Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Acordo dos Estados Unidos com a União Europeia

28 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: a questão política de contraponto com a China, as melhorias de chances de sucesso, movimentos relevantes para o mundo

Muitas análises estão sendo feitas depois que o presidente Barack Obama oficializou o início das conversações com a União Europeia visando um amplo acordo econômico transatlântico, que tem como aspecto básico as eliminações das tarifas alfandegárias no comércio entre as duas regiões. A de Tyson Barker, diretor das relações transatlânticas da Fundação Bertelsmann, publicado no site do Foreign Affairs, parece dos mais lúcidos e didáticos, exigindo que todos os analistas do mundo debrucem sobre o mesmo e as argumentações apresentadas. Se o entendimento se consolidar, ao que o autor atribui elevadas chances, o mundo será outro, exigindo que países como o Brasil mudem radicalmente suas posições atuais que concedem baixas prioridades para acordos desta natureza, restringindo-se as modestas iniciativas do Mercosul.

Muitas tentativas semelhantes já foram efetuadas no passado, mas não prosperaram. O autor lista um conjunto de razões que atribuem a atual tentativa maiores chances, tanto diante das dificuldades que todos enfrentam para uma recuperação econômica mais rápida como a necessidade de se contraporem ao aumento do poderio que ocorreu na Ásia, com a liderança da China, que acaba estimulando os demais países do continente, onde as populações chinesas são influentes.

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Proposta Interessante Para a Preservação das Florestas

23 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: elaboração da Maritta Koch-Weser, longa experiência no Banco Mundial, persegue tornar a preservação mais rentável que o desmatamento, proposta para uma escola de administração das florestas tropicais

A alemã Maritta Koch-Weser foi uma das mais competentes ecologistas que encontrei ao longo de muitos trabalhos relacionados com a Amazônia. Realista, sempre teve a ideia que não basta uma legislação exigindo que 50% das propriedades rurais na região fossem mantidas como reservas, ainda que ela seja das mais elogiáveis, como é no Brasil. Mas que é preciso que a preservação seja mais rentável que o desmatamento, além de todas as contribuições para reduzir a mudança climática, manutenção dos preciosos e complexos ecossistemas, de grande importância para a biodiversidade e o manejo das águas. Fez uma longa carreira no Banco Mundial e outras importantes organizações internacionais conservacionistas e hoje colabora no programa AmazonIEA do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

Maritta%20Koch-WeserApresentou um projeto preliminar para discussão, que teve a gentileza de me enviar, sobre a necessidade urgente de uma “Rainforest Business School” para estimular os negócios sustentáveis em florestas tropicais, que também ainda existem na Ásia e na África Central, mas que continuam desmatadas e queimadas em nível mundial, provocando 12 a 15% de todas as emissões globais anuais de CO2. Ela constata que na Amazônia brasileira houve uma redução no ritmo de sua destruição, mas que ainda ela está ocorrendo, o que não seria aceitável. Há um reconhecimento que recursos humanos especializados precisam ser providenciados para que todas as organizações públicas como privadas que trabalham com estes problemas sejam dotadas com profissionais qualificados, não contando somente com variados profissionais da mais elevada boa vontade.

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A ideia é sui generis, não existindo nenhuma instituição especializada no ramo em todo o mundo capaz de contribuir seriamente de forma significativa na realização do potencial da floresta mantida em pé. Vai além do preparo adequado de recursos humanos, ajudando tanto na pesquisa operacional como no estímulo às atividades de aproveitamento racional dos recursos florestais, como consta da sua apresentação.

Já existe uma infinidade de pequenos negócios com produtos florestais como aproveitamento dos óleos vegetais, fibras, resinas, xampus, nozes, cereais, frutas, especiarias, sucos, cacau selvagem, perfumes, cremes, produtos cosméticos e medicinais, borracha, pesca, ecoturismo e madeira certificada, entre os exemplos citados no documento. Estes negócios poderiam ser ampliados e dotados de patentes registradas, indo além da mera publicidade que também é necessária.

