Dentro do verdadeiro tsunami de informações, procuramos destacar os mais importantes para o público em geral. O twitter da jornalista Silvia Kikuchi, do IPCTV do Japão, vem com notícias que todos deveriam tomar conhecimento, tanto no Japão como no Brasil. Repetimos: http://twitter.com/silviakikuchi
Uma é sobre a esclarecedora entrevista efetuada pelo JP TV com o Dr. Eduardo Nóbrega Pereira da Silva sobre a radiação, níveis toleráveis, bem como todos os termos técnicos sobre o assunto, numa linguagem acessível a todos. Pode ser encontrado no http://bit.ly/ex38Lm e em menos de 10 minutos ele dá uma aula espetacular e didática sobre o assunto, tranquilizando a todos. Só podemos transmitir os nossos mais entusiasmados cumprimentos a todos que colaboraram para permitir a sua divulgação.
Outra notícia que ela postou, e nos deixa a todos estupefatos, é que 90% das obras de restauração dos aeroportos, estradas e portos afetados pelos terremotos permitiram os seus restabelecimentos. É claro que se trata de uma situação de emergência, mas todos nós devemos aprender que diante de desastres naturais existem tecnologias e pessoas disponíveis para resolver estes problemas rapidamente, sem maiores burocracias como as que se arrastam nos mais variados lugares.
Até as autoridades japonesas começam a admitir que o controle do vazamento da radiação das usinas de Fukushima Daiichi pode demandar muito tempo, preocupando todo o mundo. As radiações, segundo as informações mais atualizadas, foram encontradas nas águas de algumas unidades, não se sabendo exatamente o que está provocando este vazamento, que estão contaminando o mar da proximidade das usinas. Para tranquilizar os parentes e amigos dos residentes no Japão, o governo com a ajuda da tradução de estudantes da Universidade de Keio, está fornecendo informações atualizadas diariamente sobre as radiações constatadas nas diversas municipalidades e províncias, bem como outras informações úteis.
Elas podem ser obtidas em alguns idiomas acessando o site http://eq.wide.ad.jp/index_en.html (favor observar que entre índex e en existe um underline).
No primeiro item do MEXT (Ministério de Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia), onde aparece Radiation in Daily Life, há um item Exposição à radiação (Portuguese). O gráfico em pdf é muito ilustrativo, mas deve-se alertar que os padrões japoneses são extremamente rigorosos, e são ANUAIS na unidade micro sievert, que é uma medida de radiação. O elevado grau de contaminação de Guarapari, no Estado do Espírito Santo, Brasil, deve-se as areias monazíticas que já foram bastante extraídas. Os dados de tomografia dos equipamentos mais atualizados são mais baixos, mas muitas autoridades preveem a possibilidade de se acumularem no corpo humano durante toda a vida, o mesmo acontecendo com o Raio X.
No item seguinte, Reading of environmental radioactivity level by prefecture, acionando-se a província desejada, obtém-se a informação do dia de radiação de diversos pontos da região. Como exemplo, em Fukushima, em pontos de diferentes distâncias das usinas com problemas, são apresentadas em tabelas atualizadas. Tóquio ou outras são apresentadas em gráficos (bairro de Shinjiku), compreendendo diversos dias, inclusive hoje.
No item seguinte, Reading environmental radioactivity level by prefecture, acessando All Prefectures, obtém-se tabelas de ontem e hoje, em muitos horários diferentes, numas tabelas.
Muitos outros dados estão disponíveis, como as águas potáveis, nas poeiras, na água do mar nas proximidades de Fukushima Daiichi, no espaço etc.
Com observação geral, pode-se informar que, ao longo destes terríveis dias de angústia, os dados relacionados às usinas de Fukushima Daiichi são preocupantes, e as autoridades japonesas estão concentradas nelas, junto com a TEPCO, empresa de energia elétrica que as administra, determinando-se a evacuação de sua proximidade. Os dados marítimos indicam que peixes, frutos do mar, algas e outros produtos da região serão afetados.
