3 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: aprendizado no Ministério Público e na Justiça, observações de décadas da política brasileira, reações inusitadas sobre os resultados eleitorais, tentativas lamentáveis de radicalização
Acompanhando e participando diretamente do processo eleitoral no Brasil desde a década dos cinquenta do século passado, fica-se com a impressão que o atual período de aprendizado do exercício da democracia na sociedade brasileira vem apresentando indícios de algumas dificuldades que se espera sejam pontuais. É verdade que uma eleição decidida em segundo turno com pequena diferença, com algumas questões judiciais possivelmente criminais em andamentos, alguns, ainda em seus estágios iniciais, propiciam ambientes para precipitações que nem sempre contribuem para os aperfeiçoamentos democráticos desejados pela grande maioria dos eleitores brasileiros. Algumas contestações públicas aparentam inconformismos do tipo do que se observava ainda quando grupos se consideravam donos do país, e relevavam as opiniões de uma grande massa de menos privilegiados, principalmente do ponto de vista político, econômico e social.
No passado mais remoto, eram usuais as contestações de irregularidades processuais nas eleições que certamente existiam. Desde a Constituição de 1988 e com a introdução das votações eletrônicas, mesmo que venham sendo aperfeiçoadas com a inclusão das digitais de cada eleitor, os resultados aceitos até pelos concorrentes derrotados não eram contestados por pequenas minorias de inconformados com os resultados. Estas manifestações, até com demonstrações públicas, mostram que alguns segmentos dos eleitores pretendem ter uma consciência política superior a de todos os eleitores e “sabem” quais seriam os adequados para os dirigentes nacionais ou regionais eleitos.
Fernando Zamora/Estadão Conteúdo Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Estas manifestações são difusas, com participantes contrariados pelos mais variados motivos. O que assusta é que ao lado destes desejos de se apresentarem para merecer um espaço na mídia, demonstram que não estão propensos a ações políticas dentro das legislações existentes, como se fosse possível criar fatos a partir de manifestações de segmentos pouco expressivos do ponto de vista numérico, de forma suficiente para modificarem o quadro com que estão inconformados.
O que pode ser mais grave é que, por meios mais variados, os que deveriam defender a legalidade, dentro do estabelecido pelas normas e processos existentes sobre questões eleitorais, representantes do ministério público e até do judiciário, dão vazão ilegais a membros da imprensa sobre alguns depoimentos de confessos criminosos que estão se beneficiando das delações premiadas.
Pelo que se pode aprender da história é que o desenvolvimento da democracia necessita ocorrer dentro de processos definidos por representantes legítimos dos eleitores, escolhidos nas eleições. Os processos que fogem destes princípios podem ser contestados ampliando o tumultuo numa situação já difícil, em nada contribuindo para o entendimento daqueles que precisam conviver em sociedade, mesmo com os que têm opiniões contrárias.
Numa democracia, que se espera que todos desejem, não se pode atropelar estes processos que muitas vezes são demorados para que a justiça seja feita. A simples acusação não pode ser usada para a condenação de suspeitos, pois isto se aproximaria do linchamento que nem é algo civilizado.
O que se espera é que, a partir das autoridades estabelecidas, oriente-se a população sobre a necessidade de respeito às regras existentes, ainda que isto não agrade a todos. O que se espera é o predomínio da opinião da maioria, dentro de processos definidos.
Os eventuais adversários destes manifestantes acabarão por ter razão nas suas acusações de que existem alguns movimentos golpistas, se as normas existentes não forem respeitadas.
2 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: a imponente Estação de Tóquio, acompanhando a evolução da região de Marunouchi, um dos símbolos da cidade | 2 Comentários »
Dos cem anos que a Estação de Tóquio completa ainda este ano, como noticiado no The Japan Times num artigo de Satoko Kawasaki, por 46 anos tive o privilégio de acompanhar pessoalmentesua evolução, tendo revisto-a recentemente com todas as mudanças da região central de Marunouchi. De inspiração inglesa, foi projetada pelo arquiteto japonês Kingo Tatsuno e todo construído com tijolos como até hoje é preservado, com pequenas mudanças decorrentes dos estragos dos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Ela resistiu ao Grande Terremoto de 7,9 graus que arrasou a capital japonesa em 1923. Dois andares foram acrescidos há poucos anos, numa operação inusitada sem destruição do seu teto, e cerca de sua metade é hoje ocupada por escritórios, bem como pelo lendário Tokyo Station Hotel, que acomodou visitantes ilustres do governo japonês. Diariamente passam por esta estação nada menos de 4.100 trens, em diversos níveis, como os famosos Shinkansen que cobrem hoje praticamente todo o Japão.
