2 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: noticiário sobre desastre, o percentual dos que foram afetados, o que acontece com o resto do Japão | 2 Comentários »
Uma vida é importante para todos nós. Até um cão que foi encontrado no mar depois de três semanas do terremoto e tsunami, que afetaram fortemente a região nordeste do Japão, virou notícia em todo o mundo. As manchetes da mídia ainda informam sobre o drama do que ocorre em Fukushima Daiichi, as procuras pelos desaparecidos, os atendimentos aos desabrigados, as cooperações e doações nacionais e internacionais e os esforços de reconstrução, as tentativas de voltar à vida normal. Tudo mais que natural, mas seria interessante tem um panorama geral do Japão de hoje, fugindo das informações que distorcem a realidade, talvez menos interessante, mas mais profunda.
O que está acontecendo com todo o Japão hoje? Aquele país conta com cerca de 128 milhões de habitantes, os lamentáveis falecidos e desaparecidos giram em torno de 30.000 pessoas, ou seja, de cada 10.000 habitantes pouco mais de duas pessoas estão nestas lastimáveis estatísticas. No Brasil, o número de mortos nos acidentes de trânsito anual supera esta cifra. Mais de 99,97% da população japonesa sobreviveram e estão bem, lutando e trabalhando normalmente, de forma anônima.
O esforço concentrado de mais de 25.000 soldados das Forças de Defesa do Japão com os militares norte-americanos neste fim de semana, com o apoio dos melhores equipamentos disponíveis para localizar os corpos, podem chegar a cerca de 400 novos, mostrando as dificuldades de encontrá-los.
Neste desastre, uma das maiores da humanidade nos últimos anos, estima-se que cerca de 600.000 pessoas, no seu pico máximo, foram desalojadas, sendo atendida nos abrigos improvisados, número que já deve estar em torno de sua metade hoje. Muitos já foram reacomodados em outras áreas, com seus familiares, amigos e residências disponíveis, ou seja, resta em torno de 25 desalojados entre cada 10.000 habitantes, que continuam sendo muitos.
O Japão conta com cerca de 55 complexos atômicos que fornecem 30% da matriz energética daquele país, e a que foi afetada é a Fukushima Daiichi, sendo que na mesma província existe a Fukushima Daini. Os trabalhos estão acelerados, agora com a cooperação internacional. Por precaução, algumas foram desligadas e todas estão passando por revisões, pois a intensidade dos terremotos e tsunamis superou as expectativas dos projetistas. Cerca de 100 abalos acima de 6 graus Richter, considerado elevado, foram registrados desde aquela semana fatídica de 11 de março, nas mais variadas regiões japonesas. Isto assusta os estrangeiros, mas os japoneses estão treinados para estes problemas. Os mais profundos problemas de administração do país vêm de longa data, com limitações no comando central, tanto do governo como da empresas excessivamente burocratizadas.
Informa-se que mais de 90% da infraestrutura japonesa abalada pelos acidentes naturais já foi reconstruída pelo pessoal local. Todos estão engajados nesta obra gigantesca, nas frentes de trabalho, em toda a gigantesca periferia da sociedade japonesa. Existem alguns problemas de abastecimento, mas já são mínimos, com os de gasolina. O racionamento da energia elétrica foi suspenso em muitos lugares, pois a colaboração da população está reduzindo o seu consumo de forma voluntária.
Os neons, como de Ginza, foram desligados, os consumos considerados de luxo foram reduzidos, mas as lojas de varejo estão vendendo mais que no mesmo período do ano passado. Alimentos frescos, águas, pilhas, produtos industrializados de preparo instantâneo etc. Haverá uma forte reestruturação da economia japonesa, que pode voltar mais vigorosa.
Todas as atividades relacionadas à reconstrução civil estão aceleradas, dentro do possível no momento. A quase totalidade das escolas funciona normalmente, os jogos do beisebol colegial estão sendo transmitidas pelas televisões, bem como as novelas, as empresas voltaram a empregar os recém-formados.
Quando se pergunta aos familiares do Brasil sobre seus parentes que vivem no Japão, as notícias é que tudo está bem, pelas informações transmitidas pelos telefones, internet ou outros meios eletrônicos. Com pequenas inconveniências, como as limitações do consumo de energia, principalmente nas regiões mais afetadas do nordeste do Japão. Mais desinformados, os que estão no exterior estão mais alarmados que os que vivem naquele país.
Existem problemas das expectativas futuras com relação aos pequenos agricultores e pescadores da região nordeste, mas o governo será obrigado a proporcionar-lhes assistência, efetuando programas como o de land development, como os que foram feitos na província de Ibaraki, na região de Tsukuba, hoje a mais importante cidade científica do Japão.
