31 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: ausência de economistas, comparações internacionais, ineficiência e falta de recursos, pesquisa de opinião pública, um importante balanço
Foi publicado um importante suplemento da Folha de S.Paulo sobre saúde no Brasil, resumindo as informações divulgadas e discutidas num seminário promovido pelo jornal que reuniu importantes participantes envolvidos com o setor, autoridades como dirigentes de entidades, inclusive acadêmicos. A pesquisa de opinião pública foi efetuada pela Datafolha, contratada pela Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, e fornece dados relevantes sobre os pontos de vista da população que precisam ser bem estudados. Quase da metade dos brasileiros considera que a saúde é o principal problema que enfrentam no Brasil (45% em 2014), superando em muito os de segurança, corrupção, educação, desemprego e fome, posição que vem se repetindo desde 2008. 62% avaliam a saúde no país ruim ou péssima, notadamente no sistema público.
Apesar da generosa Constituição de 1988 estabelecer que a saúde seja oferecida gratuitamente de forma universal para toda a população por intermédio do SUS – Sistema Único de Saúde, não se estabeleceu claramente a fonte dos recursos necessários. Assim, 54% das despesas de saúde continuam a sendo arcadas pelas famílias e empresas, principalmente pelos planos privados, que são considerados de qualidade regular por só 42% dos pesquisados. Predominou o sonho que bastava estabelecer constitucionalmente esta disposição que o Estado teria a capacidade de gerar os recursos indispensáveis, sem que se desse conta que ele teria que retirar estes recursos da população, pois só se pode transferir recursos e não criá-los. Hoje, o seminário reconheceu que estes recursos são as limitações da saúde, mas como os economistas estão desmoralizados, não se providenciou sequer a sua contribuição para procurar equacionar a questão.
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28 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: o Brasil antes das dificuldades relacionadas com a Petrobras e pesquisas de opinião pública, últimas considerações de um correspondente, uma avaliação otimista da China | 4 Comentários »
Mesmo que existam posições ideológicas com as quais nem todos concordem com o The Economist, a maioria dos analistas e seus leitores admitem que suas análises são qualificadas, tanto que conta com um invejável prestígio internacional. O seu correspondente sobre assuntos econômicos na China, depois de uma estada de quatro anos naquele país, escreve um estimulante artigo mostrando que esta segunda economia do mundo, que conta ainda com uma renda per capita modesta, apresenta características e paradoxos nem sempre notados pelos que vivem no exterior, denotando um otimismo acima da média sobre o seu futuro, em que pesem os grandes ajustamentos que estão se processando na China. Como um contraste, a revista publica dois artigos sobre o Brasil, referindo-se ao projeto que estabelece a constituição da internet no país, bem como a nova classificação de risco divulgada pela Standard & Poors, antes mesmo dos problemas relacionados com a Petrobras e as divulgações das novas pesquisas de opinião que registram significativa queda com relação ao governo Dilma Rousseff. Outros paralelos podem ser efetuados para comparações mais justas em países emergentes.
Comparações são feitas da China com outros asiáticos, como o Japão e a Coreia do Sul, mostrando que a China ainda terá que superar problemas para passar a uma economia desenvolvida. Menciona-se constantemente o que alguns denominam a armadilha da renda média, ainda que seja inadequada e sugira certo determinismo que não parece existir. O que seria interessante observar é que a China conta com uma elite de dirigentes extremamente preparada, capaz de elaborar em conjunto uma estratégia invejável para a superação de seus problemas. Ainda quando não se falava deste assunto no exterior, diagnosticaram a necessidade de profundas reformas internas para passar a depender mais das indicações do mercado e do potencial da demanda do país e não tanto do mercado externo que se informa no artigo não tem a relevância atribuída internacionalmente.
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27 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: notícia que percorre o mundo, novo julgamento, o mais longo prisioneiro condenado à morte
Os jornais japoneses como os mais importantes no mundo noticiariam que foi libertado Iwao Hakamada, 78 anos, que deixou a Casa de Detenção de Tóquio. Ele ficou 48 anos preso por ter sido condenado à morte, sendo 30 anos numa solitária. Evidentemente, sua saúde mental está abalada depois de tanto tempo em condições precárias, e o juiz decidiu que as provas apresentadas não eram consistentes, pois os exames atualmente disponíveis de DNA comprovaram que o sangue encontrado supostamente em suas roupas não tinha correspondência com os de suas supostas vítimas. Levanta-se a suspeita que muitas provas que foram apresentadas pela promotoria foram inadequadas.
