrer da imigração, para o que abundam candidatos. Com o aumento da expectativa de vida, parece que a consequência natural é a redução de sua população que já está ocorrendo, ao mesmo tempo em que a sua estrutura etária apresenta um aumento dos idosos. São fenômenos demográficos difíceis de serem alterados, devendo se reconhecer que os idosos tendem a contar com novos consumos em níveis mais modestos do que os jovens.
Se a economia japonesa, com os seus elevados níveis salariais, torna-se menos competitiva no mercado internacional, acaba ficando difícil proporcionar condições para taxas de crescimentos positivos. Com demandas abaixo de suas capacidades produtivas, a tendência acaba sendo a de deflação, que é um fenômeno mais complexo de ser administrado que a inflação.
As medidas de easing monetary policy, apesar de aumentarem os recursos disponíveis no sistema bancário para empréstimos, não conseguem estimular o crescimento da economia japonesa. Os bancos receiam os riscos dos empréstimos para as empresas numa economia que não conta com o crescimento da demanda, as empresas temem contrair empréstimos se não contam com expectativas de retornos suficientes para honrar os encargos financeiros, e os consumidores não se sentem estimulados a aumentar suas compras quando os bens estão com preços em queda, além de não os necessitarem para a manutenção do seu padrão de vida.
Se o nível de endividamento público no Japão é o mais elevado no mundo, superando em muito o próprio PIB, em algum momento terá que elevar a sua tributação, que é mais baixa do que dos países europeus. O imposto sobre as vendas eram de 5% e passaram a 8%, o que provocou nova queda da demanda. Se tiverem que elevar para os já previstos 10% ou mais, chegando aos níveis de 20% vigentes em algumas economias europeias, tudo indica que isto se aproxima da impossibilidade política, que não seria resolvido por uma nova Dieta. Mesmo assim, o quadro levou o governo à postergação do aumento do imposto sobre as vendas, convocando uma nova eleição, esperando ter o respaldo para uma medida tão amarga.
Se não se deseja provocar a queda da demanda na economia japonesa, parece ser necessário imaginar outra forma de tributação, mesmo reconhecendo dificuldades de aplicação e resistências dos parlamentares. Os que ampliarem os seus consumos poderiam ser beneficiados, enquanto os que contam com elevados patrimônios que não desejam mobilizar para ajudar no aumento das demandas e giro dos recursos na economia poderiam arcar com maior parcela das tributações indispensáveis, como uma das alternativas possíveis.
O nacionalismo que vem sendo perseguido pelo atual governo não facilita a integração da economia japonesa na economia globalizada. Há que se admitir que o Japão faça parte de uma teia internacional, que é intensa na Ásia. Isoladamente, não terá condições de manter um crescimento diante de vizinhos emergentes que contam com condições diferentes das economias já desenvolvidas. O contraste parece ficar cada vez mais gritante em nada contribuindo para uma convivência até com os que pensam de forma diferente. Mas isto faz parte do mundo globalizado, cujas regras parece que precisam ser aceitas, mesmo que sejam dolorosas.
Muitas alternativas podem ser imaginadas pelos criativos economistas japoneses, que não necessitam de respaldos dos estrangeiros. Um pouco mais de autoconfiança, observando as características de outras economias como da japonesa, poderia ser adotada com coragem de se adotar novos hábitos, ainda que possam ser interpretados como heterodoxos.