Os voluntários continuam trabalhando, arrecadando doações, executando trabalhos de assistência por toda a parte. Até estrangeiros que deixaram o Japão estão retornando, a vida está voltando ao normal.
A solução dos problemas das usinas de Fukushima Daiichi levará meses, até o governo admite, mas os graus de radiação continuam se reduzindo em todo o Japão.
As comemorações das floradas das cerejeiras estão mais modestas, mas a primavera já chegou ao Japão. Que ela seja de um grande esforço de reconstrução de sua economia e sociedade, fazendo que aquele país e o seu povo voltem a ocupar o destaque que eles merecem no cenário mundial, dando a sua contribuição cultural, dedicação ao trabalho, de suas tecnologias e suas poupanças para o resto do mundo.
Uma nova geração de japoneses deve assumir o comando do país, muito mais inserido no mundo globalizado, tanto na política como na economia, de forma gradual. Acredita-se que o Japão está passando por um novo ponto de inflexão, como quando terminou a Segunda Guerra Mundial.
1 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Destaque | Tags: concerto beneficente, osesp, solidariedade | 14 Comentários »
A apresentação contará com a participação de músicos japoneses e nipodescendentes e com obras de Heitor Villa-Lobos, Toru Takemitsu e Yoshinao Nakada
Em uma iniciativa inédita, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e a Secretaria de Estado da Cultura se juntam a um grupo de entidades japonesas para uma ação que visa arrecadar fundos em prol das vítimas dos recentes desastres naturais que devastaram a região Nordeste do Japão.
O concerto realizado pela Osesp, na Sala São Paulo, acontecerá no dia 11 de abril, exatamente um mês após a tragédia, e abrirá as atividades da campanha SOS Japão, que conta ainda com dois jantares –um no Hotel Unique e outro no Palácio dos Bandeirantes- e demais atividades ainda a serem divulgadas. Todas as receitas geradas pelos eventos serão revertidas à causa.
A apresentação contará com artistas japoneses que fixaram residência no Brasil, como a maestrina Naomi Munakata e a soprano Eiko Senda; bem como de artistas nipodescendentes, caso do pianista Fernando Tomimura. A eles se juntam o maestro brasileiro Wagner Polistchuk.
O repertório terá início com o Réquiem, de Toru Takemitsu, obra inédita no Brasil, que será tocada pela Orquestra de Cordas da Osesp, sob regência de Wagner Polistchuk. Na sequência, a maestrina Naomi Munakata comanda o Coro da Osesp em três obras de Villa-Lobos, Pater Noster, Ave Maria, e Bachianas Brasileiras nº5, esta última com a participação do naipe de violoncelos da Osesp e da solista Eiko Senda. Ainda sob regência de Naomi Munakata, as Vozes Femininas do Coro da Osesp cantam a Suíte Borboleta, do japonês Yoshinao Nakada, com solos do pianista Fernando Tomimura. O espetáculo se encerra com as Bachianas Brasileiras nº9, regidas novamente por Wagner Polistchuk
O concerto contará com o patrocínio da CBMM e Camargo Corrêa e apoio do Instituto Tomie Ohtake e da Ingresso Rápido.
Doações para a SOS Japão também serão recebidas na noite do espetáculo.
SOS JAPÃO
Sensibilizados com a catástrofe que recentemente abalou o Japão e deixou cerca de 10 mil mortos e 17 mil desaparecidos, sete entidades japonesas sediadas no Brasil – Bunkyo, Kenren, Kodomo no Sono, Kibo No Iê, Ikoi No Sono, Hospital Santa Cruz e Consulado Geral do Japão – estão promovendo uma campanha para ajudar as vítimas da tragédia que atingiu o país no último dia 11 de março. A iniciativa, batizada de SOS Japão, já tem três eventos confirmados e outros dois em planejamento, todos com a renda revertida para as vítimas.
Sala São Paulo
Segunda, 11/4 (21h);
Preço único: R$50
Aposentados, pessoas acima de 60 anos, estudantes e professores da rede pública têm 50% de desconto, mediante comprovação
Recomendação etária: 7 anos
Cartões de crédito: Visa, Mastercard, American Express e Diners.
Ingressos também pela Ingresso Rápido 4003-1212 – www.ingressorapido.com.br
Estacionamento: 611 vgs (20 para Portadores de Necessidades Especiais e 33 para Idosos) – R$ 12.
Sala São Paulo (1484 lugares) – Pça. Júlio Prestes 16
Bilheteria: (11) 3223-3966.