Este lamentável episódio, que mancha a justiça japonesa, deve ser um forte argumento para a campanha da eliminação das condenações à morte nos países que ainda mantêm penas desta natureza. Afirma-se que nos últimos anos este prisioneiro nem recebia visitas dadas as suas precárias condições mentais. Ainda que o Estado japonês venha a ser condenado pesadamente por todos os danos causados a este cidadão, nada poderá compensar por estas falhas. Ainda que a justiça de cada país tenha suas normas estabelecidas em sua legislação, depois de quase 50 anos parece difícil que novos julgamentos sejam providenciados. Se ele tivesse sido executado, não haveria nenhuma condição para a revisão do seu lamentável caso.
Iwao Hakamada foi libertado depois de quase meio século. Foto: The Yomiuri Shimbun
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26 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: deslocamentos para conhecimentos além dos jogos, o beisebol e a culinária regional, preferência dos astros
Um artigo publicado por Steve Trautlein no The Japan Times informa sobre as promoções que estão sendo efetuadas no campeonato nacional de beisebol no Japão. Como muitas partidas são realizadas pelas diversas cidades japonesas, aproveitam-se as mesmas para atrair o público oferecendo culinárias regionais e as de preferência dos principais astros, tanto para os torcedores locais como aos visitantes. Como também diversos astros japoneses estão jogando no exterior, principalmente nos Estados Unidos, algumas estreias deles acabam provocando o aluguel de uma grande aeronave para promoverem também o turismo dos torcedores para cidades como Nova Iorque.
Uma partida disputada em Hokkaido, no norte do Japão, acabou num verdadeiro festival culinário com 18 pratos diferentes, utilizando as matérias-primas locais, bem como as especialidades pelas quais aquela região é mais renomada. Eram macarrões em caldo com espetinhos de carne, vieiras cozidas com arroz no vapor, cordeiros grelhados, croquetes de carne e camarão apimentados, Também em Yokohama ficaram conhecidos como os voltados para gourmets com petiscos chineses (a cidade tem a maior Chinatown do Japão), além dos frutos do mar, arroz com enguias, rosbifes e costeletas famosas nas cidades vizinhas. Na realidade, estava se ligando o esporte à promoção do turismo.
Cheap and tasty local food at Yokohama Stadium, home to the DeNA BayStars. | © YDB
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26 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: as experiências passadas, chineses procuram entendimentos com os ocidentais, russos decidiram pela confrontação
Muitos fatores influenciaram na dissolução da antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Há analistas que admitem a importância da corrida armamentista estimulada pelos Estados Unidos que exauriram os recursos da Rússia e seus aliados. A atual decisão de Vladimir Putin com relação à Ucrânia parece pouco racional, pois a Rússia e seus atuais aliados já estavam enfrentando grandes dificuldades econômicas, aparentando uma estagnação e não existem recursos russos suficientes para assistirem alguns países vizinhos que gostariam de continuar com suas benesses. Os recursos energéticos atuais precisariam continuar a abastecer a Europa para continuar a gerar divisas que são insuficientes até para a manutenção dos seus elevados custos, até porque alternativas estão sendo desenvolvidas. O desenvolvimento tecnológico que vem ocorrendo naquela parte do mundo não apresenta o mesmo dinamismo que do Ocidente, ao mesmo tempo em que novas necessidades sociais deverão ser acrescentadas, não havendo nenhum espaço para uma corrida armamentista, que seria desastrosa. Muitos recursos da região procuram migrar para o exterior, no que estão sendo dificultados, pois muitos decorrem de atos que aparentam corrupção.
Os chineses que vieram crescendo rapidamente nas últimas décadas, ampliando seus orçamentos militares ainda modestos, parecem conscientes que seria uma loucura se envolver numa corrida armamentista com o Ocidente. Tentam encontrar mecanismos que permitam conviver com os Estados Unidos e seus aliados, ainda que existam sempre os que pensam ao contrário. A China é ainda um país de renda per capita baixa e necessita de profundas reformas que estão tentando para vincular mais o seu desenvolvimento com a expansão do seu mercado interno, reduzindo a dependência do comércio exterior, que não apresenta mais o dinamismo que contava no passado. Sua política parece mais pragmática e certamente decorre de intensas discussões internas com sua elite dirigente, de excepcional qualidade.