A estrutura proposta é contar com um segmento de ciência aplicada do tipo MIT – Massachusetts Institute of Technology, integrada ou conveniada com ensino “business school”; uma “business school” com MBA em rainforest, executivos para instituições do setor, capacitação de pessoal local; e, Rainforest ventures, criando oportunidades para novos projetos, encaminhamento para assistência start-up.

Maritta Koch-Wiser entende que as necessidades são diferenciadas para nichos sub-regionais, ecológicos e culturais, não havendo um currículo único para atender todas as necessidades, no que tem inteira razão. Haveria um básico com complementações especificas dependendo do caso.

Mas, ainda para discussão, propõe ter como temas do currículo a gestão da biodiversidade, ciências sociais e ética, leis e governanças, economia ambiental, finanças, infraestrutura, pesquisas e desenvolvimento de produtos orientados para o mercado.

O seu amplo relacionamento internacional, no que é ajudado por seu marido Caio Koch-Weser, brasileiro que fez também carreira no Banco Mundial, chegando a ministro Federal de Finanças da Alemanha, facilita o acesso aos imensos recursos indispensáveis ao projeto, ainda que ele comece com um financiamento para até 3 anos. Caio é atualmente Vice-Chairman do Deutch Bank e conselheiro de importantes organizações internacionais.

Tudo indica que este projeto é de grande importância, merecendo aperfeiçoamentos com a contribuição de todos. Muitas atividades conservacionistas brasileiros já recebem suportes internacionais e locais. O Brasil é o país mais interessado nestes esforços que devem ser constantemente fortalecidos e melhorados, com propostas objetivas que não sejam somente sonhos românticos. As urgências destas discussões e implementações são grandes, e parece que se deve começar imediatamente com algumas ações concretas.


Transformações na Lendária Crotonville

18 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: atualizações na Crotonville da GE, preparação de executivos para a nova economia, problemas comuns com o setor público

Segundo uma excelente matéria elaborada por Stela Campos para o jornal Valor Econômico, incluindo uma entrevista com a principal executiva da Crotonville, Susan Peters, a tradicional escola de formação de líderes da GE, ela passa por transformações. Ela veio formando CEOs que se tornaram famosos não somente na GE como em outras empresas, mas as qualificações hoje necessárias são mais amplas, com capacidade para enfrentar inovações que ocorrem rapidamente em toda a economia. É conhecida a longa preocupação da GE com a formação de seus altos funcionários, que, além de conhecimentos especializados, necessita de um amplo conhecimento humanístico, além da capacidade de gestão de projetos num ambiente de rápidas mudanças.

Situada a 45 minutos de trem de Nova Iorque, a Crotonville seleciona executivos para serem treinados na instituição, mas, por ter contado com carismáticos líderes como Jack Welch, a GE procura se manter atualizada no quadro em que se processam as atuais rápidas mudanças, mas tendo a adequada perspectiva de longo prazo e das alterações tecnológicas que vêm ocorrendo. O mundo acelerou o seu ritmo de mudança, num mundo globalizado que exige o conhecimento amplo das mais variadas culturas, onde o relacionamento com seus liderados como com o mercado e todas as personalidades envolvidas.

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Susan Peters e instações de Crotonville

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O Complexo Processo de Eliminação das Corrupções Políticas

15 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as petições populares, as posições no Supremo Tribunal Federal, marchas e contramarchas, os problemas no Senado Federal

A revista internacional The Economist chama a atenção dos seus eleitores que, mesmo em tempo de Carnaval no Brasil, foram colhidas 1,36 milhão de assinaturas numa petição popular, 1% do eleitorado brasileiro, para solicitar a destituição do novo presidente do Senado Federal eleito no dia primeiro de fevereiro último. Isto ocorreu em somente 10 dias, pois a petição já contava com estas assinaturas no dia 11 de fevereiro, segunda feira de Carnaval. Como é sabido, Renan Calheiros, que já foi presidente do Senado entre 2005 a 2007, teve que renunciar acusado de muitas irregularidades, com o suporte para um filho seu fora do casamento por uma empreiteira, como a absurda alegação de que ele contava com recursos necessários para tanto pela venda de gado de sua fazenda, entre outros fatos.

