Artigos Sobre a China e Suas Consequências
30 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: muitas possibilidades de evolução estão abertas, o otimismo do The Economist., os acontecimentos atuais propiciam variados artigos sobre a China, um apanhado de fim de semana no The Wall Street Journal
Muitos são os importantes artigos publicados sobre a China e seus recentes problemas que disseminam preocupações por todo o mundo, com destaque para os países que mantêm intensos intercâmbios com os chineses, como o Brasil. Escolhemos análises publicadas por importantes veículos de circulação internacional, como o The Wall Street Journal e o The Economist, para fazer as nossas considerações.
Capa do The Economist sobre o assunto
Não poderia haver outra reação diante de um quarto de século de crescimento expressivo da economia chinesa, que chega perto de assumir a liderança mundial desempenhada pelos Estados Unidos até agora. Também seu atual presidente Xi Jinping chegou a uma concentração de poder como poucos líderes daquele país, que conquistou em tão pouco tempo, superando Deng Xiaping e chega a ser comparado até com Mao Tsetung. Seria pouco imaginável que isto continuasse por muito tempo, sem que reações naturais ocorressem, notadamente no interior da própria China.
As surpreendentes flutuações nas cotações das bolsas chinesas, com aumento que chegaram a 150% em cerca de um ano, seguido de sua queda brusca mesmo com medidas radicais tomadas pelas autoridades chinesas, devolvendo quase a totalidade do ganho até então registrado. A desvalorização do Yuan surpreendeu o mundo diante da significativa desaceleração da economia local. E à recente agressividade geopolítica da China somam outros ingredientes que provocam fortes efeitos internacionais e internos. O setor político que se supunha consolidado passa por riscos, agravado por uma campanha de combate à corrupção. Há possibilidade de que outras correntes políticas tenham espaço para conviver com a comandada por Xi Jinping, o que pode ser interessante.
Quando muitos entendiam que a China já tinha atingido uma consolidação a caminho de tornar-se um país desenvolvido, ela sofre até com a credibilidade dos dados estatísticos do país colocada em dúvida. Muitas são as possibilidades do que ocorrerá com a China no futuro, este gigante que exerce um papel relevante no cenário mundial globalizado, mas certamente com maior importância no seu mercado interno do que nos investimentos e exportações.
O Wall Street Journal publica um longo artigo de Orville Schell, é o diretor do Center on US – China Relation at the Asia Society e autor de um importante livro sobre a China. Ele entende que esta crise é crítica para os atuais líderes, mas não chega a afetar o sistema vigente na China. É algo semelhante a que chega o The Economist, registrando que atual crise é significativa, mas a China continua como a segunda economia do mundo atrás dos Estados Unidos, mantendo suas características, mesmo que ambos tenham posições ideológicas críticas. Certamente, o seu crescimento será o normal das economias emergentes, deixando de ser a locomotiva do mundo.
Nós já registramos neste site que a China e a sua população têm uma característica de valorizar a procura de qualquer vantagem, multiplicando suas tendências dos ciclos econômicos, uma marca do capitalismo difícil de ser controlada, principalmente quando os chineses que operam no exterior daquele país são relevantes. Mas acaba estimulando regulações governamentais como as que está se observando em muitas economias, sem contar com as mesmas transparências. Acaba acrescentando riscos para os investidores chineses, sendo que muitos que ingressaram recentemente no mercado de capitais estão arcando com prejuízos.
O Brasil diante do relativo volume de suas relações com a China encontra-se entre os seus parceiros que mais sofrerão com as consequências dos ajustamentos, que já está ocorrendo com a contração de suas importações de minérios e commodities agrícolas. Mas também se beneficiará da redução de exportações chinesas de produtos industriais de baixos conteúdos tecnológicos, ainda que sofra com a concorrência de outros produtos como o aço.
Tudo isto força o Brasil a formular a sua política econômica externa de forma menos dependente da chinesa, ainda que a mundial também não esteja nas melhores condições. De qualquer forma, os brasileiros terão que voltar a intensificar seus relacionamentos com o exterior, começando pelo câmbio, mas adotando uma série de medidas de política comercial externa, principalmente para seus produtos industriais, para voltar a contar com um crescimento razoável.
Em termos mundiais, a China terá que contar com mecanismos de cooperação inclusive com os Estados Unidos, pois no mundo globalizado todos dependerão dos outros, pois novos temas estão sendo incluídos na pauta, como o estabelecimento das economias sustentáveis.
São, portanto, mudanças que deverão ocorrer em muitos países, e suas implementações demandarão um bom tempo, dentro do quadro do que se chama novo normal, com muitas flutuações que continuarão ocorrendo nas principais variáveis que influenciam na economia e na política.