Regentes
WAGNER POLISTCHUK
Diretor artístico e regente titular da Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina em 2003 e 2004, Wagner Polistchuk tem se apresentado à frente de importantes orquestras como a Osesp, as Sinfônicas da USP, do Theatro Municipal de São Paulo, de Santo André, do Teatro Nacional de Brasília, de Mendoza, na Argentina e a Hermitage Orchester, na Suíça. Destacou-se em concursos internacionais no Brasil, Itália e Suíça e foi solista convidado da Landesjugendorchester Bremen da Alemanha na turnê por São Paulo. Em 2009 tornou-se diretor artístico da Camerata Antiqua de Curitiba.
NAOMI MUNAKATA
Nascida no Japão, Naomi estudou piano, violino, harpa e canto. A vocação para a regência começou a ser trabalhada em 1973, com os maestros Eleazar de Carvalho, Hugh Ross, Sérgio Magnani e John Neschling. Anos depois, ganhou o prêmio de Melhor Regente Coral, pela APCA. Em 1986, recebeu do governo japonês uma bolsa de estudos para o curso de aperfeiçoamento em regência da Universidade de Tóquio. Participou de cursos internacionais na Inglaterra, Holanda e Suécia. Hoje, acumula as funções de professora da Faculdade de Artes Alcântara Machado e da Escola Municipal de Música de São Paulo (onde é também regente do coro), de coordenadora do Coral Jovem do Estado de São Paulo e, junto à Osesp, de coordenadora e regente dos Coros Sinfônico e de Câmara.
Solistas
EIKO SENDA – Soprano
Nascida no Japão, Eiko Senda conquistou os primeiros lugares no Wakayama Intl. Music Competition e no Takarasuka Intl. Chamber Music Competition, em 1988. Em 2001 venceu o Concurso Maria Callas. Desde 1995, quando mudou-se para o Brasil, Eiko já foi a personagem protagonista em diversas óperas e apresentou-se em diversos recitais nos mais importantes teatros do país. Entre outras atividades, Eiko Senda promove, como diretora musical, concertos de câmara educativos, abertos ao público, na Universidade de São Paulo (FAU em Concerto).
FERNANDO TOMIMURA – piano
Sua atuação inclui apresentações como concertista, recitalista e camerista ao lado dos principais nomes do cenário musical brasileiro, e repertório diversificado. Além do Brasil, já se apresentou na Alemanha, Finlândia, Rússia, Espanha, Portugal, França, Polônia, Hungria, Áustria, Suíça, Argentina e Chile. É pianista da Fundação Osesp e da Escola Municipal de Música de São Paulo. Em 1999 estreou como diretor musical na ópera A Solteirona e o Ladrão de Gian Carlo Menotti. Fez a estreia brasileira de obras de Béla Bartók e Silvio Ferraz e gravou trilhas sonoras para filmes. Em 2006 gravou, de Willy Corrêa de Oliveira, a série para piano “Velhos Hinos Cantados de Novo”.
Osesp – Desde 1954, a Osesp trilhou uma história de conquistas, que culminou em uma instituição reconhecida nacional e internacionalmente pela qualidade e excelência. Foi dirigida pelo maestro Souza Lima e pelo italiano Bruno Roccella, mais tarde sucedidos por Eleazar de Carvalho, que por 24 anos permaneceu à frente da Orquestra e deixa um projeto para sua reformulação. Com o apoio do Secretário de Cultura e o empenho do Governador Mario Covas, em 1997 o maestro John Neschling é escolhido para assumir a direção artística e conduzir essa nova fase na história da Osesp. A Sala São Paulo é inaugurada em 1999 e, nos anos seguintes, são criados os coros Sinfônico, de Câmara, Juvenil e Infantil; o Centro de Documentação Musical Maestro Eleazar de Carvalho; o Serviço de Assinaturas; o Serviço de Voluntários; os Programas Educacionais; a editora de partituras Criadores do Brasil; e a Academia da Osesp. Em maio de 2009, a Osesp ganha o XII Prêmio Carlos Gomes na categoria Orquestra Sinfônica, pelo conjunto de apresentações realizadas durante o ano de 2008. Indicada pela revista inglesa Gramophone como uma das três orquestras emergentes no mundo às quais se deve prestar atenção, a Osesp dá continuidade ao projeto de ampliação constante da cultura musical brasileira e para a Temporada 2010 conta com o maestro francês Yan Pascal Tortelier como regente titular e o músico e escritor Arthur Nestrovski como diretor artístico.