A revista informa que potenciais candidatos da oposição para a Presidência da Republica em 2014, como Aécio Neves e Eduardo Campos, apesar de se manifestarem por um nome alternativo, não contaram senão com uma votação insignificante contra Renan Calheiros. Mesmo a atual presidente Dilma Rousseff teve que adotar uma posição de “real politik”, admitindo-o, quando não tomou partido dos seus partidários no julgamento do processo conhecido como “mensalão” no Supremo Tribunal Federal, tentando firmar uma imagem de campeã contra a corrupção.

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Máscaras de Joaquim Barbosa foram uma das mais procuradas durantre o Carnaval

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Tecnologias Japonesas Para Economias Emergentes

15 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: demanda chinesa, dificuldades que induzem o desenvolvimento tecnológico, economia de energia, o caso brasileiro, problemas de poluição | 2 Comentários »

Um artigo publicado no jornal econômico japonês Nikkei informa que o atual nível da poluição chinesa está atraindo empresas do Japão a colocarem seus produtos naquele país. Citam inúmeros casos concretos, mostrando que os problemas passados de intensa poluição num pequeno arquipélago geraram tecnologias que hoje podem ser colocados em países emergentes como a China, a Índia e até no Brasil. De forma similar, os problemas agudos de disponibilidade de energia no Japão geraram tecnologias que hoje interessam a muitos países como o Brasil, que de uma abundância relativa de fornecimento de energia, passa a enfrentar desafios de seus usos crescentes a longo prazo a custos crescentes, ainda que medidas temporárias possam reduzir os seus custos, como no caso da energia elétrica.

Um dos casos citados é o da Sharp que está tentando ampliar as suas vendas de produtos de limpeza pela ventilação, que podem reter as partículas finas, especialmente os chamados PM2,5 com 2,5 micrômetros de diâmetro ou menores, prejudiciais à saúde. Estes são de uso doméstico, mas também existem os industriais que purificam o ar com a desulfurização e desnitrificação. Eles explicam que a poluição de pequenas partículas é uma mistura de produtos sólidos e gotículas microscópicas de líquidos, como ácidos, produtos químicos orgânicos e metais. Também a Panasonic coloca os seus produtos de limpeza que acumulam vendas subindo 120% num ano, com preços relativamente modestos, adaptados às condições chinesas, com sua produção local.

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Equipamento da Sharp para limpeza da micropoluição

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Discussão Sobre o Aquecimento Global no Nature

14 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: aquecimento global, discussão de cientistas, efeitos econômicos, fontes de energia, relacionamento com fertilizantes

Acredito que a maioria dos cientistas considera que a revista Nature – the International Weekly Journal of Science figura entre as mais importantes na sua especialidade, contendo muito do que vem acontecendo de importante nas pesquisas que se desenvolvem em todo o mundo. Os muitos assuntos abordados nesta relevante publicação, extremamente técnicos e complexos, interessam a todos, gerando também acirradas discussões. No número de 15 de novembro último, um empresário publicou na seção World View um artigo aceito pela direção da revista, que sempre é extremamente rigorosa na sua seleção, expressando que os cientistas deveriam se manifestar enfaticamente sobre o aquecimento global que está ocorrendo no mundo, numa velocidade que ninguém imaginava.

O autor, Jeremy Grantham é co-fundador e estrategista chefe de investimentos da GMO, uma empresa de gerenciamento de investimentos, e co-chair da Gantham Foundation for the Protection of Enviroment, com sede em Boston, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ele afirma que os cientistas acreditam que o aquecimento global é um problema pior que imaginado há alguns anos passados. Segundo ele, caminhamos para o penhasco, mas não se faz o suficiente para evitá-lo. Ele se considera um especialista em bolha econômica, e sua empresa alertou sobre os preços inflacionados das ações japonesas em 1989, que considera o avô das bolhas recentes.

