4 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a presença das estatais e menos importante do que imaginado, livro sobre a China, participação do setor privado
Nicholas Lardy, estudioso sobre a China, publicou um novo livro sobre a China, mostrando a importância do mercado naquele país, ele que é do importante organismo Instituto Peterson de Economia Internacional, de Washington, tendo sido entrevistado pelo The Wall Street Journal. Informa que as estatais chinesas não possuem a importância que todos lhes atribuem.
Courtesy of the Peterson Institute for International Economics
Segundo o autor as empresas estatais chinesas respondem por cerca de um terço e um quarto do PIB – Produto Interno Bruto daquele país. Na indústria, representam 20% da produção nacional. Com a ampliação do setor privado, em muitos setores, as empresas privadas vem ocupando o espaço que eram das estatais.
Ele entende que a expressão “capitalismo do Estado” não se encaixa muito bem naquele país, até porque a política industrial tem sido um fracasso completo. O retorno dos ativos das estatais continua despencando, e em 2013 teria sido somente de 3,7%.
Ele entende que a China é, realmente, uma economia de mercado. O papel do Estado diminuiu drasticamente nos últimos 20 a 30 anos. O emprego no Estado na China é menor que na França. Na crise financeira mundial, a participação do Estado nos Estados Unidos e em outros países foi maior que na China para evitar os danos econômicos.
Sobre a atuação do setor financeiro, um grande percentual dos fundos chineses empresta para o setor privado, orientado pelo mercado. Ainda que não seja um sistema totalmente comercial, o sistema chinês é mais do que é notado por muitos analistas. Se o setor privado responde por dois terços e três quartos do PIB chinês, e não teriam atingido esta situação não fora os empréstimos bancários.
Com as reformas em andamento, os financiamentos destinados ao setor privado tende a crescer ainda mais. O controle do Partido Comunista é político, e muitos executivos são designados para postos privados pelo governo, o que é uma falha naquele país. O que está se ampliando é o setor de serviços, onde o controle estatal é reduzido.
Tanto as telecomunicações, os negócios de leasing como as operações logísticas são privadas, sendo fechado para os estrangeiros. Eles impõem custos elevados para o setor industrial.
Existem reclamações do setor privado, pois o poder de bloquear as reformas ainda é elevado nas estatais. Estão ocorrendo pressões das empresas privadas para que elas continuem cada vez mais competitivas em termos internacionais.
Verificando o que ocorre na China, como mais recentemente na Índia, grandes países emergentes nota-se que também no Brasil, se não se reduzir a presença estatal, não continuaremos competitivos em termos internacionais.
4 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: ajustamentos difíceis, alumínio e construção naval, capacidade ociosa da indústria siderúrgica chinesa, cimento, problemas também com vidros planos
Ainda que todos os dados chineses sejam astronômicos, um artigo elaborado por Adam Minter e publicado no site da Bloomberg menciona o que está acontecendo com a siderurgia chinesa e sua capacidade ociosa, afirmando que algo semelhante estaria ocorrendo também com as indústrias de vidros planos, cimento, alumínio e construção naval. No último fim de semana 300 executivos da siderurgia da China teriam se reunido no Beijing Landmark Towers, um hotel estatal, para a oitava reunião anual da China International Forum de Reciclagem do Metal para enfrentar a nova realidade. Na versão anterior do evento tinham usado o novo e luxuoso Le Meridian de Chongqing, reunindo 500 entusiasmados executivos do setor.
De acordo com Zhu Jimin, vice-presidente da China Iron and Steel Association, a capacidade da indústria de aço daquele país cresceu de 200 milhões de toneladas de fins de 2012 para 1,1 bilhão de toneladas, todas estatais. Para comparação os Estados Unidos em 2013 produziu apenas 87 milhões de toneladas. No primeiro semestre deste ano o consumo chinês foi de 376 milhões de toneladas, o que permite estimar que pudesse chegar a 700 milhões no ano, ou mais de 30% de capacidade ociosa. O governo Xi Jinping pretende encerrar as atividades das unidades mais poluentes e menos eficientes.