Tendo ocupado um hotel ao lado destas linhas ferroviárias perto desta estação, minha esposa se preocupava com todo o intenso tráfego dos trens, mas, com as vedações eficientes dos edifícios japoneses, não se sente nenhum barulho ou vibração. Todo o bairro de Marunouchi foi remodelado, tanto na parte pertencente ao grupo Mitsubishi como com a construção da Prefeitura de Tóquio, que compreende um suntuoso centro cultural. Ambos os lados da linha férrea sofreram fortes remodelações com muitos prédios sendo substituídos por arranha-céus, acomodando lojas de elevado luxo e escritórios de grandes empresas internacionais. No antigo pátio ferroviário, na região da primeira estação de Shimbashi que ligava Tóquio ao porto de Yokohama, ergueu-se um novo bairro conhecido como Siodome, todo de novos, elevados e suntuosos edifícios comerciais. Quem não vai a Tóquio há mais de dois anos não reconhece mais esta região da cidade.
A estação de Tóquio por onde passam 4.100 por dia, em diversos níveis
A cúpula da Estação de Tóquio, em foto publicada no The Japan Times
Com a multidão que circula diariamente pela Estação de Tóquio, que conta também com diversas linhas de metrô, o local é considerado com um dos melhores pontos de venda do Japão. A região de Marunouchi já foi considerada um dos mais importantes centros financeiros do mundo, e somente empresas de grande prestígio internacional conseguiram alugar algum espaço. Hoje, são as grandes lojas de grifes internacionais que ocupam suas lojas, mais para marcarem a sua importância.
A agência do Banco do Brasil que se localizava nesta região, possivelmente diante dos elevadíssimos aluguéis, parece ter se deslocado para outra região mais acessível da cidade, pois não a localizei para tomar um cafezinho, pois lá estava uma placa indicando a minha presença na sua inauguração. Outras empresas brasileiras internacionais como, a Vale e a Petrobras, também mudaram de localização, ainda que para outras áreas também importantes.
Alguns analistas entendem que está havendo um exagerado boom imobiliário no Japão, pois também em outros bairros de prestígio estão sendo construídos conjuntos de assustadoras dimensões, destruindo prédios que seriam considerados pelos brasileiros como novos.
Mas os mais importantes marcos de Tóquio continuam preservados, ainda que com modernizações, exigindo os que não frequentam a cidade se atualizarem com as localizações dos pontos que desejam visitar.
31 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Política | Tags: análises distorcidas pelos desejos, necessidade de uma maior isenção nas análises dos dados, os dados divulgados pela Folha de S.Paulo
Como resultado de uma eleição democrática, algumas pessoas estão disseminando a impressão de uma profunda divisão da sociedade brasileira do ponto de vista ideológico, regional ou de situações econômicas. Os dados que estão sendo publicados pelo jornal A Folha de S.Paulo mostram que os votos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff que algumas destas ideias podem ser distorcidas, pois ela conseguiu resultados favoráveis para a reeleição em muitos segmentos onde os votos poderiam beneficiar a oposição. Na realidade, os partidos políticos não parecem refletir posições ideológicas, nem existem confrontos entre os mais privilegiados e os menos favorecidos, mostrando que até os programas sociais não tiveram a influência atribuída por muitos analistas.
O resultado mais difícil de ser explicado pelo candidato opositor é sua derrota no Estado em que governou por dois mandatos, procurando disseminar a ideia de que se tratava de um grupo de diferenciada capacidade de gestão pública. Na realidade, os eleitores brasileiros parecem votar nas pessoas que supõe conhecerem mais profundamente e nem a imprensa consegue ter a influência que julgam possuir, tanto a escrita, que conta com número limitado de leitores, como a televisiva, que reflete somente uma forma de vida que não é a do cotidiano dos brasileiros. Todos sabem que existem muitos aperfeiçoamentos políticos e eleitorais indispensáveis, mas que não aparentam ser possíveis de serem introduzidas com facilidade.
Editoria de Arte Folhapress
No fundo, muitos analistas parecem refletir mais seus desejos do que conhecimentos que são decorrentes dos dados objetivos da eleição. Não parece que as posições ideológicas estejam tão claras, pois a maioria dos partidos conta com facções que se relacionam com seus interesses mais imediatos e nem sempre do país. É preciso compreender que o atual regime vigente no Brasil não é exatamente o que estava cogitado na época da elaboração da Constituição de 1988, que era basicamente parlamentarista, mas que acabou virando presidencialista, pelo desejo de alguns dirigentes influentes da época, sem que todas as mudanças necessárias fossem feitas. A principal dificuldade consiste na Medida Provisória, instrumento eminentemente parlamentarista que se não aprovada pelo Congresso determinaria a mudança do governo, sem grandes traumas, como acontece em muitos países de regime parlamentarista.