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Jeremy Grantham

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Dificuldades Econômicas e Generalizações Inadequadas

11 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as limitações políticas, dois artigos no Project Syndicate, generalizações perigosas, os desejos dos acadêmicos

Dois artigos de importantes acadêmicos como os dos professores Dani Rodrik da Universidade de Harvard e Andres Velascos da Universidade de Columbia, ambos publicados no Project Syndicate, indicam os esforços acadêmicos e as dificuldades com a realidade que se mostra mais complexa que os teóricos desejariam. Dani Rodrik informa os esforços que os economistas fizeram, inclusive tentando utilizar suas técnicas para racionalizar o comportamento dos políticos, mas, mostrando que nos casos da Coreia e da China, reviravoltas mais surpreendentes no desempenho econômico nas últimas décadas os vencedores foram os “interesses escusos”. Andres Velascos informa que, apesar da melhoria na distribuição de renda a América Latina, ela continua precária, e os países que as promoveram como o Chile e o Brasil não foram imitadas por outras.

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As Disputas das Ilhas Senkaku/Diaoyu Entre o Japão e a China

5 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: diferentes interessados em ambos os países, notícias em muitos jornais sobre a disputa de ilhas, novos incidentes | 8 Comentários »

Enquanto alguns japoneses e chineses procuram reduzir as tensões diante das disputas sobre as ilhas Senkaku para os japoneses e Diaoyu para os chineses, outros parecem provocar gestos perigosos que diante de qualquer acidente pode desencadear um conflito de difícil controle. Muitos jornais de todo o mundo noticiam que as autoridades japonesas estão protestando diante de algumas embarcações militares chinesas terem dirigidos seus radares, que usualmente são destinados a orientar disparos para as dos japoneses. Ainda que elas ilhas sejam desabitadas, o que estão em disputas são possíveis reservas de petróleo e gás no seu entorno, bem como a capacidade de pescas nos seus mares.

Os elevados interesses econômicos e comerciais entre ambos os países fazem com que algumas autoridades procurem meios para a superação do problema. No entanto, todas as disputas territoriais desencadeiam sentimentos nacionalistas que revolvem também problemas passados, principalmente entre a China e o Japão. Os analistas internacionais procuram informar sobre os riscos existentes, notadamente em que o mundo passa por um período de recuperação do nível de atividade econômica. A China enfrenta as dificuldades de reformas para voltar-se ao mercado interno, melhorar a sua distribuição de renda e redução da sua poluição, enquanto o Japão procura ativar a sua economia. Os Estados Unidos, que vinham se preocupando com a segurança na Ásia, também enfrentam outros problemas, que não permitem gastos destes tipos no Extremo Oriente.

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O Desequilíbrio Econômico Mundial

27 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: câmbio, contribuição de Ronald McKinnon da Stanford, déficit fiscais e comerciais, juros

O conhecido professor emérito da Universidade de Stanford Ronald McKinnon publica um artigo no Project Syndicate dando sua posição no interminável debate sobre o atual desequilíbrio econômico mundial. Ele ensina no seu artigo que os atuais enfoques estão errados, tanto no suporte como na crítica, e para tanto elaborou o seu livro “The Unloved Dollar Standard: From Bretton Woods to the Rise of China”, que numa tradução livre poderia ser “O não amado padrão dólar: de Bretton Woods à ascensão da China”. As críticas que costumam ser feitas é que a taxa de juros do Fed – Banco Central dos Estados Unidos está baixa, com sua política favorecendo a expansão do crédito, tanto no país como em todo mundo inundado de dólares, com o aumento da dívida pública, o que faz com que o câmbio acabe valorizando as demais moedas (o que corresponde uma desvalorização do dólar), dificultando as exportações de muitos países, favorecendo as dos Estados Unidos. Apesar disto, o dólar continua como a principal reserva de valor, desde o término da Segunda Guerra Mundial e a realização da reunião de Bretton Woods, que criou o FMI – Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, para promover a recuperação da Europa e o Japão, destruídos durante o conflito, promovendo o chamado Plano Marshall.

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Ronald McKinnon

A China, o Brasil e os países europeus reclamam da política norte-americana, que também já provocou no passado a valorização do yen, como no chamado Acordo de Plaza. Mas o professor Ronald McKinnon ressalta que o problema não está nos aspectos monetários nem cambiais, mas no déficit fiscal de muitos países como nos Estados Unidos, que vem atrapalhando a economia mundial, como já ocorreu no passado.