Instituída em junho de 2005, a Fundação Osesp administra a Orquestra, a Sala São Paulo e, consequentemente, as relações de trabalho de mais de 290 pessoas – entre músicos, administração e técnicos – permitindo maior agilidade administrativa, ampliação de parcerias e melhoria na qualidade dos serviços oferecidos.
Mais informações:
www.osesp.art.br – http://twitter.com/osesp – [email protected]
1 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: Agência de Segurança Nuclear e Industrial, cobranças à TEPCO, o conservador jornal econômico Nikkei pede mais informações | 4 Comentários »
Está se registrando uma pressão interna e externa por mais informações sobre a crise nuclear japonesa, relacionada aos problemas do complexo de Fukushima Daiichi, que compreende seis unidades atômicas de geração de energia. O jornal econômico japonês Nikkei, que costuma ser comedido e conservador, utiliza hoje até a expressão que a Tepco “have done a poor job of releasing information” (tem feito um pobre trabalho de divulgar informações). A agência governamental de Segurança Nuclear e Industrial junto com a companhia elétrica, segundo o jornal, tem divulgado notícias fragmentadas, confusas e em alguns casos errôneos sobre as usinas afetadas pelo terremoto e tsunami.
Esta agência que está subordinada ao METI – Ministério de Economia, Indústria e Comércio do governo japonês deve ser reestruturada pelo governo, passando a ser independente. Segundo o Nikkei, eles oferecem scraps (sucatas) de informações que só aumentam a ansiedade do público, utilizando expressões pouco claras para esclarecer a situação e as estratégias para conter a crise.
Presidente da TEPCO, Masataka Shimizu, e membros da Nuclear and Industrial Safety Agency
Como os problemas das usinas de Fukushima Daiichi devem demandar um longo tempo para serem totalmente resolvidos, há que melhorar esta comunicação. O ministro Yukio Edano vem admitindo estes prazos, e as radioatividades liberadas já superaram a de Three Mile nos Estados Unidos, e mesmo o japonês Yukiya Amano, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica, diz que elas não devem voltar a funcionar, a exemplo de Chernobyl. Segundo o jornal, há necessidade do governo proporcionar uma descrição do que chamou “big picture”, uma espécie de quadro geral.
Para tanto, deve intensificar o fornecimento de informações relevantes com grande regularidade, inclusive com a colaboração externa, segundo o Nikkei, utilizando os meios que estão sendo usados pelos norte-americanos como o RQ-4 Global Hawk, um veículo aéreo que detecta as radiações em torno do complexo. As tropas do Sistema de Defesa do Japão não contavam com todas as informações sobre as áreas em que lançaram água.
Segundo o jornal, ainda é tempo para estabelecer um sistema de gerenciamento da crise, distribuindo as informações, estabelecendo objetivos de curto prazo e explicitando os planos para atingir os objetivos. A crise de Fukushima deve provocar mudanças radicais na política energética japonesa, com implicações em todo o mundo. Eles entendem que o Japão é responsável pelas informações acuradas sobre o que está acontecendo e o que vai acontecer.
Pelo visto, passadas três semanas do acidente natural, a carência dada aos responsáveis esgotou-se.
1 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: colaboração do sistema de autodefesa do Japão com os militares americanos, esforço concentrado, noticia da agência Kyodo
A agência de notícias Kyodo informa que haverá um esforço concentrado de três dias, deste a sexta e neste fim de semana, com a participação dos militares do Sistema de Autodefesa do Japão – SDF e norte-americanos, para localizar os desaparecidos nas cidades mais afetadas pelo tsunami, que continuam estimados em mais de 15.000. Dezenas de navios e helicópteros, contando com mais de 25.000 militares, se juntarão aos policiais, bombeiros e membros da Guarda Costeira. A área a ser coberta incluem praias, muitas que continuam submersas, rios das províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima, com cerca de 18 quilômetros de costa.
Cerca de 100 aviões e 50 navios são do SDF e 20 aviões e 15 navios dos militares norte-americanos. Mas a busca não incluirá a área dentro de um raio de 30 quilômetros das usinas de Fukushima Daiichi, que apresentam riscos de contaminação. Alguns poucos moradores que estão aquém do limite de 20 quilômetros e outros dos 30 quilômetros voluntários, continuam resistindo à evacuação.
As buscas pelos desaparecidos serão intensificadas
As buscas já vêm sendo efetuadas utilizando, inclusive, equipamentos pesados que foram deslocados de outras províncias para remover entulhos e lixos acumulados na região. Pelos critérios japoneses, só são considerados na estatística dos mortos os corpos que foram localizados.