Mas, no resto do país, depois da constatação de radiações em legumes, leites e derivados e água potável, elas estão baixando consistentemente, com a grande maioria dos locais voltando aos níveis toleráveis, não devendo constituir em preocupações exageradas daqueles que vivem no Japão, bem como dos seus parentes e amigos que vivem em outros países, no mínimo deste ponto de vista.
O extremamente interessante depoimento da consagrada chef Mari Hirata que, apesar de residente há longo tempo no Japão, continua visitando regularmente o Brasil, registra na Folha de S.Paulo deste domingo as suas impressões sobre a crise que se abateu sobre o Japão. Apesar de residir em Tóquio, teve que enfrentar uma fila no supermercado para comprar leite, água e ovos, ficando impressionada com a paciência dos japoneses com estes inconvenientes. Ela demonstra que continua nipo-brasileira, mas tem a sensibilidade de apreciar uma prematura florada de uma cerejeira nas proximidades do supermercado, dando um toque agradável ao seu depoimento, uma de suas muitas qualidades.
Ela compara a situação como semelhante a de um filme de guerra, e ela certamente não passou por esta experiência, pois é muito jovem para tanto. Os horrores do desabastecimento, inclusive no Brasil, longe do teatro da guerra, exigiam que todos fizessem filas deste as madrugadas frias, por muitas horas, para conseguir um pouco de pão ou farinha. Ninguém subestima as dificuldades, principalmente nas regiões mais afetadas, inclusive pelas contaminações atômicas, que estão vedadas para o trânsito de caminhões que podem levar estes suprimentos à população.
Mari Hirata, chefe de cozinha nipo-brasileira que vive no Japão
Procuro aprender e acompanhar com o estoicismo do povo japonês e procuro manter me informado, retransmitir aos que nos honram com suas visitas notícias objetivas baseadas nos fatos. Nota-se, no entanto, um pequeno aumento das apreensões, principalmente dos habitantes e agricultores das regiões mais próximas às usinas do Fukushima Daiichi. As autoridades ainda não conseguem transmitir notícias positivas que mostrem como serão reduzidos os riscos de contaminação radioativa. Muitas informações atualizadas estão sendo transmitidas pelos programas da NHK, como desta manhã de sábado no Brasil, já noite no Japão. E de meios extremamente úteis, como da jornalista Silvia Kikuchi, do IPCTV JP, que retransmite parte da programação da TV Globo do Brasil, que mantém um twitter @silviakikuchi. Ela está localizada num ponto tão estratégico, com a ajuda de muitos amigos, entre os quais tento me incluir.
Diante do desafio imposto ao Japão, o jornal Nikkei publica um artigo com a mentalidade típica da cultura nipônica, com o título “Now’s The Time To Show What Japan Can Do” (pela tradução livre, Agora é Hora do Japão Mostrar O Que Pode Fazer). Como prova, informa que a Toshiba, responsável pela construção da usina Fukushima Daiichi (primeira), enviou 100 dos seus técnicos, que se unem com 120 da sua concorrente Hitachi, para a revisão das usinas de Fukushima Daini (segunda), nas suas partes cruciais. O Japão depende em 30% das 54 usinas atômicas no fornecimento da energia elétrica que consome. O presidente da Toshiba, Norio Sasaki expressou a sua confiança no “senso de responsabilidade e orgulho” dos seus técnicos de alto nível.
O artigo cita, também, os casos concretos de continuidade de suprimento do varejo. A loja da rede Ito-Yokado, de Ishinomaki, província de Miyagi, estava com 200 fregueses quando com do terremoto e ficou sem energia elétrica, gás e água corrente, e eles foram colocados para fora da loja pelos funcionários. Por ordem do presidente da rede, os funcionários receberam ordem de estudar como poderiam prosseguir com suas operações. Três horas após os funcionários fecharem as portas, eles voltaram a operar fora do estabelecimento com dúzias de produtos, como água em garrafa, macarrão instantâneo e baterias. No dia seguinte, estavam com uma fila de 800 pessoas desejando comprar o que se dispunha.