É evidente que qualquer regime tem dificuldades para ser administrado com tantos partidos, pois não fica claro quem possui a maioria que deve governar o país, sendo que os eleitores brasileiros votam no candidato e não no partido. Também no sistema eleitoral, haveria conveniência de um sistema de barreira, pois os partidos que não conseguissem um mínimo de representantes no Congresso só poderiam ter vida regional, talvez em alguns Estados.
Temos evidentes dificuldades com o sistema federativo, que se procura atender todas as diferenças regionais que existem no país, mas o poder existente na União é grande, não havendo ninguém que é eleito para a sua defesa, tirando-se o presidente da República. Os congressistas são eleitos nos Estados.
Se existem classes econômicas que se diferenciam no país, tudo indica que os mais privilegiados são em número mais limitado, e os que elegem seus representantes são os menos favorecidos, que habitam também as periferias das grandes metrópoles. A simples introdução do sistema eleitoral distrital não parece capaz de corrigir a relação entre os eleitores e seus representantes, havendo necessidade de um sistema misto que permita que alguns representantes reflitam os pensamentos do partido, criando condições de defesa dos interesses da União.
Tudo aparenta que existem muitos aperfeiçoamentos a serem introduzidos, o que não parece refletir os interesses dos recém-eleitos parlamentares.
Análises muito simplificadas não aparentam ajudar na melhor compreensão de uma situação que parece muito mais complexa.
29 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: as impressões positivas, dificuldades com os serviços., lições de Oliveira Lima, mas também as negativas para ser justas
Já registramos neste site aspectos positivos que encontramos em Barcelona, mas, para ser justo, também temos que registrar algumas dificuldades encontradas. A economia espanhola passa por dificuldades como muitas outras europeias, com o nível de emprego relativamente baixo. Necessita das receitas que obtém com o turismo, que é importante, mesmo neste período de início do outono, quando europeus, chineses e os provenientes de outros países efetuam gastos importantes para esta economia, gerando muito dos seus empregos. Não se compreende que continue com sua proverbial forma de tratamento ríspido aos estrangeiros e até aos locais, que já faz parte de sua cultura. Poderiam empenhar-se em tratar da melhor forma possível aqueles que procuram ajudar a Espanha a recuperar sua economia, como quando o restante da Comunidade Europeia podia ajudá-la, o que se tornou difícil, pois até a Alemanha, sua locomotiva, encontra-se com suas dificuldades.
Fiz a reserva do hotel pela internet, como hoje é usual. Mas, diante dos fusos horários de uma viagem que se estendeu até o Japão, houve um erro inicial nas reservas, que foram posteriormente corrigidos. Para minha surpresa, quando cheguei ao pequeno hotel que estou utilizando, havia duas reservas de apartamentos para o primeiro dia no meu nome, e o débito das diárias já tinham sido feitas para o cartão de crédito utilizado. Em vez do funcionário corrigir o erro claro, tive que arcar com o prejuízo, ficando com um quarto vago, sem que houvesse a mínima possibilidade de entendimento razoável. Num outro incidente, de volta de um restaurante utilizando o táxi, para o pagamento ofereci uma nota, pedindo que fosse incluída uma gratificação pelo serviço. O motorista deu-me o troco menor do que o sugerido, e ainda acabei perdendo neste veículo a moedeira com alguns euros. Isto pode ser considerado um roubo, que acontece somente em países que tratam os turistas de forma negativa, como também existem na Europa.
Pequeno hotel em Barcelona com limitações nos serviços da internet
Além destas limitações, os serviços de internet são lentos e precários, como as tarefas mais simples de fornecimento de informações sobre os locais que se deseja visitar, bem como os serviços de limpeza que dependem da ajuda de trabalhadores estrangeiros, pois os idosos funcionários espanhóis parecem acomodados.
Isto se observa também nos locais turísticos, onde muitos ficam em conversas entre eles, não se incomodando muito com os turistas. Os atendimentos, como nas entradas, são demorados, compreendendo-se quando a procura pelos turistas supera a capacidade de atendimento do local. No entanto, mesmo nos horários menos procurados, ou quando se encontram bastantes vazios, estes atendimentos parecem demasiadamente burocráticos.