Este esforço concentrado acaba sendo indispensável, pois já se passaram três semanas dos acidentes, aumentando os riscos de propagação de doenças. Ajudarão a esclarecer as dúvidas de seus familiares que continuam angustiados, muitos que continuam nos abrigos improvisados na região.
Segundo o artigo constante do site do Nikkei, utilizando informações da agência Dow Jones, na entrevista coletiva concedida hoje, o primeiro-ministro Naoto Kan informou que está enviando uma proposta de um orçamento adicional, que no ano fiscal japonês começa neste primeiro de abril. Destina-se às assistências das vítimas, como os esforços de reconstrução, bem como os trabalhos relacionados com a redução da contaminação das usinas que continuam apresentando problemas de radiações.
O ministro da Economia Kaoru Yosano estima, preliminarmente, que o custo do desastre pode estar entre Yen 16 trilhões a Yen 25 trilhões, ou seja, entre cerca de US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões. Parte será arcada por aumentos de impostos, como o proposto até pelo Keidanren (Federação das Organizações Econômicas), a cúpula máxima do empresariado. Outra parte, estimada em cerca de 50%, deve ser financiada com a colocação de títulos públicos, que no Japão costuma ser de longo prazo e juros mínimos.
1 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: cooperação internacional, entrevista coletiva, exposição genérica, perguntas dos jornalistas, reconstrução | 6 Comentários »
Lamentavelmente, na entrevista coletiva concedida hoje, após três semanas dos terremotos e tsunamis que arrasaram principalmente o nordeste do Japão, o primeiro-ministro Naoto Kan expôs inicialmente generalidades de agradecimentos, dando uma demonstração que não se trata de um líder com ideias próprias para resolver os problemas ainda existentes e comandar a reconstrução do Japão. A entrevista começou aproximadamente às 17h daquele país, em japonês. Kan vestia terno com gravata, mesmo que no auditório os muitos jornalistas estivessem mais informais, dado o calor do ambiente.
Poderia dar uma demonstração da economia de energia. Isto contrasta, por exemplo, com o ex-premiê Junichiro Koizumi, que mesmo no seu gabinete já utilizava roupas informais, como os uniformes de combate que vinham sendo utilizados pelas autoridades, para transmitir uma imagem de forte engajamento nos trabalhos de socorro e reconstrução. É preciso entender que já estamos na primavera japonesa, no começo de abril, com floradas das cerejeiras em Tóquio, e é conveniente aparentar que as autoridades estão engajadas nas soluções para as dificuldades que desgastam politicamente.
Primeiro-ministro Naoto Kan
Como novidade, Kan se referiu às novas construções em lugares mais elevados para abrigar as famílias que perderam suas casas. As reconstruções serão feitas segundo as sugestões da população, que receberá assistências que dependem do orçamento que vai ser executado a partir de hoje. Ele citou as assistências técnicas que o Japão está recebendo dos norte-americanos, franceses e de especialistas da Organização Internacional de Energia Atômica, mas informou que as discussões ainda estão sendo feita em nível técnico, ficando em promessas genéricas. Respondendo perguntas dos jornalistas aparentou ser um “sabonete”, escorregando por considerações gerais, ainda que solicitado a informar sobre ações concretas.
Informou que a TEPCO não será estatizada, mas o governo ajudará nas coberturas dos déficits que devem ocorrer, tanto pelas desativações de algumas de suas usinas atômicas como indenizações que terão que ser pagas. A tudo respondia que os estudos estão sendo efetuados, ouvindo as diversas partes para formular as diretrizes da reconstrução. Mais informações devem ser transmitidas por toda a imprensa, no Brasil com alguma defasagem.
31 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Tecnologia | Tags: ajuda francesa, colaboração norte americana e outras, tardia solicitação japonesa
Depois da incompreensível e criminosa demora japonesa na solicitação da ajuda técnica internacional para enfrentar os problemas das usinas de Fukushima Daiichi, pelas informações veiculadas pelos principais jornais internacionais, os franceses enviaram seus especialistas da Areva, a empresa de energia nuclear da França, inclusive seu presidente, antes da visita do presidente Nicolas Sarkozy, que visitando o Japão estabeleceu alguns entendimentos com o primeiro-ministro Naoto Kan, de interesse mundial. Eles tentam ajudar no controle das águas contaminadas encontradas em algumas unidades de Fukushima. Como se sabe, a França é o país que conta com maior percentual de energia atômica na sua matriz energética.