Ele apresenta um gráfico mostrando os períodos onde os produtos japoneses e depois os chineses inundam os Estados Unidos, que continuam não resolvidos pelas medidas de política econômica, segundo o autor.

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Com tudo isto, infelizmente, todos continuam insatisfeito, e fazem o que entendem como mais favorável para o seu país, pois não conseguem diminuir os seus déficits fiscais, mais por questões políticas a que estão condicionados, como se vê tanto nos Estados Unidos, Europa como no Japão.


Interpretação das Relações Sino-Japoneses na Era Meiji

26 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: abordagem biográfica, contradições da época, publicado no The Japan Times, resenha do livro Ásia para os Asiáticos | 2 Comentários »

Asia1Florian Coulmas, reconhecido como um profundo conhecedor do Japão e da Ásia, publicou no The Japan Times uma resenha do interessante livro “Asia for the Asians: China in the Lives of Five Meiji Japanese”, de Paula S.Harrell, publicado pela Mervin Asia em 2012. Como é do conhecimento geral, a Era Meiji caracteriza-se pela abertura do Japão para o Ocidente. Mas, segundo o articulista, esta absorção da tecnologia e cultura ocidental era para os japoneses uma defesa contra o potencial imperialismo dos Estados Unidos e países europeus. Os chineses confiavam na sua longa história e cultura como defesa, ainda que a dinastia Qing estivesse em evidente decadência. A surpreendente vitória militar japonesa sobre a China em 1895 teria aumentado o desdém dos japoneses pelos chineses da época. O livro se baseia na biografia de cinco japoneses da época, muito diferentes entre eles, que tinham interesses no desenvolvimento da China da época. Reflete também as contradições existentes neste período no Japão como na Ásia sobre a política de fortalecer suas relações, diante da ameaça Ocidental, problema que parece perdurar até hoje.

Segundo a resenha, a autora baseou-se na vida do príncipe Atsumaro Konoe, político influente na atual Gakushin University, na época Peers School, um forte defensor da política Ásia para os Asiáticos. Do pedagogo Unokichi Hattori, que criou uma instituição de ensino superior em Pequim e que testemunhou a revolta dos Boxers. Da professora Misako Kawahara que aceitou ensinar em Xangai, e passou depois para a Mongólia para incutir o tipo de ensino japonês naquele país ocupado. De Naniwa Kawashima, um aventureiro antiocidental que ascendeu a uma posição influente junto à burocracia Qing. E Nagao Ariga, professor da atual Universidade de Waseda, na época Senmon Gakko de Tóquio, que assessorou os chineses sobre a reforma constitucional.

Todos eram indivíduos talentosos que viveram uma época turbulenta, e a autora Paula S.Harrell consegue descrever o drama em evolução, com o Japão procurando consolidar-se como uma nação civilizada, travando guerras que achavam justas, contra a China e a Rússia.

O Japão, que tentava conter a influência ocidental, numa das contradições, acabou se juntando a elas para subjugar um levante antiocidental na China. Proclamando a solidariedade à China, fazia apologia ao separatismo da Manchúria. Abraçando as instituições de governança dos Ocidentais, procurava as orientações de Confúcio, ao mesmo tempo em que se envolvia em atrocidades.

Ao mesmo tempo em que os personagens escolhidos admiravam a cultura chinesa, levavam para lá seus conhecimentos técnicos, de educadores e diplomatas. Alegando o desejo da expansão do Estado de Direito, encarnavam a ambição japonesa de se tornar um global player, utilizando a força militar. O sucesso nos campos de batalha conduziu-os ao mesmo cinismo da natureza oportunista dos ocidentais.

Em 1911, segundo o autor da resenha, a cortina caiu sobre o período Meiji e a dinastia Qing. Enquanto o Japão tinha conseguido modernizar-se, a China ficou hesitante. O papel exercido pelos cinco personagens, apesar de suas boas intenções com a China, acabaram por ajudar no novo papel que o Japão exerceu na Ásia e no mundo.

Pelo visto, o mundo continua o mesmo, e a leitura deste livro pode ajudar na compreensão de muitos problemas atuais.