Indústria siderúrgica chinesa, muitas estatais controladas pelas autoridades regionais.
Com esta capacidade ociosa os preços do aço continuam a despencar, e no primeiro semestre deste ano caiam 8,79%, apesar das exportações fortes, inclusive para o Brasil.
O mesmo quadro se apresenta para as demais indústrias pesadas chinesas e o Conselho de Estado da China destacou também as de vidros planos, cimento, alumínio e construção naval. No aço revelaram a disposição de corta 27 milhões de toneladas de aço, além dos 10 milhões já reduzidos em 2013. Cortes maiores de cerca de 400 milhões de toneladas visam às fábricas poluentes que estão com tecnologias defasadas.
Ainda que estas reduções estejam programadas, ainda há um crescimento descontrolado de algumas em expansão. Existem subsídios que o governo está reestudando, financiamentos do mercado paralelos, corrupções e a maior parte do setor estar sob comando das autoridades locais.
Por ironia, mesmo na reunião mencionada, contava-se com a presença de stands de fornecimento de equipamentos inclusive por leasing, alguns deles para substituir os obsoletos.
Portanto, apesar das intenções do governo Xi Jinping é mais fácil de falar sobre o assunto do que executar as medidas dentro da mesma orientação, mesmo na China cuja economia é controlada de forma centralizada.
Com tudo isto acaba ocorrendo uma guerra no mercado internacional, fazendo com que as siderurgias brasileiras sofram parte de suas consequências.
3 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: agregando valores, artigos no Japan News, grandes grupos numa agricultura tecnificada, psicultura, substituindo uma agricultura de idosos, versão em inglês do Yomiuri Shimbun
Três artigos publicados em inglês no Japan News informa com matérias elaborados pelos jornalistas do Yomiuri Shimbun as novas facetas empresariais da agricultura japonesa. No primeiro elaborado por Katsutoshi Samata informa sobre uma empresa chamada My Vegetable, do grupo Sojitz que funciona na província de Chiba para a produção de hortaliças produzidas em estufa como rabanete, rúcula e tomate cereja, para ser vendida diretamente para os consumidores pela internet.
Employees of My Vegetable Corp. tend plants in Midori Ward, Chiba. Publicado no Japan News.
Chiba sofre com o problema do envelhecimento dos agricultores que estão abandonando suas pequenas propriedades agrícolas, e a trading Sojitz fez um arranjo com a JA Zenno Chiba, a cúpula da agricultura japonesa, para criar um canal para explorar a agricultura de forma altamente técnica. Os funcionários trabalham de forma mais confortável, pois atuam sem necessitarem se agacharem.
A produção é hidropônica, pois as plantas são alimentadas por água a fertilizantes líquidos sobre uma camada de areia, não necessitando de solo.
Outro projeto é da Toyo Reizo do grupo Mitsubishi, cultivando o atum mais apreciado no mercado, o chamado blue fin na Província de Nagasaki, onde possuem duas unidades além de outra na Província de Wakayama. Visam atender as demandas internas e até voltadas para a exportação para a China. A matéria consta do artigo elaborado por Ayuhiko Sasaki do Yomiuri Shimbun.
Farmed blue fin tuna in the Goto Islands, Nagasaki Prefecture. Publicado no Japan News.
A Toyo Reizo produz os avelinos e cultiva o atum até atingir cerca de 30 quilos, o que leva de dois a três anos. Hoje os peixes cultivados chegam a representar metade dos consumidos no mundo.
Outro projeto na Província de Hokkaido é relatado por Ryo Nakamura, também do Yomiuri Shimbun e conta com a participação da Mitsui. Cultiva uma espécie de cebola que é considerada como auxiliar na prevenção da arterosclerose, bem como aliviar os sintomas da diabete.
O projeto está ligado com a Escola de Agricultura da Universidade de Hokkaido e produz a cebola Sarasara Red, que começou a ser produzida em 2005. Ela é mais doce e picante que as normais, sendo muito apreciada pelos consumidores. Já existe uma nova variedade chamada Sarasara Gold, que deverá ser exportada para os Estados Unidos e Hong Kong a partir de 2018.