Os norte-americanos, tradicionais aliados dos japoneses nas questões de defesa, que sempre estiveram presentes nas proximidades dos lugares afetados, mas só depois do terceiro telefonema de Barack Obama a Naoto Kan é que estão se envolvendo diretamente enviando robôs construídos para manipular bombas. Estão preparados para atuar onde seres humanos correriam riscos elevados, detectando radiações e enviando imagens. Estão mandando 450 técnicos especializados no controle de danos provocados pelas radiações, como noticia o site do Daily Yomiuri Online.
Presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro japonês Naoto Kan
Muitas outras ajudas internacionais especializadas estão a caminho, como roupas especializadas para proteção da radiação dos americanos, materiais especiais para esfriamento, como os provenientes da Coreia do Sul e equipamentos pesados da China para concretagem de cimentos da empresa Sany, a mesma que está se preparando para se instalar no Brasil. A Alemanha envia equipamentos de compreensão de ar e armazenagem de combustíveis nucleares.
Nenhum país dispõe de todas as tecnologias hoje existentes para enfrentar grandes desastres nucleares como a que está afetando o Japão. Mas, juntando o que muitos países dispõem, a eficiência dos trabalhos permite que os danos sejam minimizados, num prazo mais curto, impondo menos angústias e sofrimentos a todos, principalmente aos japoneses.
A dura lição que, infelizmente, está afetando o Japão deve acelerar a superação da sua síndrome de Galápagos, abrindo o seu país para o mundo globalizado, com maior respeito aos avanços tecnológicos que se observam também em outras partes do universo. Sem a necessidade de sacrifícios de verdadeiros kamikazes.
Os japoneses também podem contribuir com suas ricas tecnologias para evitar desastres naturais, como se observou nas aplicadas na construção civil resistentes a grandes sismos. Com sua capacidade de reconstrução rápida, uma defesa civil eficiente, um treinamento de toda a população para enfrentar os desastres, cria uma cultura indispensável sobre o assunto.
Lamentavelmente, muitos desastres naturais ainda serão enfrentados em variadas partes do mundo, e estas duras lições precisam ser absorvidas com a máxima urgência por todos os arrogantes, como autoridades brasileiras que recusaram a oferta japonesa de assistência técnica na defesa civil para enchentes e outros acidentes naturais.
30 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: assistência do exterior para os problemas das usinas de Fukushima Daiichi, fechamento das usinas, uso de robôs | 2 Comentários »
Muito preocupante a notícia do Nikkei que somente agora o primeiro-ministro japonês Naoto Kan, no terceiro telefonema com o presidente Barack Obama dos Estados Unidos após 11 de março, acabou aceitando a assistência técnica norte-americana mais profunda para tentar resolver o problema das usinas de Fukushima Daiichi. Os japoneses teriam acertado anteriormente a ajuda francesa, que já está atuando, para a mesma finalidade. Cogitam agora do uso de robôs para resolver o problema das águas contaminadas com radiação, similar com o aventado há dias até por um modesto site como o nosso, que está acompanhando o problema do outro lado do mundo.
Primeiro-ministro Naoto Kan e o porta-voz do governo japonês Yukio Edano
Segundo informações de hoje do ministro Yukio Edano, porta voz do governo nesta crise, cogita-se também o encerramento das atividades destas usinas, hipótese que, lamentavelmente, postamos há cerca de uma semana neste site, com as precariedades das informações disponíveis a grande distância, mas decorrente de outras experiências internacionais com problemas complexos como os que as autoridades japonesas enfrentam.
Não estamos reivindicando a primazia nestas idéias que são comuns a muitos que se preocupam com tais problemas. Não desejamos concordar com a ideia expressa pelo The Economist, da semana passada, acerca da incompetência do atual governo japonês, que goza de baixo prestígio nas pesquisas de opinião efetuadas no próprio Japão. Mas procuramos entender o que está inibindo ações mais eficientes de suas autoridades.
Os japoneses vêm lamentando que no Japão há certa cultura que chamam “de Galápagos”, ou seja, específica de um arquipélago que mantém pouco intercâmbio com o exterior. Exageram na confiança em sua própria tecnologia, desenvolvida internamente, sem uma saudável troca de experiências com outras aperfeiçoadas em países estrangeiros.
Como as usinas atômicas japonesas eram consideradas as mais seguras até pelos organismos internacionais que cuidam do assunto e como os nipônicos competem no acirrado mercado mundial de novos projetos, há a possibilidade que não desejassem que estrangeiros os conhecessem nas suas entranhas.
Que houve uma subavaliação dos riscos dos violentos terremotos e tsunamis como os que se verificaram, parece não haver dúvida. As novas e atuais usinas em todo mundo devem ser revisadas, com a dolorosa experiência japonesa, notadamente nas alternativas para resfriamento diante de um desastre.