Os serviços de câmbio existentes são verdadeiras extorsões. Para a simples troca de um traveller check em euro chegaram a cobrar 30%, quando os bancos fazem a mesma operação com uma comissão modesta. Nos aeroportos, os câmbios não estão cobrando comissões, ainda que as taxas também não sejam nenhuma maravilha.
Os cartões de crédito que costumam ser aceitos hoje em todo o mundo, com a simples assinatura dos portadores consumidores, nem sempre são aceitos. Não se compreende como um país que já hospedou as Olimpíadas ainda conte com estas limitações, quando a receita dos turistas é importante para a recuperação de sua economia.
29 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: as iniciativas do chef Carles Abellan, diversas tendências em evolução, instalado no Hotel W, novas leituras das receitas tradicionais
Barcelona é certamente um dos centros de culinária no mundo onde existe uma grande efevercência de muitas novas tendências. Por mais que haja inovações na química envolvida nas grandes culinárias, as bases são as tradicionais, muitas que perduram por séculos e que passam por novas leituras. Fomos experimentar o restaurante Bravo, que é comandado pelo chef Carles Abellan, um dos mais badalados em todo o mundo, que está instalado no luxuoso hotel W, que conheci há décadas em Nova Iorque. Já contava com uma clientela moderna e jovem, que aceita as inovações com maior facilidade. Observa-se que muitos chefs estão nestes hotéis com seus novos restaurantes, alguns menores que são chamados “boutiques”, partilhando os riscos de um novo empreendimento. O W é dos mais destacados, com grandes dimensões, ficando instalado junto a muitas marinas, que imagino aproveitarem também os seus ricos frequentadores, bem como jovens empresários que percorrem o mundo, além de turistas interessados em conhecer as melhores coisas que podem ser usufruídas pelos seus patrimônios acumulados. Não é um estabelecimento barato, pois o luxo implica também em elevados custos.
O cardápio deste restaurante Bravo é inusitado, indo desde tapas tradicionais com leituras luxuosas, que certamente são destinadas aos que desejam passar por bons momentos, usufruindo as melhores bebidas disponíveis na qual a Espanha vem se destacando, notadamente nos seus vinhos. Lamentavelmente, por questões de saúde, não posso consumir produtos que contenham álcool, o que limita demasiadamente minhas opções, que me levam a considerar a média de muitos alimentos carregados no sal. Escolhi começar com um conjunto das três melhores ostras disponíveis na Europa, uma de Barcelona, outra da Galícia e outra considerada deliciosa do Mediterrâneo. Graúdas, saborosas, frescas, consumi-as somente com o limão. Minha esposa escolheu alguns tapas, que acompanham as bebidas e que também experimentei, todas deliciosas e criativas, de elevadíssimo padrão.
Chef Carles Abellan e parte das instalações do seu restaurante Bravo, no hotel W
Os frutos do mar na Espanha são excepcionais, apresentados frescos e com uma maciez que surpreende, sempre no ponto adequado. Os seus temperos são dignos de chefs mais renomados. Mas são também nos pratos tradicionais, como um cordeiro com molho intenso em vinho e muitas especiarias, que se observa a força da tradição.
Apesar de se tratar de um jantar completo, começando pelos tapas, algumas entradas, prato principal e sobremesa, nota-se que todos estão enquadrados no que se dispõe de melhor na estação. As formas de grelhar são impressionantes, pois as lulas, por exemplo, vêm sobre uma grelha quente de barro, no ponto correto. O mesmo aconteceu com o cordeiro, que vem num panela tradicional da Espanha, quente, em cima de suporte como de cerâmica que também o mantinha aquecido, ainda que o outono mal tenha começado na Europa e esteja muito moderado em temperatura.
O serviço é internacional da melhor qualidade, pois o prestígio do chef, que é responsável por diversos restaurantes no mundo, inclusive de culinária italiana e mediterrânea, está em jogo. Todos falam o idioma inglês correntemente, com apresentações impecáveis de elevada elegância.
Como estamos em Barcelona, os turistas são recebidos a partir das 20h locais, mas os mais acostumados com os hábitos espanhóis, a elevação da frequência começa a ocorrer depois das 21h30. Como sobremesa, tive a oportunidade de experimentar uma famosa espuma, sobre um creme tradicional de Barcelona, ao lado de um pouco de sorvete com pingos de chocolate, tudo equilibradamente decorado com uma flor.
Como evito café depois do jantar, foi-nos serviço um chá inglês com alguns pequenos pedaços de chocolate. Mesmo tendo consumido mais de 12 diferentes pratos, saímos do restaurante satisfeitos e leves. Espera-se que estas inovações cheguem rapidamente ao Brasil.