A Mitsui planeja também desenvolver produtos processados como sopas e temperos para acrescentar valor agregado à cebola. Estas tentativas de aumentar o valor da produção decorrem dos custos elevados dos cultivos hidropônicos, com energia e os chamados vinil house, criando um clima adequado para o desenvolvimento das plantas.
O cultivo do atum já é efetuado em diversas partes do mundo, e os efetuados no Japão certamente contam com custos mais elevados. Mas, os mesmos contam com maior teor de gordura, propiciando os chamados toro, ou seja, partes que são mais apreciados e de valor mais alto.
The Yomiuri Shimbun
Sarasara Red onions await harvesting in Kuriyama, Hokkaido.
2 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: compondo uma equipe competente, exposição de Jorge Paulo Lehmann, lições importantes, ousadia nos riscos
Com a credencial de ter acumulado em algumas décadas uma fortuna estimada em R$ 52 bilhões segundo a Forbes, o empresário e filantropo brasileiro Jorge Paulo Lehmann apresentou uma aula magna para os alunos da EBAPE – Escola de Administração Pública e de Empresas da FGV – Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Ele relatou a sua trajetória, que começou com algumas dificuldades, mas conseguiu consolidar-se com uma equipe competente formando o Banco Garantia, expandindo pela aquisição das Lojas Americanas, e a compra da Brahma, formando a AB InBev, o maior grupo cervejeiro do mundo, alem de controlar agora o Burger King, entre outros empreendimentos internacionais. Ele ressalta que não é um professor, não é um intelectual e não têm teorias complicadas, mas expôs o que acha importante na vida econômica e que não é discutido nas escolas, segundo um artigo publicado no site do jornal O Globo, segundo um artigo escrito por Maíra Amorim.
Caricatura do empresário bilionário e filantropo Jorge Paulo Lehmann –
Arte/Igor Machado, publicado no O Globo
Ele considera, como primeiro aspecto, que o risco é importante, tanto na vida comercial como individual. Acredita que com muitos estudos, profissionais tentam transformar os riscos em formuletas matemáticas acabando por não tomar decisões. Segundo ele, a única maneira de aprender é ir treinando aos poucos. Quem não arrisca acaba ficando com a mediocridade igual a dos outros, e todo o mundo deve tentar ser excepcional fazendo algo diferente e especial, segundo o artigo.
Nascido em 1939, em 1960 com 26 anos ele estava com o nome sujo na praça. Ele optou por ficar no mercado financeiro profissionalmente. Ao invés de tentar um emprego numa grande organização, ele escolheu por começar com um pequeno empreendimento, que se transformou no Banco Garantia, onde foi capaz de reunir uma equipe competente, que entende como um ensinamento relevante.
Além de tomar riscos, com a devida cautela, ele entende que as pessoas de sucesso costumam serem fanáticos pelos focos, e ele cita Sam Walton que construiu o Walmart e até o Warren Buffet que é sócio dele em alguns empreendimentos. Outra lição é ter sonhos grandes, para conseguir sempre as melhores empresas, o que vem perseguindo na sua carreira.
Finalmente ele destaca a eficiência, sempre procurando melhorar o que for possível. Com o sucesso e a fortuna que acumulou tornou-se um filantropo, fundando o Instituto Lehmann que se dedica a proporcionar condições para a melhoria do conhecimento, como a tradução para o português das melhores aulas dadas nas universidades norte-americanas, que podem ser acessadas gratuitamente no Brasil.
Temos muito que aprender de suas preciosas lições.