Vladimir Putin Xi Jinping
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26 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: baixa prioridade para o comércio exterior, coluna de Delfim Netto no Valor Econômico, necessidades de acordos, novas posições com relação a OMC
O professor Delfim Netto vem insistindo que o Brasil, que tinha um volume de comércio exterior comparável com a China e a Coreia do Sul há algumas décadas passadas, com sua política de comércio exterior obtusa e de pouca visão por um longo período, acabou se distanciado dos países emergentes que conseguiram aproveitar as oportunidades para promover o seu desenvolvimento. Sua coluna no Valor Econômico volta a insistir no assunto, mostrando que existem sinais para mudanças que decorrem da capacidade dos diplomatas brasileiros, como o embaixador Roberto Carvalho de Azevêdo, atual presidente da OMC – Organização Mundial do Comércio, que está ressuscitando este organismo que estava à beira da inanição. Ele insistiu na sua candidatura e conseguiu ser eleito diante dos seus méritos pessoais, e está conseguindo com que a Rodada de Doha tenha uma nova oportunidade no cenário internacional.
Enquanto o mundo disseminou acordos bilaterais e multilaterais para superar as dificuldades de um acordo global, o Brasil manteve-se isolado carregando um pesado fardo representado pelo MERCOSUL e seus participantes pouco racionais, presos a preconceitos ideológicos onde os parceiros não conseguem superar as dificuldades para um acordo pragmático como, por exemplo, com a Comunidade Europeia. Ainda que qualquer acordo também traga alguns inconvenientes para alguns setores, o importante deve ser o conjunto da economia que certamente se beneficia com a redução das restrições de comércio internacional. A esperança é que, ao lado do esforço global com a OMC, o Brasil volte a ter umas atitudes agressivas em outros acordos regionais, superando os obstáculos apresentados pelos parceiros do MERCOSUL, que certamente acabarão sendo arrastados pela liderança brasileira.
Roberto Carvalho de Azevêdo, presidente da OMC
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24 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: defasagens, diagnósticos enviesados, limitações das informações disponíveis
Nas economias que sofrem mudanças sensíveis e rápidas, as informações sobre suas evoluções são estratégicas tanto para os diagnósticos das autoridades responsáveis pelas formulações das medidas de política econômica como para todos os agentes que tomam decisões importantes em função das mesmas. No entanto, por mais que os fornecedores se esforcem para fornecê-las rapidamente com a maior precisão possível, há que se admitir que existam grandes limitações sobre as mesmas. Mesmo com as melhores técnicas de censos ou amostragens as grandes massas de informações que acabam sendo agregadas, acabam exigindo tempo para que elas sejam completadas e se tornem disponíveis. As melhores técnicas para abreviar as suas elaborações, mediante usos de amostras estatisticamente estratificadas, estão, no mínimo, sujeitas às margens de erros, sendo que muitas aproximações chamadas proxies também são utilizadas.
Estes e outros problemas existentes geram uma disputa sobre os os verdadeiros significados das tendências econômicas, com as autoridades atribuindo aos fornecedores primários as informações vieses no sentido do seu agravamento. Ao mesmo tempo, a tendência do público é no sentido de entender que as autoridades procurem interpretações que lhes sejam mais favoráveis. Como exemplo, o ministro Octávio Gouveia de Bulhões tinha a impressão que os empresários exageravam nas indicações das dificuldades, ao mesmo tempo em que o setor privado atribuía ao governo um exagerado conservadorismo no reconhecimento de quadros recessivos ou de inflações crescentes, gerando um clima de desconfiança recíproca que em nada ajudava a economia. Como uma das consequências, a economia brasileira aprofundou a sua recessão no final de 1966 para começo de 1967 mais do que necessário no quadro difícil em que se encontrava.