28 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: outras características, primeiras impressões de Barcelona, publicidade usando Neymar, viagem de Cingapura e Tóquio
Para um brasileiro que revê Barcelona, Cingapura e Tóquio depois de algum tempo, observa-se que a imagem do jogador brasileiro de futebol Neymar Junior tornou-se popular em todas estas cidades, sendo utilizado intensivamente e de forma eficiente como meio de publicidade. Tanto em Tóquio como em Cingapura, mesmo nos aeroportos internacionais, grandes cartazes traziam a sua figura para promover a imagem de uma grande empresa eletrônica de atuação internacional. Em Barcelona, nada mais natural que a imagem de seu clube atual de futebol utilize a camisa com o seu número, o que ocorre em maior número do que de Messi, que atua há mais tempo e já recebeu premiações internacionais em profusão. Como Neymar é mais comunicativo e apresenta elevado potencial, sua imagem é mais explorada do que dos seus companheiros. Por onde se ande em Barcelona nota-se a sua famosa camisa.
O que também surpreende em Barcelona é o atual número de motocicleta em uso. Como existe um problema de tráfego como das piores cidades do mundo, as motos estão estacionadas até em lugares indevidos, em cima das calçadas, com uma proteção mínima e o seu número surpreende a qualquer observador. Se esta cidade figura como as das mais inovadoras em gastronomia, a quantidade de lugares destinados à alimentação se destaca. E da mesma forma que em outras economias que liberaram a importação de carnes bovinas, ao lado de outras, a sua quantidade ofertada é muito elevada. Onde antes se restringiam aos vitelos que são abatidos prematuramente, ao lado dos suínos que são transformados em diferentes espécies de “jambon”, hoje se consome estas carnes bovinas importadas em quantidade assustadora.
Houve uma sensível inovação na culinária local e mundial, onde a contribuição de Barcelona e da Espanha é um destaque.
Ferran Adriá que liderou a inovação da cozinha espanhola e mundial
Todos sabem que Ferran Adria foi um grande líder que inovou a culinária espanhola e influenciou a mudança da mundial. Ele desestruturou os materiais que utilizava dando novas formas para os alimentos, o que já era feito em parte pelos chineses e japoneses há séculos.
Novas apresentações dos alimentos inovadas por Ferran Adria
Este irriqueto chef, além do seu restaurante, tinha uma espécie de escola de onde difundia as suas idéias criativas, primeiro para os outros chefs espanhóis, e depois para muitos em todo o mundo.
Muitos são os que receberam influências de Ferran Adria, ficando difícil de distinguir o que é de sua criação. Percorrendo um mercado na área tradicional da cidade de Barcelona, verifica-se a variedade de materiais disponíveis oriundos tanto da Espanha como de outras partes do mundo.
O segredo principal de qualquer cozinha é a qualidade do material que está sendo utilizado e nota-se que estão sendo oferecidos para todos os chefs que desejam trabalhar diariamente com o que melhor se encontra nestes mercados, tanto em legumes, verduras e frutas, como principalmente em peixes e outros frutos do mar.
Se a base da tradicional cozinha espanhola já impressionava, tanto pela sua qualidade e sabor destacado, não se pode negar que os navegantes espanhóis foram buscar, notadamente na Ásia e na Índia, muitos ingredientes e temperos que não estavam disponíveis na Europa. A contribuição árabe como africana também pode ser notada, ao mesmo tempo trouxeram muito novos ingredientes das Américas, que colonizaram em grande parte.
Além de sanar o problema da fome dos europeus, com um clima quase tropical, Barcelona sempre foi um dos lugares mais criativos, com figuras destacadas na pintura como Pablo Picasso e Juan Miró, que tirava partido de sua atmosfera muito clara, junto ao Mediterrâneo. E continua se destacando com o futebol.
Barcelona atual conta com seu porto coalhado de iates e navios de todo o mundo, que permitiu a consolidação de sua parte velha da cidade, bastante modificada. Conta com uma parte elevada que dispõe de vegetações e um clima ameno, que se estende pelas áreas habitadas por muitos privilegiados, e depois das Olimpíadas conta com uma parte praiana muito vasta com edificações modernas. Tudo isto, certamente, ajudou a desenvolver a sua culinária, que contou com uma população aberta às inovações, que se espera continuar evoluindo para alimentos mais saudáveis.