1 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: experiência no FMI, na prática na Índia, ntrevista de Raghuram Rajan para o Financial Times no suplemento do Valor Econômico, sólida formação acadêmica
Uma interessantíssima entrevista concedida por Raghuram Rajan, presidente do RBI – Reserve Bank of India, a autoridade monetária daquele país, a James Crabtree do Financial Times foi publicado em português no suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico. Como a Índia é um grande país emergente que passa por uma tentativa de implantação de uma nova política econômica voltada ao mercado, vinda de um regime fortemente socialista, com o comando do Primeiro Ministro Narendra Modi, sua experiência pode dar boas indicações para o Brasil. Ele, como muitos economistas brasileiros estudou engenharia no Indian Institute of Technology, mas passou para a área da economia pelos seus trabalhos no Booth School of Business da Universidade de Chicago, e o doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts com uma tese “Essays on banking”. Trabalhou por um tempo no FMI – Fundo Monetário Internacional, tendo antecipado a crise mundial de 2007/2008.
Raghuram Rajan, presidente do Reserve Bank of India
Reconhece que a implantação da nova política pelo Primeiro Ministro Nerendra Modi vem ocorrendo de forma mais pausada do que se esperava com sua ascensão ao poder. A Índia também estava infestada pela corrupção, pois se tratando de uma economia ainda pobre, os empresários necessitavam da assistência das autoridades governamentais, o que propiciava um clima de favorecimento a aqueles que contribuíam para determinadas pessoas que ocupavam posições estratégicas.
Raghuram Rajan também reconhece que todas as grandes organizações, como o FMI ou o RBI contam com muitos grupos que ocupam posições estratégicas e possuem suas formas de expressarem seus interesses, não se recomendando mudanças bruscas nas suas formas de atuação.
Também se mostra realista, admitindo que ainda existam muitas dúvidas como se processará as mudanças no sistema financeiro internacional, que utilizou muito as facilidades monetárias, e necessitam começar reduzi-las, de forma cautelosa, não se sabendo exatamente o que vai acontecer. Como os fluxos financeiros internacionais são elevados, uma mudança brusca da política do FED – Sistema Federal de Reservas dos Estados Unidos pode alterar o quadro global.
Como o quadro que ele coloca apresenta uma grande similaridade com o que ocorre no Brasil, suas observações podem alertar sobre os cuidados que devem ser tomados por aqueles que assumirem o poder no Brasil, notadamente na área das autoridades monetárias. Ainda que se pretendam mudanças, sempre um pouco de cautela parece recomendável.
26 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a baixa prioridade dada à exportação, redução do crescimento e dificuldades do setor industrial, velhos problemas brasileiros
Muitas análises superficiais nem sempre conseguem, de forma simples, identificar os grandes problemas brasileiros que nos afetam, lamentavelmente, resultando num baixo crescimento econômico, pressões inflacionárias e dificuldades no setor externo. O professor Delfim Netto na sua coluna semanal no Valor Econômico com uma tabela muito singela, mostra que há muito tempo o Brasil perdeu a consciência que o setor externo é fundamental para manter um desenvolvimento sustentável. O problema vem ocorrendo desde antes do período analisado, que ficou restringido ao início da crise de 2007/2008, quando a estabilização inflacionária bem obtida no Plano Real “esqueceu-se” a prioridade das exportações, para sustentar o desenvolvimento.
Do artigo citado do Valor Econômico consta a tabela abaixo:
Na realidade, a crise de 2007/2008 agravou os problemas do setor externo, resultando na redução do ritmo de crescimento da economia brasileira e aumento das pressões inflacionárias. A situação piorou no período 2011 a 2014. Mas esta situação que hoje está dramática vinha já indicando antes que o Brasil estava reduzindo a prioridade do seu setor exportador, com o congelamento do câmbio por três vezes, retirando a competitividade do setor industrial que antes se encontrava numa situação razoável.
Muitos criticam que as autoridades não efetuaram as correções necessárias depois da crise de 2007/2008 contentando-se com uma redução do ritmo de crescimento que foi menos acentuada que no resto do mundo. Também indicam que problemas de muitas décadas passadas continuam sendo desenterradas.
O que parece conveniente que fique claro é que as deteriorações como do setor industrial brasileiro, que limitam o crescimento da economia brasileira são fenômenos de longo prazo. Antes do Plano Real, que teve o mérito de estancar o processo inflacionário de forma imaginativa, o Brasil registrava expansões das exportações superiores à coreana ou a chinesa. Se tivessem continuado o quadro atual seria totalmente diferente.