Em muitos outros setores, como o da tecnologia da construção civil ou de reconstruções de infraestrutura, os japoneses vêm demonstrando a sua competência, por estarem mais sujeitos aos terremotos. Seria conveniente que intensificassem seus intercâmbios com países estrangeiros, utilizando-os como moeda de troca.
Não parece mais fazer sentido um exagerado nacionalismo no atual mundo globalizado. Todos nós sobrevivemos numa aldeia global e precisamos estar abertos às mais variadas contribuições, pois sempre temos algo a aprender com a experiência dos outros.
30 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: lições deixadas por ele, otimismo, Universidade da Vida
O brasileiro Zé Alencar, doutorado pela Universidade da Vida, deixa um curso completo para todos, até os bacharéis deste Brasil. Ele, Amador Aguiar, Sebastião Camargo e outros grandes líderes que ajudaram a fazer este país não necessitaram de diplomas universitários. Venceram, criaram empregos para os brasileiros, espalharam bem-estar para o povo.
O otimismo era a sua marca, mesmo nos momentos mais difíceis. Tornou-se vice-presidente da República porque já tinha criado o gigantesco grupo Coteminas, mantendo sua sensibilidade para todos quantos trabalham, constroem com preocupações sociais, criticando juros e tributos altos, que prejudicam o aumento da produção.
Bem brasileiro, sua pinga, a “cachaça do vice” figura entre as melhores deste país, servido até nos almoços da Fiesp. Muito vai se continuar falando, e por muito tempo, deste personagem que, empresário consagrado, foi dar a sua contribuição para a atividade mais nobre de uma sociedade, a Política com “P” maiúsculo.
Ético, destacou-se entre seus pares, preocupado com as coisas relevantes do Brasil. Teve a coragem de falar abertamente mesmo contra o poderoso sistema financeiro, que insiste em transferir recursos do setor produtivo para o especulativo. Sem rancor, até com graça, com conhecimentos profundos e fortes decorrentes das experiências vividas.
O Brasil vai ficar devendo muito a este personagem que só semeou otimismo, plantou comércio e indústria, produziu, criou empregos.
Ele foi decisivo na eleição de Lula da Silva, outro personagem sem curso universitário, um operário metalúrgico, agora reconhecido pela Universidade de Coimbra. Tornou-se o vice-presidente da República que mais contribuiu para a melhoria deste país, com ascensão das classes menos favorecidas, criando um poderoso mercado interno que ele conhecia como a palma de sua mão. Contribuiu no governo com seu equilíbrio, ajudando no que acadêmicos sonharam, mas não conseguiram transformar em realidade.
Parece chegada a hora dos arrogantes “doutores”, formados em cursos superiores, que continuam contando com incompreensíveis privilégios, reconhecerem, humildemente, que pessoas simples como Zé Alencar são mais capazes que eles.
Não se trata de golpe de sorte, mas de muito trabalho persistente, como milhares de pessoas humildes deste nosso Brasil continuam fazendo. São eles que vão tornar este país uma potência, utilizando todos os recursos que dispõe, se não forem impedidos pelas “elites”. Vão desenvolver este país de forma mais justa e sustentável, pois eles vivem a dura realidade.
Não precisamos lamentar a sua perda, pois as lições dadas pela sua vida vão continuar permanentemente conosco.
29 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: Dilma Rousseff mostra-se firme na condução do Brasil, elevados níveis de prestígio na elite e no povo, políticas externas | 2 Comentários »
Muitos analistas no Brasil e no exterior subestimaram a presidente Dilma Rousseff, fazendo as mais variadas projeções do seu comportamento como presidente da República. Alguns afirmavam que ela seria comandada por Lula da Silva, outros que ela acabaria se desentendendo com o ex-presidente em pouco tempo, que ela era mera prosseguidora da política do governo anterior como gestora etc. Ela vem surpreendendo as elites brasileiras como o povo, com uma personalidade firme e uma política determinada, que nem todos ainda absorveram totalmente, nestes três primeiros meses do seu mandato. Seus índices de aprovação nas pesquisas de opinião são invejáveis, mostrando que conta com capacidade de comunicação e determinação de uma política, interna e externa, com características próprias.
Muitos aguardavam que no contato com Barack Obama ela ficasse inibida, num momento em que eclodiam problemas graves em todo o mundo, tanto no Japão como na Líbia. Mas mostrou-se consciente de que nos contatos com o representante máximo do país líder no mundo atual não poderia colher resultados de curto prazo, nem conseguir um apoio claro para a aspiração brasileira de um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas estabelecer as bases de uma cooperação bilateral ao longo de muitas décadas, mesmo havendo divergências sobre alguns pontos de política internacional. Fez questão de discursar sobre as divergências comerciais brasileiras com os norte-americanos, bem como dos danos da política monetária daquele país aos demais, inclusive o Brasil, colocando em posições de igualdade.