O que se espera é que países que se destacam também pela criatividade, como o Brasil, acompanhem estes desenvolvimentos que não se restringem somente a um setor do conhecimento, principalmente agora num mundo globalizado cheio de problemas.
26 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: ambiente agradável em Omotesando, cozinha tipo veggie com peixes, variados tipos criativos de vegetais com alguns peixes | 4 Comentários »
Percorrendo a conhecida rua Omotesando em Tóquio, considerada uma das mais luxuosas do Japão, localizamos um interessante restaurante tipo vegetariano, mas que utiliza também alguns pescados de forma muito criativa. Colhendo mais informações pela internet, verifica-se que conta ainda com mais dois estabelecimentos na capital japonesa, contando com uma rede de fornecedores de vegetais da melhor qualidade. Num jantar completo que custaria cerca de US$ 25 por pessoa, tivemos oportunidade de apreciar mais de 20 pequenas porções criativas de alimentos da melhor qualidade. Começou com uma grande espécie de salada, todos sobre gelo picado, com um molho que era mantido quente com uma espécie de pequena vela. Todos devem ser apreciados crus, saborosos e provenientes de fornecedores que mantêm um acordo com a rede destes restaurantes. Tudo da melhor qualidade, impressionante pelo sabor, notando-se que alguns devem ser criações que não se encontram no mercado, como uma abóbora de ótimo sabor, além de alguns que nós brasileiros não conhecemos.
O estabelecimento está instalado no Omotesando Hills, que é um conjunto que conta com muitas pequenas lojas, além de alguns restaurantes no terceiro piso (4th floor em japonês, pois o primeiro é o andar térreo), com vista para a rua. A frequência era de jovens, mais mulheres, como também casais com crianças, num ambiente mais propício para o consumo de bebidas alcoólicas, tudo de muito bom gosto. Muitos japoneses preferem o balcão, ainda que mesas estivessem também disponíveis para quatro pessoas, além de um sofá que também acomodaria de forma confortável quatro clientes.
Seguiu-se um caldo agradável, certamente de alguns vegetais, como uma pequena sopa, difícil de identificar todos os seus ingredientes. O conjunto de pratos, a parte principal, tinha cerca de 15 pequenos recipientes, todos com pequenas porções, basicamente de vegetais como base, mas temperados e cozidos com bom equilíbrio, alguns com pequenas porções de pescados.
O conjunto deve ser apreciado como um “slow food”, pois os sabores são diferentes, notando-se que os legumes utilizados são de boa qualidade. Para a época, todos os ingredientes estavam relacionados com o outono, com os produtos mais convenientes para a estação.
Como costumam ser as refeições japonesas, os finais eram compostos de uma sopa tipo “misso giru”, usando soja temperada, com outros ingredientes criativos. Também havia uma espécie de caldo, além de algumas conservas de vegetais. Foi servido um arroz muito bem temperado com um pescado da época, como se fora um risoto.
Para finalizar, foi servida uma sobremesa consistente de frutas, com uma espécie de gelatina de arroz, embrulhado numa folha de bambu, do melhor sabor, tudo com pouco açúcar. Junto, outro tipo de chá, aparentando ser de frutas, muito agradável.
Este jantar acaba sendo uma festa, e apesar da quantidade, deixa o cliente como se tivesse jantado de forma muito leve. E, pelo preço que não conta nem com serviço ou imposto em separado, acaba sendo muito barato para quem está acostumado com o padrão paulistano.
O serviço foi muito agradável, pois uma garçonete explicava cada prato e o gerente era muito simpático, dando a impressão que procuravam cativar para este tipo de cozinha.
Perguntei se entendia que o jantar foi muito rico, pois muitos produtos são do outono, e que serviam no pico do inverno. Foi me explicado que eram os produtos de origem vegetal que podem ser servidos nesta estação, frescos, além de algumas conservas que costumam ser ótimas no Japão.
Examinando na internet sobre esta rede de restaurantes vergie, notei que havia um artigo publicado no jornal The Japan Times, referente a outra estação do ano. É impressionante a diversidade da cozinha japonesa, tanto pelas regiões como nas diversas estações do ano.