Entre as inúmeras lições que aprendemos com os lamentáveis problemas enfrentados pelo Japão com os terremotos, tsunamis, radiações e todos os demais problemas associados, notamos os dramas das comunicações. Recebemos de uma brasileira residente no Japão a mensagem que nos gratifica e tomamos a liberdade de tornar pública:
1. Claudia Mera
3 escreveu às 07:57 em 24 de março de 2011:
Moro no interior de Shizuoka e seus textos me deixam tão tranquila quanto o governo dizendo que não há perigo aqui. Queria que minha família no Brasil compartilhasse de minha tranquilidade e confiança de que amanhã será um lindo dia. GANBARE NIPPON!!!
Existem muitos trabalhos comunitários importantes prestados pelos brasileiros que se encontram no Japão, principalmente numa crise como a atual por que se passa no momento. Eles se tornam mais relevantes, e desejo destacar os que estão ajudando e muito no que acontece com eles, e como estão enfrentando os problemas, para maior tranquilidade dos que lá vivem, bem como seus parentes e amigos no resto do mundo.
O site: http://www.web-town.org/ merece especial destaque, pelas ponderadas formas pelas quais transmitem com rapidez muitos dos graves problemas pelos quais estão passando, inclusive parte dos programas brasileiros que informam o público sobre a evolução dos mesmos. Elaboram esclarecimentos úteis para todos os brasileiros, aproveitando o que há de melhor nestes dados, inclusive alguns que podem ser considerados mais agudos.
Os itens relacionados com a COMUNIDADE, que podem ser facilmente acessados, contêm importantes depoimentos que estão sendo prestados pelos brasileiros que vivem naquele país, apontando as suas necessidades. Alertam, também, sobre os malandros que sempre procuram tirar proveitos nos momentos de dificuldade, como na arrecadação de doações.
Só podemos prestar a nossa integral solidariedade, informando inclusive as autoridades brasileiras sobre a necessidade de ampliar a assistência a estes heroicos patrícios.
A importante revista de influência mundial, The Economist, editada em Londres, expressa duramente o que alguns japoneses podem pensar, mas não ousam explicitar. Ao mesmo tempo em que elogia o estoicismo do povo japonês diante de um incompreensível desastre natural, colocam de forma implacável suas críticas à ineficiência do Estado e do governo. Registram que a assistência às vitimas demorou a chegar, com o lamentável governo do primeiro-ministro Naoto Kan concentrando suas atenções aos problemas das usinas atômicas de Fukushima Daiichi, onde ficou evidente a ineficiência da empresa TEPCO.
A revista registra que no episódio de Kobe já ficou evidente a ineficiência do Estado e do governo, fazendo com que os eleitores japoneses interrompessem o longo período em que sua política foi dominada pelo LDP – Partido Liberal Democrata, que acabou sendo substituído pelo DPJ – Partido Democrata do Japão que comanda o atual governo. Mas as promessas de mudanças não ocorreram. O governo demorou em conscientizar-se da magnitude do desastre, e o estoque de reserva estratégica de gasolina só foi acionado depois de dias, segundo The Economist.
Logotipo do The Economist, que faz duras críticas ao primeiro-ministro Naoto Kan
Diante das preocupantes informações divulgadas pelas autoridades japonesas, mostrando que radiações foram localizadas em vegetais provenientes da região nordeste do Japão, suspendendo o seu fornecimento, e até de águas que abastecem Tóquio, recomendando que crianças não as utilizem para as suas necessidades alimentares, sempre é conveniente informar, o mais didaticamente para todos, o que está ocorrendo. Muitos veículos de comunicação no Brasil, no Japão e em outros países procuram, com informações objetivas, evitar a possibilidade de provocar pânicos que em nada ajudam a resolver os graves problemas.
O Daily Yomiuri Online publica em inglês artigos esclarecedores, que podem ser melhor compreendidos quando se observa que os limites estabelecidos pelas autoridades japonesas são extremamente conservadoras, dando margens amplas de segurança. Vamos tentar esclarecer com dados médicos brasileiros que os riscos de danos humanos são extremamente baixos, ainda que todos os alimentos e bebidas contaminados devam ser evitados, pois hoje se adota o critério que eles podem ser cumulativos durante a vida dos seres humanos.