O que estas reflexões sugerem é que muitos dos grandes problemas brasileiros não podem ser resumidos aos períodos de gestões curtas no comando da economia brasileira. Sem uma visão estratégica de longo prazo só será possível tapar buracos que vão surgindo, não havendo como detectar problemas que só serão sentidos décadas depois.
A responsabilidade por esta consciência não é somente do governo cujos mandatos são curtos. Os acadêmicos e outros que deveriam ter a função de pensar nos problemas brasileiros no longo prazo necessitam proporcionar subsídios para que todos tenham consciência destas considerações estratégicas.
A administração pública necessita, também, de setores que estejam pensando os grandes problemas com enfoques mais longos, pois tanto os pesados investimentos em infraestrutura, como a maturação das pesquisas destinadas às inovações demandam prazos longos.
25 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: as potencialidades do pré-sal, o balanço comercial externo do setor, o problema do pré-sal, suplemento especial do Valor Econômico
Administrar um país com a complexidade do Brasil é certamente um desafio que nem todos podem compreender facilmente. Além de um comando que seja capaz de estabelecer as diretrizes é necessário que se tenha a capacidade de escolher e coordenar uma equipe para o seu funcionamento, para o qual seria desejável uma habilidade política invejável. Tantos são os postos que necessitam serem preenchidos, talvez dezenas e milhares, não somente nos ministérios, como nas mais variadas agências, estatais e institutos que compõem o governo federal, em seus diversos escalões. Escolher as pessoas mais adequadas para cada cargo exige uma especial capacidade, e por melhores que sejam as escolhas, sempre haverá necessidades posteriores de ajustamentos, pois é preciso que sejam respeitadas as restrições políticas, além de permitir que o governo funcione como uma razoável equipe.
Coordenar uma maioria estável no Senado Federal e na Câmara dos Deputados acaba exigindo um prestígio capaz de aglutinar correntes que pensam de formas diferentes, pois dificilmente numa eleição se conseguiria que uma coligação seja capaz de obtê-la, pois mesmo dentro dos partidos existem facções com interesses divergentes. E o Executivo, no caso brasileiro, necessita contar com maioria parlamentar para aprovar suas diversas proposições. Imaginar que estas tarefas são fáceis beira a uma ingenuidade perigosa. Incorporar recursos humanos de outros partidos, ainda que possível, não é uma tarefa fácil.
No suplemento especial publicado pelo jornal Valor Econômico que trata do petróleo e gás no Brasil um artigo dá uma pequena noção da dimensão das tarefas envolvidas pela exploração do pré-sal. (http://www.valor.com.br/empresas/3665746/novo-patamar) Os dados do IEA – International Energy Agency estima que em 2012 o Brasil produzir 2,1 milhões de barris dias de petróleo, sendo a 13ª no mundo, deve chegar a 4,4 milhões em 2020, passando para 6ª no mundo e poderá chegar a 6 milhões em 2035. Só na Bacia de Santos poderá estar produzindo mais que a média do Golfo do México e do Mar do Norte somados. Ainda assim, o Brasil importa 12% da gasolina que consome e 17% do diesel, com uma balança comercial negativa de US$ 13,7 bilhões em 2012, piorando para US$ 27,9 bilhões no ano passado, devendo chegar a US$ 22,5 bilhões neste ano, dada a sua incapacidade de refino local.
Muitas razões contribuem para tanto. A gigantesca Petrobrás não contou com resultados para contar com recursos indispensáveis para tanto, não só financeiros como humanos, além dos fornecimentos de todos os componentes para tanto, inclusive tecnologia. Ainda terá que continuar a importar muitas destas condições mesmo não desejando, contando com a ajuda de empresas estrangeiras mesmo com as restrições existentes para tanto no Brasil.
Este é somente um segmento, ainda que importante. Muitos outros envolvem complexidades semelhantes. São tarefas gigantescas até para países desenvolvidos, quando mais para um emergente como o Brasil.