25 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dificuldades dos estrangeiros com o metrô de Tóquio, distâncias internas das estações e de suas ligações, linhas de diferentes companhias sem compatibilização
Os sistemas adotados pelas redes de metrô de muitas cidades do mundo são diferentes, sendo que o de Paris parece ser o mais fácil de ser utilizado até pelos estrangeiros. O de Tóquio, em que pese sua extensa rede, apresenta dificuldades acentuadas para os que não estão habituados ao seu uso, sendo mais complexo para os estrangeiros e os idosos. Estando próximo da estação de Ichigaya, em Tóquio, pouco afastado do centro da cidade, entrei e adquiri imediatamente um bilhete para chegar à estação de Shimbashi, no centro de Tóquio. Quando tinha que pegar uma linha que faria conexão para o destino pretendido, depois de percorrer a pé mais de 400 metros, fui surpreendido pelo bloqueio mecânico do bilhete usado e me socorri do funcionário que estava no local. Para minha surpresa, fui informado que a linha era de outra empresa componente da rede, e o bilhete adquirido poderia ter o custo devolvido, se voltasse os mais de 400 metros percorridos. Na realidade, existem empresas que não permitem o intercâmbio, dificultando os usuários em Tóquio.
Tendo adquirido nova passagem, ingressando na estação correta fui surpreendido novamente que teria que percorrer mais de 600 metros para chegar à entrada da linha que faria a conexão para o destino desejado. Já cansado, pois tinha feito antes diversas caminhadas para assistir a uma exposição num museu e percorrer um templo sobre um calor considerável, acabei desistindo e solicitei um funcionário para indicar-me a saída mais rápida para tomar um taxi. O caminho para tanto era bastante tortuoso, mas consegui sair na estação de Nagatacho, ao lado do gabinete do primeiro-ministro. Acabei perdendo tempo e dinheiro, por causa da falta de uma conexão adequada das linhas de metrô, e falta de uma informação para os usuários, principalmente estrangeiros.
Pequena parte do sistema de metrô de Tóquio
Como Tóquio deverá sediar as Olimpíadas de 2020 espera-se que estes tipos de informações para os estrangeiros sejam melhorados, pois as informações em inglês somente estão disponíveis nas regiões mais frequentadas por eles, não podendo se contar com elas em toda a cidade.
Compreende-se que o Japão está com limitações de recursos humanos para o atendimento de muitos serviços, mas estas informações podem ser substituídas por sistemas como o da internet. Ainda que as conexões de diversas linhas de metrô sejam sempre difíceis, quando as distâncias internas das estações são acentuadas, parece que alternativas devem ser informadas.
O Japão necessita dos turistas para ativar a sua economia, e os problemas atualmente enfrentados por Hong Kong já aumentaram a vinda de turistas chineses que invadem as lojas e os restaurantes japoneses. Com sua demanda, ajudam a compensar as vendas que não estão tão ativas diante da elevação do imposto de venda para os consumidores locais.
Como um país de tradição, que conta com tantos lugares de interesse turístico, parece importante que as autoridades locais providenciem a superação das dificuldades, hoje sentidas pelos estrangeiros.
25 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: aumento do consumo de carnes, consequências perigosas, redução relativa dos peixes e frutos do mar
Para os visitantes estrangeiros que conhecem razoavelmente o Japão, nota-se uma grande mudança nos hábitos alimentares em função das facilidades de importações de carnes de diversos países, notadamente da Austrália. Os japoneses costumavam consumir muito mais peixes e frutos do mar, de onde extraiam as proteínas necessárias, complementados por condimentos de soja que evitavam os efeitos indesejáveis do colesterol. Na atual volta ao Japão, nota-se uma elevação substancial do consumo de carnes bovinas nas mais variadas formas, quer como churrascos, filés, grelhados variados como nos chamados teppan ou na forma de shabu-shabu e sukiyaki, com elevado teor de gordura. Tudo indica que os preços baixaram, e estes produtos que eram considerados no passado de luxo, com tarifas de importação elevadas, agora se tornaram de acesso popular.
No entanto, é preciso constatar que a constituição física dos japoneses difere dos ocidentais, tendo o aparelho digestivo mais longo em cerca de um metro. Este consumo excessivo de carnes bovinas gordurosas acaba propiciando problemas circulatórios como enfartes, além de tenderem ao aumento do câncer no aparelho digestivo. Ao mesmo tempo, nota-se que o consumo de neutralizantes das gorduras danosas como a soja em seus variados tipos de consumo está se reduzindo relativamente, com o aumento de produtos de trigo, quer na forma de pães como de massas. Tudo isto é uma novidade para os japoneses e se bem balanceados não apresentariam problemas, mas o que se teme é o exagero.
Carnes bovinas gordurosas como o famoso Kobe beef
Carne bovina grelhada está em alta no Japão
Ninguém pode ser totalmente contrário à importação de carne bovina pelos japoneses, mas parece que está se verificando um excesso no seu consumo. Quando se percorre regiões de restaurantes como em Tóquio, nota-se que os estabelecimentos oferecem este produto nas formas mais variadas e em grande número.
