A Conveniência de Manter o Pé no Chão
23 de outubro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as necessidades básicas dos seres humanos., consciência das dimensões, empolgação exagerada com as startup
Muitos se empolgam com os exemplos que decorrem do Vale do Sicílio, onde algumas pessoas dotadas de elevada criatividade acabam conseguindo iniciar novos empreendimentos com boas perspectivas, utilizando inovações tecnológicas, normalmente relacionadas com o uso da informática, enriquecendo rapidamente. Mas esquecem milhares de outros que fracassaram em iniciativas semelhantes, ou com resultados modestos.
Mapa da região do Vale do Silício na Califórnia, USA
Fui convidado pelo State Department do governo dos Estados Unidos para conhecer parte daquele fabuloso país em torno de 1987, com uma bolsa que me dava inteira liberdade para escolher onde desejava visitar, acompanhado por um scort providenciando tudo que precisava. Entre minhas escolhas estava o Estado da Califórnia, que na ocasião tinha a dimensão econômica do Brasil. Entre outras localidades daquele Estado norte-americano estava San Francisco e a sua região, que chegava até Sacramento, a pequena capital. Era uma das regiões mais latinas daquele país, com grandes universidades como a da Califórnia, com as unidades de Los Angeles e Berkeley, e de Stanford, muito conhecida pelas suas pesquisas. Nas suas proximidades, tendo como centro Palo Alto, desenvolveu-se posteriormente o famoso Vale do Silício, a maior concentração do mundo de startups de grande sucesso.
Isto não foi consequência de um plano, mas decorreu da concentração de instituições que favoreciam a criatividade relacionada ao desenvolvimento de altas tecnologias. Os seus portadores, mesmo os mais modestos, acabaram atraindo investidores desejosos de participar dos seus projetos, sendo que muitos proporcionaram resultados significativos. Acabou ocorrendo um processo de acumulação destas iniciativas, que terminavam estimulando-os entre si, com uso de muitas inovações.
Tenta-se copiar este processo inusitado em outras localidades, que ainda não ganharam a importância nem reuniram todas as condições favoráveis para tanto. Mas é preciso notar que estas acumulações de esforços também culminaram em muitos fracassos, ou em resultados mais modestos, não podendo imaginar-se que a maioria obteve o sucesso destacado enquanto os que não proporcionaram retornos estão esquecidos, mesmo tendo deixado lições das causas que não permitiram bons resultados.
Ainda que a comparação seja cruel, acaba parecendo uma loteria onde poucos conseguem resultados expressivos e uma multidão continua apostando na baixa eventualidade de sucesso. É evidente que não depende somente da sorte, mas do acúmulo de muitos trabalhos de qualidade. Mas deve-se entender que os sucessos são em número limitado, ainda que causem muitos impactos.
A dificuldade é para a continuidade das empresas que resultaram em sucesso, quando seus criadores já não estiverem presentes. Criar as condições para a sua sustentabilidade depende da formação de uma equipe que reconheça os talentos e eles tenham condições de transformar suas atividades em algo rentável. Seria desejável que estas brilhantes ideias estejam facilitando a eficiência na produção dos bens indispensáveis para as atividades humanas, como alimentação, moradia, vestuário, traslados, que exigem produções físicas com a ajuda da informática e todas as suas possibilidades, como o armazenamento de volumosas informações nas nuvens.
O que parece indispensável é reconhecer que a democracia facilita a liberdade de iniciativa propiciando o aproveitamento das boas ideias, e que a existência de um mecanismo de mercado parece promover a eficiência desejada, com a transparência de muitas ideias. Mas a tendência é que estas informações acabem se concentrando em poucas mãos, notadamente as mais estratégicas, que é um começo do fim, pois acaba estimulando a concentração que não facilita a democracia.