21 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias, Gastronomia | Tags: atuações em diversos mercados, Nissin ampliando novas linhas, pesquisas para novos produtos
Uma matéria preparada por Kosuke Iwano para a Nikkei Asian Review informa que a Nissin está ampliando suas pesquisas e desenvolvimentos para lançamento de novos produtos, com maior eficiência nos processos produtivos. Eles são os pioneiros que vieram lançando os macarrões de preparo instantâneo, os conhecidos Ramen de frango desde 1958 e atendem as necessidades daqueles que não dispõe de tempo para o preparo adequado de alimentos mais elaborados. Como muitas donas de casa passaram a ter empregos em todo o mundo, mesmo de tempo parcial, não contam com o tempo para cuidar de suas casas e dos preparos de refeições para seus familiares. Estes produtos que somente com água fervida já podem ser consumidos, apresentando uma qualidade cada vez mais aceitável, estão com suas demandas em expansão nos mais variados mercados.
As pesquisas que estão sendo efetuadas no Japão já permitem que o arroz com curry, muito consumidos pelos japoneses também sejam preparados somente com água fervida, como os macarrões de sabor ajustado para os paladares da cozinha como a tailandesa. Estão sendo adicionadas novas linhas que permitem atender as preferências de diversas populações que estão aderindo a estes tipos de alimentos semelhantes aos fast foods. Há um reconhecimento que mesmo nos países emergentes, como muitos asiáticos, também as mulheres estão entrando no mercado de trabalho formal, ao mesmo tempo em que novas faixas da população ingressam nas classes médias mais modestas, passando a consumir produtos que podem ser encontrados nos supermercados ou lojas de conveniência. Chegam a ser de consumo habitual, além de eventuais.
Nissin está chegando com novos sabores de apelar para o paladar dos clientes em todo o mundo.
Depois de 50 anos a demanda global de macarrões instantâneos tinham alcançado mais de 100 bilhões de refeições por ano. Eles esperam que dentro de 10 anos cheguem a 130 a 140 bilhões de refeições. Mesmo a Nissin não consegue atender toda esta demanda, sendo que 17,5% das vendas no último ano fiscal (que termina em março no Japão) teria ocorrido no além mar. Estão ampliando suas parcerias em muitos países.
Agora a Nissin visa o mercado chinês, testando a linha chamada Hap Mei Do em Hangzhou, que tem um molho com sabor de produtos marinhos. O produto tem boa aceitação entre os jovens e com a publicidade esperam conseguir um crescimento anual de 30% por ano. Planejam estar com um staff de mil funcionários em torno do ano de 2016 naquele país.
Os planos da Nissin na Indonésia é aumentar a participação do parceiro local dos atuais 49% para 98% do capital. Expandiram em 2013 suas atividades para a Turquia e o Kenia e esperam elevar as vendas no exterior para 50% no ano fiscal de 2025, para abastecer 80 países em todo o mundo, tornando-se uma empresa global.
19 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: estudos no Yomiuri Shimbun, exemplos que podem ser imitados no Brasil, população idosa | 4 Comentários »
Se existe um país que antecipa os estudos sobre as tendências futuras, e que já conta com uma população idosa, que deverá se repetir no Brasil no futuro como em outros países ainda emergentes certamente este é o Japão. Como na recente visita do Primeiro Ministro Shinzo Abe ao Brasil começaram a se esboçar os intercâmbios na área de saúde entre os dois, parece oportuno que sejam analisadas algumas possibilidades futuras.
The Yomiuri Shimbun
É evidente que os problemas existentes das despesas médicas no Japão e no Brasil são diferentes, mas as metodologias dos estudos efetuados naquele país podem ser adaptados para os brasileiros, havendo a possibilidade de alguns trabalhos serem efetuados em conjunto, absorvendo parte da tecnologia lá aplicada, dentro dos mecanismos que foram criados pelos dois governos.