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24 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no Nikkei Asian Review, disputa com os tradicionais norte-americanos, o caso do Vietnã, presença no Sudeste Asiático
Um interessante artigo de Elizabeth Rosen foi publicado no Nikkei Asian Review informando que empresas do Vietnã estão disputando o mercado regional dos consumidores jovens com as tradicionais de fast food norte-americanas. Com o aumento da intensidade dos usos dos meios eletrônicos nos mercados emergentes do Vietnã como em países vizinhos do Sudeste Asiático, empresas locais estão oferecendo refeições rápidas, ainda que com preços um pouco mais elevados, mas preservando os hábitos locais. Os restaurantes que servem enrolados, como os conhecidos rolinhos primavera, com ingredientes variados, ou tipos de macarrões asiáticos com sabores diferentes, dos tipos que ficaram conhecidos no Brasil como yakissoba. Suas instalações são hoje mais claras e limpas, fugindo dos tradicionais, ainda que muitos temperos sejam carregados nas pimentas.
Uma das cadeias destes restaurantes tem o nome de Wrap & Roll, e outra Nem Gion, e fazem uma leitura mais moderna dos tradicionais no Vietnã e na região do Sudeste Asiático, que também estão sendo apreciados no Ocidente. Mas, no momento, os planos cobrem cidades como Ho Chi Minh, Danang e Nha Trang, estendendo-se por Cingapura, Malásia, Filipinas e Taiwan. Estas culinárias são consideradas mais saudáveis e leves, ainda que mesmo o fast food do tipo servido no McDonald e KFC também procura se adaptar às novas preferências dos consumidores.
Customers enjoy a meal of spring rolls at a branch of Wrap & Roll in Hanoi. Photo: Nikkei Asian Review,
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22 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: aceitações difíceis, consagrados nas provas cegas, empenho de longa data dos japoneses, noticia do Bloomberg sobre os single malts japoneses
Sempre que se fala que os whiskies single malt japoneses estão superando os escoceses, naturalmente as notícias são recebidas com alguns risos denotando dúvidas, notadamente dos apreciadores tradicionais destas bebidas. Um artigo está publicado no site da Bloomberg, escrito por Elin McCoy, informando que em provas cegas estas bebidas japonesas estão conseguindo resultados surpreendentes, o que já vem acontecendo há alguns anos. Em 2012, o Yamazaki, de 25 anos de envelhecimento, bateu 300 concorrentes do mundo numa prova cega internacional. Já existem bares nos Estados Unidos, no Reino Unido e em Hong Kong que contam com estas bebidas, com preços que dispararam no mercado.
O artigo informa o que já é conhecido dos que acompanham estas evoluções. Em 1918, um químico japonês viajou para a Escócia para estudar a sua produção, e voltando para o Japão associou-se com o empresário Shinjiro Torii, fundador da Suntory, que recentemente adquiriu o controle do Beam, fabricante do consagrado Bourbon Jim Beam dos Estados Unidos. Mas também existem outros produtores japoneses que estão evoluindo na produção de whisky de qualidade, como a Nikka. Todos sabem que os japoneses estão entre os grandes consumidores destas bebidas, ao lado dos tradicionais do Japão como o Shotchu e o saquê.
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22 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: diferenças, família de políticos no Japão, política externa do Gaimusho, posições políticas do governo
Todos sabem que existem famílias de políticos com longa tradição em diversos países do mundo. No Japão, o atual primeiro-ministro Shinzo Abe é sobrinho neto do famoso primeiro-ministro Nobusuke Kishi, que teve importância fundamental no pós-guerra, e o seu pai Shintaro Abe também foi importante ministro dos Negócios Estrangeiros, todos tradicionais no atual LDP – Partido Liberal Democrata. E o seu irmão mais novo, Nobuo Kishi, é o atual vice-ministro de Negócios Estrangeiro, o famoso Gaimusho, que estabelece a política externa no Japão, contando com quadros competentes de carreira. Ele declarou que o nacionalismo japonês não está em crescimento na política externa daquele país, apesar da declaração de muitos políticos expressando estas posições, conforme artigo no site da Bloomberg.
É preciso compreender que no Japão a burocracia é muito forte e composta de funcionários de carreira, e ainda que os políticos façam declarações que sejam importantes eleitoralmente, a política externa é do Estado, pouco dependente do governo que esteja no poder no momento. Como muitas declarações dos políticos japoneses provocaram tensões com os seus vizinhos chineses e coreanos, exigindo até um pedido de moderação dos Estados Unidos, os diplomatas japoneses estão fazendo um esforço no sentido de minimizar os estragos que foram efetuados na opinião pública, principalmente regional. A entrevista concedida no Gaimusho pelo vice-ministro Nobuo Kishi procura consolidar a política do Japão, como Estado.
Shinzo Abe Nobuo Kishi
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