Existem algumas churrascarias brasileiras, mas o que se nota são grelhados de diversos tipos, apreciando-se os que estão acompanhados de camadas de gordura, que não são propícios para os consumidores japoneses. Como eram caros no passado, e agora estão acessíveis para todos, muitos pratos são oferecidos, notadamente, com as formas de preparo de outras partes do mundo.
Os japoneses costumavam consumir pequenas porções nos sukiyaki ou no shabu-shabu, mas nota-se que o número de grelhados, fritos em óleos ou com molhos tipo madeira dos franceses, entrou em moda a ponto dos consumidores de proteínas de peixes terem dificuldades para encontrar os estabelecimentos que os ofereça.
No passado, procurava-se neutralizar parte da gordura com nabos ralados, gengibres e outros ingredientes, ou acompanhados de verduras. Mas nota-se que está se consumindo as carnes, acompanhados de forma ocidental, com batatas ou massas de trigo, temperados de forma que não facilita a digestão pelos orientais.
Nota-se que muitos artigos científicos estão sendo disseminados por autoridades médicas alertando sobre os riscos do consumo exagerado, mas parece que a publicidade acaba sendo mais forte, como se vê na televisão.
25 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a construção civil no Japão, construção como medida de ativação das economias, excessos difíceis de serem controlados
O que vem acontecendo em diversas economias do mundo é o uso abusivo do setor de construção civil procurando ativar as economias pelos seus impactos variados por diversos setores. Isto se observa tanto nas economias industrializadas como nas emergentes. Na China, todos sabem que o setor de construção, tanto dos edifícios comerciais como residenciais, além dos projetos de melhoria da infraestrutura, principalmente de transportes, vieram sendo utilizados com substanciais incentivos tanto nacionais como locais, inclusive financiamentos do mercado paralelo. Como as performances dos dirigentes públicos sempre foram avaliados para promoções no Partido Comunista pelo crescimento econômico, muitos utilizaram a construção para obter ascensões desejadas. Muitos destas construções estão hoje subutilizadas, pois houve um excesso de investimentos visando ganhos de capital até pelas famílias, mas como alguns não apresentam a adequada viabilidade econômica ou possibilidade de aluguel ou revenda, e os tomadores de empréstimos não têm condições de honrar os empréstimos contraídos. Hoje, fica claro que parte do crescimento econômico chinês só pode ser mantida, pois alguns destes empréstimos eram, na realidade, subsídios governamentais, não apresentando condições de serem honrados.
O mesmo acontece nas economias de mercado do tipo capitalista. Costumam existir períodos em que há uma generalizada ideia de que espaços adicionais são necessários para atender as economias projetadas com crescimentos que nem sempre se verificam. No Japão atual, depois da implantação da chamada Abeconomics do atual governo, tentando sair de um longo período de deflação e sem crescimento econômico ao que se acrescenta um decréscimo populacional, a construção civil passou por um verdadeiro boom recente e atual com investimentos privados. Mas, como a economia não vem crescendo como se esperava, ao mesmo tempo em que a mundial apresenta um crescimento modesto, tudo indica que o volume das novas construções acabou sendo exagerado para as necessidades. Muitos imóveis não tão velhos acabaram sendo derrubados para a construção de empreendimentos ousados de grandes dimensões, como pode ser observado nos mais variados lugares, inclusive na capital Tóquio.
Centenas destas novas construções podem ser vistas em Tóquio
Até analistas japoneses conscientes estão veificando que estas novas construções em Tóquio e outras cidades japonesas podem gerar problemas, quando estiverem prontas, o que ocorre com grande velocidade. As tecnologias japonesas disponíveis, além de resistentes aos terremotos, utilizam estruturas pré-fabricadas que permitem que grandes edifícios sejam concluidos num prazo curto quando comparado com outras partes do mundo, notadamente no Brasil.
Como o custo da mão de obra no Japão é elevado, a construção civil, além dos materiais pré-fabricados, é intensiva em equipamentos. Por toda a parte, os visitantes de Tóquio notam construções gigantescas, quando já existem espaços abundantes, e ao mesmo tempo nota-se que o número de compradores das lojas já diminuiram. Sente-se que podem ocorrer dificuldades com esta bolha imobiliária, difícil de ser absorvida por uma economia que cresce modestamente, com redução da população. Mas, estas tecnologias poderiam ser aplicadas em países emergentes, que ainda contam com espaços para o desenvolvimento, como no caso brasileiro, com grande eficiência, custos baixos, economia de energia e de recursos humanos.