Os dados disponíveis no Japão são abundantes, permitindo análises comparativas entre as diversas províncias, para aprofundar as causas que determinam alguns gastos mais elevados em algumas. Isto também pode ser observado no Brasil, ainda que os serviços médicos não sejam tão uniformes no país.
Mas, estes estudos permitem identificar ineficiências e desperdícios que possam estar ocorrendo em algumas regiões, estabelecendo-se metas regionais a serem alcançadas ao longo do tempo. Como tais despesas são astronômicas tendendo a um crescimento rápido, principalmente com o princípio constitucional existente no Brasil de serviços médicos universais para a população, não existem fontes de recursos suficientes que acabam sendo resolvidos injustamente pelas filas.
Entre as despesas que aparentam ser elevadas parece figurar a prescrição exagerada de medicamentos. Também os prazos de internação costumam ser elevados, como no Japão, quando todos sabem que os atendimentos ambulatoriais ou residenciais podem reduzir estas despesas em muitos casos.
A medicina preventiva utilizada no Japão permite visualizar as despesas que costumam ocorrer com os diagnósticos tardios que implicam em medidas de custo mais elevado.
Evidentemente, não existem medidas milagrosas que resolvam todas as situações. No entanto, se identificados os focos que necessitam ter atacados com prioridade, pode se estabelecer uma política de longo prazo para que os problemas de saúde sejam minorados em muitos casos.
12 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: artigo do Nikkei, confrontos entre a China e os Estados Unidos na Ásia, disputas sobre acordos comerciais | 2 Comentários »
Nos complexos posicionamentos comerciais em disputa na Ásia, um artigo escrito por Kazuki Kagaya do sênior staff do Nikkei publicado no Nikkei Asian Review deve ser considerado mais informado do que outros analistas que acompanham o assunto a certa distância. Todos sabem que se trata de um difícil jogo de xadrez onde, mesmo sem um confronto, o pano de fundo acaba sendo a disputa de prestígio entre a China e os Estados Unidos. Como todos são pragmáticos, os interesses comerciais acabam se sobreponto aos geopolíticos, mas o resultado final depois de muito tempo pode proporcionar posicionamentos estratégicos para as partes envolvidas.
O artigo considera um símbolo destas expansões a Quarta Ponte da Amizade Thai-Lao, uma ligação concluída sobre o rio Mekong, entre a província de Chiang Rai da Tailândia e Bokeo em Laos. Quando antes cruzavam pelas balsas somente 20 caminhões diários, hoje mais de 100 ligam Shanghai para a Tailândia e o Laos. A rodovia Asiática 3 transporta cerca de US$ 96 milhões por ano entre frutas, aço e combustíveis.
Fourth Thai-Lao Friendship Bridge Chiang Rai – Bokeo
A Asean – Associação dos Países do Sudeste Asiáticos estão programando formar uma comunidade econômica em 2015, com a criação de uma nova zona comercial na região. Os bancos locais estão se posicionando para poderem resistir às investidas vindas do exterior, estabelecendo uma proteção para as empresas locais.
Um exemplo é o que está acontecendo na Malásia, segundo o artigo. Os acordos comerciais estão pressionando os governos locais a estabelecerem reformas para se ajustarem à nova situação.
A Trans-Pacific Partnership está sendo negociada sobre a liderança de Washington, envolvendo muitos aspectos, e os países membros do Asean temem pelo destino de suas empresas.
A China está propondo um Regional Comprehensive Economic Partnership entre os países do Asean, incluindo se no bloco, mas também o Japão e a Coreia do Sul. O atrativo da proposta é que a exigência é mais suave na liberalização do comércio, ainda que existam resistências com as disputas territoriais.
Diante da possibilidade de longas negociações, está se propondo agora um acordo de livre comércio com base nas estruturas já existentes, como a APEC – Cooperação Econômica Asia-Pacífico. O acordo global seria de 21 membros da APEC, que responderiam juntos com 60% da economia do mundo.
Estas negociações serão cruciais nos próximos anos e terão repercussões importantes tanto nas estratégias econômicas como diplomáticas para todos os países da região, enquanto os avanços na infraestrutura continuam ocorrendo.