Ela vem demonstrando que a política externa brasileira está se aperfeiçoando, com a firme defesa dos direitos humanos, mas com a continuidade dos contatos e negociações com os países, mesmo com os quais o Brasil não se afina totalmente, como o Irã e a Líbia. Está programando acompanhar as homenagens à Lula da Silva em Portugal, que teve a sabedoria de não ofuscá-la nos contatos com o presidente dos Estados Unidos. Portugal é o país do qual o Brasil recebeu a principal herança cultural, e que passa por dificuldades econômicas no momento.
Está programando uma importante visita à China em abril próximo, aproveitando a reunião dos países emergentes de grandes dimensões geográficas do chamado BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China que estão aumentando a importância econômica e política mundial. A China, que vem bloqueando o assento do Japão no Conselho de Segurança da ONU, manifestou que não apoiará a pretensão brasileira. Imediatamente, no mesmo tom, o Brasil respondeu que não reconhece aquele país como economia de mercado, reservando-se ao direito de retaliar o maior importador e exportador mundial, em alguns itens, como os que utilizam mão de obra considerada como de condições degradantes.
No plano interno, apesar das muitas manifestações dos membros da chamada base política do governo, inclusive líderes sindicais, vem se mostrando hábil e consciente do seu poder, conseguindo manter o seu apoio com concessões mínimas. Diante das pressões inflacionárias, vem reafirmando a importância que atribui ao seu controle, inclusive com cortes substanciais nas despesas públicas, mesmo com as dúvidas de alguns analistas. Os que convivem mais diretamente com ela recomendam que os que não acreditam nas suas posições firmes poderão se enganar, acabando por serem prejudicados. Ela vem reafirmando que persegue a redução dos juros reais na economia brasileira.
Nas suas visitas aos Estados brasileiros vem mostrando isenção partidária, lançando em Minas Gerais um importante programa para as gestantes, elogiando publicamente o governador pertencente a um partido que está na oposição ao governo federal.
Ela tem sido implacável na fiscalização dos seus principais auxiliares, até no nível ministerial, exigindo uma administração eficiente. Até na indicação de um novo membro do Supremo Tribunal Federal optou por uma feliz escolha, de um magistrado com tendência para uma rigorosa obediência aos preceitos legais, mesmo com o clamor pela imediata aplicação das normas da recente legislação chamada de Ficha Limpa, que só terá vigência nas próximas eleições.
Por tudo isto, parece de bom alvitre que se passe a acreditar na sua firme determinação, convicção adquirida com aprofundado estudo das questões que dependem de suas decisões.
29 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: 90% dos aeroportos, estradas e portos já reconstruídos, redução do consumo de energia, refluxos dos fundos japoneses | 6 Comentários »
Como o prof. Delfim Netto colocou hoje, brilhantemente, na sua coluna no Valor Econômico, os mais credenciados economistas do mundo estão sendo obrigados a rever as teorias econômicas em que acreditavam pela imposição de novas realidades, com toda a humildade. Do Japão, já chegam as notícias que 90% dos aeroportos, das estradas e dos portos afetados pelos terremotos já foram restabelecidos. Que parte do racionamento de energia elétrica tornou-se desnecessária diante da redução voluntária do seu consumo, ajudada pelo aquecimento do clima que já permite as primeiras floradas das cerejeiras.
Os seres humanos, com destaque para os japoneses, são capazes, diante das catástrofes naturais, de mudar o comportamento que pode estar consagrado nas teorias e superar rapidamente os desafios a que estão sujeitos. A realidade é muito mais complexa que as admitidas pelos acadêmicos que orientavam, entre outras, muitas instituições financeiras nas suas análises.
Os nipônicos possuem poupanças nos seus fundos operados pelas instituições financeiras, estimadas em cerca de US$ 500 bilhões aplicados mundo afora, parte significativa no Brasil, estimada pelo mercado em cerca de US$ 80 bilhões. A velocidade com que elas podem retornar para a reconstrução japonesa pode surpreender os operadores do mercado, ajudando até as autoridades monetárias brasileiras que não terão que comprar e sustentar, com elevados custos, as exageradas acumulações de reservas internacionais, mantendo o câmbio em níveis razoável.
Em apenas sete dias, esta estrada foi totalmente reconstruída
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